Emprego & Formação

O Elogio da Loucura

Por a 18 de Setembro de 2009 as 5:22

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Sendo o principal flagelo da crise o desemprego, parece-me importante alertar para que o combate do mesmo é um dever de cada um de nós. O paradigma de trabalho mudou e há medidas que podem ser tomadas não apenas pelo Estado ou Governo. Todos devemos contribuir para a manutenção das empresas e emprego. O exercício será o de basicamente pensar se queremos tentar ultrapassar o momento económico em equipa?
Ter emprego sempre se assumiu como um bem, actualmente é inestimável. Porém nem todos pensam nisto e pretendem passar pelo actual momento económico lamentando apenas o sacrifício de alguns colegas de trabalho. Todos sabemos da dificuldade da generalidade dos profissionais em admitir cortes na remuneração. Sobretudo ao nível dos cargos médios e de topo, será que com estes cortes não teríamos evidentes ganhos económicos e ganhos ao nível da solidariedade entre colegas e aumento do sentimento de partilha?

Há casos exemplares, à parte todos os cortes energéticos e ambientais ainda possíveis pela nossa falta de consciência ecológica, em que administradores e outros cargos superiores cortam 10% dos salários e congelam prémios, apenas para tentar passar a crise em equipa, evitar o desemprego e apontar ao regresso aos lucros. Pelos menos tentam.

Mas esta é a excepção. O comum é o despedimento generalizado e mecânico da maioria dos dispensáveis e alguns indispensáveis independentemente do deve e do haver das empresas. Acontece que o mesmo é passado por osmose, e, frequentemente e facilmente, se prescinde de colaboradores apenas porque todos o fazem. E se todos o fazem parece mal não o fazer também.

Os indispensáveis são habitualmente profissionais especializados e concorrem directamente com os polivalentes. Os polivalentes, como podem desempenhar diversas funções, são, no futebol e profissionalmente, muito apreciados. Ainda que mal, resolvem diversos problemas e são os preferidos pelos nossos patrões nos tempos que correm. Mas não pensemos que o nosso patronato não escolhe os melhores, escolhe. E obriga muitas vezes os especializados a virarem polivalentes.

É difícil ver um avançado virar médio defensivo ou um especialista virar polivalente. E também o contrário.

Erasmo no seu Elogio da Loucura dizia “colocai um filósofo num festim, e o seu silêncio melancólico ou as suas perguntas deslocadas perturbarão a cada instante a alegria dos convivas”. Este alargamento de funções forçado é algo a que temos assistido nem sempre com os melhores resultados.

O maior elogio vai para os que recrutam e absorvem os especialistas do mercado. Existem empresas a reforçarem-se em qualidade neste momento no mercado. E sem tirarem partido da situação económica débil de alguns candidatos. Conseguem assim profissionais credenciados e conseguirão fazer a sua retenção nos melhores dias que virão porque foram quem os respeitou também financeiramente em momento difícil. Neste aspecto apenas conseguirão esta retenção aquelas empresas que efectivamente mantiveram ou reforçaram o valor de mercado do profissional. Aqueles que se sentiram explorados sairão na primeira oportunidade.

Em épocas onde muito se fala de responsabilidade social das empresas outro aspecto que nos parece ignorado por parte destas empresas desempregadoras será a imagem destas no mercado. Poderemos somar a isto a dificuldade em alavancar o negócio em época de retoma por falta de pessoas, por falta de confiança dos profissionais em ingressar nestas organizações. Para estas será tanto mais difícil recrutarem quanto mais profissionais despeçam no actual momento. A justificação e a forma como o fazem será seguramente levada em linha de conta pelos futuros recrutas e pela opinião pública em geral.

A justificação inequívoca dos cortes em praça pública parece-me vital para legitimar e minimizar qualquer acção de despedimento ou alteração drástica nas empresas. São muitas as mudanças, os cortes, os despedimentos, as não progressões, pelo que a frontalidade deve estar mais presente do que nunca no quotidiano comunicacional das empresas. Há algo bastante simples, e pouco feito, que aparentemente não tem qualquer efeito mas na prática tem e pouco custa – o envolvimento das pessoas. Qualquer profissional envolvido é mais facilmente um promotor da mudança, aumentando o seu comprometimento com a empresa.

Em tempo de redefinição de modelos económicos e valores aconselhamos a humorada leitura estival do livro já mencionado, ensaio percursor da reforma protestante que culminou com a reforma da estrutura de crenças e formas de vida na época. Precisamos de fazer algo semelhante, também nas empresas.

Nuno Veríssimo, Senior Consultant & Head of Business – Porto – Hays Engineering & Construction, [email protected]

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