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10 perguntas para entender a economia circular

Por a 24 de Outubro de 2017 as 11:43

A economia circular é uma abordagem estratégica aos negócios que permite conciliar os desafios económicos com os ambientais e sociais. Quer pôr fim ao ciclo “extrair – fabricar – consumir – deitar fora” para um modelo no qual quase todos os materiais condenados ao lixo podem dar origem a novos produtos

  1. O QUE É?

A economia circular, ou de baixo carbono, é um modelo mais sustentável de produção, distribuição e consumo que equilibra o relacionamento entre as empresas, os consumidores e os recursos naturais do planeta. Pressupõe a transição de um modelo linear, que assenta na ideia de que há uma disponibilidade ilimitada de matéria-prima, para um modelo circular, no qual os resíduos são transformados em potenciais subprodutos ou outros materiais, que promovam a reutilização, recuperação e reciclagem. Em linguagem mais simples, é uma abordagem económica mais orientada para a sustentabilidade, que promove a gestão racional dos recursos materiais – energia, água e utilização do solo – no qual quase todos os materiais são reaproveitados para dar origem a um novo produto.

  1. POR QUE SURGE ESTE CONCEITO AGORA?

Basicamente, são três os principais motivos. O primeiro tem a ver com as estimativas de aumento da população. Se, atualmente, 7,2 mil milhões de pessoas habitam o planeta, as projeções apontam que em 2050 seremos 10 mil milhões. A continuar este ritmo, daqui a 33 anos são necessários três planetas para satisfazer as exigências de produção e consumo. Por outro lado, o preço das matérias-primas é elevado e volátil. A título de exemplo, a União Europeia (UE) tem capacidade para produzir 9% das 54 matérias-primas essenciais, tendo que importar as suas necessidades do exterior. Por último, a escassez de recursos naturais. A utilização abusiva do homem de recursos como a água, os alimentos, o petróleo, alguns metais como o cobre e o lítio por exemplo, o carvão e o gás natural, entre outros, está a levar ao esgotamento dos recursos naturais.

  1. QUAIS OS PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DA ECONOMIA CIRCULAR?

A economia de baixo carbono traz vantagens para todos: benefícios para o ambiente, poupanças económicas para as empresas e, consequentemente, para os consumidores. Este modelo contínuo promove a eco inovação, novas oportunidades de negócio, produtos e serviços, além de permitir manter os produtos, materiais e recursos por mais tempo na economia, reduzir a dependência de combustíveis fósseis, diminuir as emissões de carbono e minimizar a produção de resíduos, melhorando a competitividade das empresas e promovendo a criação de emprego.

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  1. COMO IMPLEMENTAR?

Assim como os benefícios são para todos, também cada um de nós tem o seu papel na mudança de paradigma, desde os governantes, através das políticas públicas, passando pelos empresários, que implementam os modelos de negócio e adotam as tecnologias, até aos consumidores, a quem cabe a decisão de escolher o produto. Concretamente nas empresas, a economia circular pode ser aplicada à cadeia de valor, ao design dos produtos, aos modelos de negócio, às formas de consumo, às competências dos recursos humanos e ao marketing.

  1. O QUE É A SIMBIOSE INDUSTRIAL?

A simbiose industrial tem lugar quando uma empresa partilha um serviço com outra empresa ou quando uma indústria fornece a outra com uma atividade diferente um resíduo que se transforma num subproduto. Ou seja, empresas de diferentes setores trocam materiais, partilham energia residual ou serviços ou reutilizam águas tratadas, gerando benefícios para todos os intervenientes. No caso dos resíduos, a simbiose industrial procura em lugar de produzir resíduos reinseri-los na cadeia produtiva como subproduto ou matéria-prima.

  1. QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES?

Há setores que pelas características da sua atividade a economia circular faz parte do dia-a-dia e outros que ainda têm um longo caminho a percorrer. De acordo com as empresas, associações e outras entidades ouvidas pelo HIPERSUPER, o financiamento, a política fiscal e o enquadramento legal são as principais dificuldades na implementação de projetos circulares. Para contornar a primeira dificuldade é imprescindível a ajuda do setor financeiro para capacitar as empresas de meios financeiros que permitam o desenvolvimento de novos produtos e modelos de negócio ligados à sustentabilidade. Por outro lado, ao definir políticas públicas de incentivo à circularidade o Governo daria um sinal claro à banca e às empresas de que esta é uma prioridade para todos.

Por último, a questão das dificuldades legais. “São grandes, desde logo pela morosidade dos processos de desqualificação dos resíduos, quer pela via do fim do ‘Estatuto de Resíduo’ quer pela via da qualificação como subproduto, mas também pelas dificuldades de determinação de conceitos e de elegibilidade das qualificações, o que associado à permanente evolução e diversidade – o que é resíduo para uns pode não ser para outros – tornam esta tarefa de difícil concretização”, explica Ivone Rocha, Of cousel da Telles de Abreu, responsável pela área de Ambiente, Energia e Recursos Naturais.

Sustentabilidade

  1. HÁ PROGRAMAS DE FINANCIAMENTO PARA PROJETOS CIRCULARES?

Sim. A saber: Política de Coesão; Programa para o Ambiente e a Ação Climática (LIFE); Programa para a Competitividade das Empresas e PME (Cosme); Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos (FEIE); InnovFindo Banco Europeu de Investimento (BEI); Horizonte 2020 para 2016-17- “Indústria na Economia Circular”; Portugal 2020 – POCI – Compete 2020; Portugal 2020 – POSEUR.

  1. PORTUGAL JÁ TEM UMA ESTRATÉGIA PARA A CIRCULARIDADE?

Sim. O Plano de Ação para a Economia Circular (PAEC) foi apresentado a 8 de junho e esteve em consulta pública até 2 de outubro. É um modelo estratégico de crescimento e investimento que assenta na eficiência e valorização dos recursos e na minimização dos impactes ambientais. O documento surge à luz dos compromissos internacionais de Portugal, como o Acordo de Paris, os objetivos de Desenvolvimento Sustentável e as metas da EU. E elege como campos de atuação as “Zonas Económicas Sustentáveis” através da reformulação dos princípios de gestão e da promoção das simbioses industriais e de cidades e empresas circulares.

  1. QUAIS AS METAS DEFINIDAS PELA UE ATÉ 2020?

O impacto da economia circular na UE está estimado em poupanças de 600 mil milhões de euros, cifra que representa 80% do volume de negócios da UE (estima-se que as transações comercias na região gerem um desperdício de 600 mil milhões de euros por ano), na criação de 170 mil empregos diretos no setor da gestão de resíduos e na redução de entre 2 a 4% das emissões de carbono. Daqui a 13 anos, a economia circular deverá representar 8% do Produto Interno Bruto da UE.

A economia circular está na agenda da “Estratégia Europa 2020” que pretende nessa data alcançar uma taxa de reciclagem de resíduos de 50%. A produtividade de recursos deverá acelerar 30% até 2030.

  1. QUAL O PAPEL DA DISTRIBUIÇÃO NA DINAMIZAÇÃO DA ECONOMIA CIRCULAR?

Pelo seu papel privilegiado junto do consumidor final, a Distribuição Moderna pode desde logo ajudar a democratizar as práticas “separar, reciclar e reutilizar”. Representado 33,4% do consumo privado em Portugal (GfK), o retalho tem um papel determinante na promoção da sustentabilidade através da oferta que disponibiliza, da forma como faz a gestão do negócio e da sua operação, assim como dos meios que utiliza na distribuição dos produtos. Para que um fabricante seja 100% sustentável, o processo de distribuição até ao consumidor final também tem de o ser.

Fontes: BCSD Portugal; Smart Waste Portugal; Telles de Abreu I Advogados; Plano Nacional para a Economia Circular

*Texto originalmente publicado na edição de outubro do Jornal Hipersuper, integrado num dossier sobre Economia Circular

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