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“Enquanto ficares à espera ninguém te pode ajudar”, por Pedro Fernandes (Edigma)

Por a 30 de Abril de 2013 as 11:31

Por Pedro Fernandes, Marketing Manager da Edigma

A “Guerra dos Cérebros” é um prestigiado evento internacional, com a chancela da IBM, no qual estudantes universitários de todo o Mundo têm cinco horas para resolver problemas complexos através da programação e do desenvolvimento de software.

São utilizados exemplos reais, como “optimizar padrões de tráfego aéreo e sincronizar o tráfego aéreo com o tráfego terrestre num aeroporto”. Este evento enquadra-se na iniciativa “IBM Smarter Planet” cuja lógica subjacente passa por utilizar o conhecimento existente de ciência e tecnologia para resolver problemas reais e tornar o Mundo um local melhor.

Na edição de 2012 venceu a Universidade de S. Petersburgo. A lista dos 10 melhores classificados, por cidade da Universidade/País é a seguinte: S. Petersburgo/Rússia; Varsóvia/Polónia; Moscovo/Rússia; Shangai/China; Minsk/Bielorússia; Zhongshan/China; Cambridge/EUA; Hong-Kong/Hong-Kong, China; Waterloo/Canada; Moscovo/Rússia.

O domínio por parte de Universidades Russas e Chinesas é assustador. Assustador, no sentido de ir totalmente contra a percepção (errada) que a maioria da população Ocidental tem em relação à supremacia dos seus sistemas de ensino. E para nós Portugueses é um enorme grito de alerta sobre a posição do nosso ensino no panorama Mundial. A posição em que estamos actualmente e a posição em que estaremos daqui a 10 anos.

A nossa competitividade económica actual é por demais conhecida. A nossa competitividade económica futura está intimamente ligada à qualidade do nosso ensino actual. É necessário não só melhorar drástica e urgentemente a qualidade do nosso ensino mas sobretudo adequá-lo à realidade do Mundo em que vivemos.

Não sendo apologista de “receitas milagrosas” que de uma assentada resolvem todos os problemas do Mundo, ainda assim considero que há medidas objectivas que, quando bem aplicadas, produzem um impacto importante e significativo. E deixo aqui a minha sugestão: introduzir o ensino de programação de software no 2º ciclo do ensino básico. Juntamente com a Matemática, Português e Inglês, a Programação é uma competência absolutamente indispensável para que as nossas gerações possam ser competitivas a nível Mundial.

A tecnologia há muito que deixou de ser uma indústria. A tecnologia é transversal a qualquer sector de actividade, todas as indústrias incorporam tecnologia na sua actividade e cada vez mais os avanços tecnológicos que surgem constituem vantagens competitivas para essas mesmas indústrias. É fundamental um conhecimento profundo e um à vontade com a tecnologia, e quanto mais cedo começar essa iniciação mais bem preparadas estarão as nossas gerações para resolver os problemas reais e acrescentar valor no mercado de trabalho. Porque indivíduos com competências que acrescentam valor traduzem-se na geração de riqueza para a economia. Longe deveriam ir os tempos em que se perdia tempo (e dinheiro!) a ensinar às nossas crianças (eu incluído) a trabalhar madeira, barro e têxtil.

Não pretendo que passemos a ser um País de programadores. Ensinamos Matemática e Português ao longo de todo o ensino obrigatório e não é por isso que somos um País de matemáticos ou de escritores. O que se pretende com essas disciplinas é que os nossos alunos cheguem à idade adulta com competências ao nível da linguagem e do cálculo que são fundamentais numa sociedade evoluída. O mesmo se passa com a programação. Não há-de faltar muito tempo para que uma oficina onde ninguém perceba de programação seja uma oficina onde os mecânicos não conseguem reparar os carros. É neste sentido que o Mundo caminha, e é para esse Mundo que devemos preparar as nossas gerações. Não se trata de vencer um concurso patrocinado pela IBM. Trata-se de assegurar que as nossas gerações são formadas com competências suficientes para poderem viver com condições que durante muito tempo demos como adquiridas, mas que na realidade não o são, como temos vindo a constatar. A Rússia e a China estão a fazê-lo. E nós? Nos versos imortais de Jorge Palma, “Portugal, Portugal / Enquanto ficares à espera / Ninguém te pode ajudar”.

 

 

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