Emprego & Formação

Um (Re)Começo?

Por a 2 de Novembro de 2009 as 2:00

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Vivemos numa realidade económica e social cíclica, em que o impacto do económico no social tem cada vez maior relevância. A conjuntura recente obrigou a vários ajustes por parte das empresas, sendo que os recursos humanos terão sido uma das faces mais expostas e visíveis deste fenómeno.

Estas oscilações cíclicas mexem com as vidas de quem perde o emprego e volta ao mercado, em busca de novas oportunidades e um reingresso que se quer rápido, no mercado de emprego.

Tal como na Bolsa de valores, o trabalhador ao estar no desemprego arrisca-se a uma desvalorização rápida da sua experiência profissional em termos salariais, transitando para uma bolsa de candidatos que numa conjuntura adversa como a actual, é bastante competitiva, dada a oferta de mão de obra disponível.

Esta concorrência, mais visível nalguns sectores mas transversal a toda a economia, leva a que os desempregados tenham de equacionar uma redução da sua massa salarial, em troca de um reingresso na vida activa.

Na prática, a realidade é esta: A grande maioria dos profissionais que estão no desemprego, irão reentrar no mercado com salários mais baixos, mesmo que para as mesmas funções e níveis de responsabilidade.

Denota-se abertura negocial da maioria dos desempregados para reduzir o seu salário, sendo dada primazia para o retorno à actividade e optimismo em relação a um cenário futuro de “acerto” salarial de acordo com a melhoria das condições económicas.

Esta reacção é óbvia, considerando as necessidades básicas do ser humano.

Mas olhemos para a outra face da moeda: A grande maioria das empresas aproveita esta dinâmica de mercado (em baixa) para admitir colaboradores com valores salariais abaixo da média do sector ou mesmo da organização, considerando a maior disponibilidade negocial dos candidatos. Tal situação não deve ser vista como oportunismo, mas sim como uma forma de admitir determinados quadros que pelo seu valor actual no mercado, noutras situações estariam acima do orçamentado para essa posição.

Contudo, este cenário é temporário, tal como esperamos seja a conjuntura macro-económica.

Com a alteração do ciclo e o crescimento dos mercados a nível global, a balança oferta -procura de emprego irá novamente oscilar para o lado dos trabalhadores, sendo muito mais evidente no que toca a funções altamente especializadas e qualificadas, bem como quadros de topo.

Assim, dentro de algum tempo iremos assistir a uma nova reviravolta no mercado, considerando que com a oferta a aumentar, os profissionais desempregados e qualificados escasseiam e os empregados tentarão recuperar e/ou melhorar a sua situação profissional e salarial.

Neste cenário futuro, como deverão as empresas agir?

A meu ver, as direcções das empresas terão de analisar quais as formas de assegurar a retenção destes profissionais, seja por uma actualização salarial de acordo com a produtividade da função/área de negócio, seja por definição prévia de planos de evolução e carreira de acordo com objectivos.

Capacidade de visão, planeamento e políticas de desenvolvimento dos recursos humanos são a chave para a prevenção, considerando contudo que a estabilidade e segurança do posto de trabalho são neste momento, as principais preocupações e prioridades dos trabalhadores à escala global. As empresas que conseguirem transmitir confiança aos colaboradores e também uma comunicação clara das políticas internas de desenvolvimento de carreira, terão a sua tarefa facilitada.

O perigo da desconsideração e consequente desvalorização de profissionais em situação de desemprego poderá trazer um perigo à gestão de empresas: Um desequilíbrio crescente das políticas de equidade salarial dentro de uma determinada empresa; Uma dificuldade acrescida na criação de economias de escala e crescimento de determinadas áreas, motivada pela descriminação da população potencialmente candidata a uma vaga; Uma dupla redução do mercado do talento, já de si diminuto, com consequente perda de competitividade e produtividade em áreas críticas.

Existem estudos sobre a relação entre os picos de desemprego e a utilização dos mesmos por parte de determinadas empresas para fins excessivamente economicistas e de desinvestimento no seu capital humano.

Mas da mesma forma – da maior à mais pequena empresa – também existem estudos que referem a continuação deste ciclo como francamente prejudicial para o seu sucesso. A capacidade de uma empresa mudar profundamente e reestruturar-se deverá dar azo à sua capacidade de investir novamente, acreditar, arriscar, formar e inovar. O hábito do pessimismo é nocivo e contagioso ao próprio sucesso.
João Maia, Manager – Lisbon, Hays Engineering & Construction, [email protected]

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