Outras Opiniões

O que podemos esperar de 2008

Por a 8 de Fevereiro de 2008 as 11:30

luis ferreiraO ano de 2008 iniciou num ambiente de forte incerteza económica na sequência de uma situação ambígua, por um lado uma economia mundial a crescer a bom ritmo, catalisada pelo desempenho das economias emergentes e por outro, pelos problemas derivados da instabilidade sentida no sistema financeiro, com epicentro nos EUA e ondas de choque a alastrar um pouco por todo o mundo.Para perceber melhor a situação do sistema financeiro interessa em primeiro lugar referir que durante algum tempo assistimos a uma bolha no crédito, observada pelos baixos spreads que se assistiam e que foi originada em certa medida pelo fácil acesso a financiamento por parte das instituições financeiras, através da securitização. De uma forma simplista, estas originavam créditos e transferiam para fora do balanço de uma forma sucessiva até ao ponto em que o mercado já não estava disposto a aceitar e/ou até ao ponto em que o colateral começou a perder valor (imobiliário americano).

Em segundo lugar, perceber até que ponto é que a crise que vivemos será restritiva o suficiente para ter efeitos económicos graves está dependente da capacidade de as instituições financeiras inovarem e/ou terem acesso a linhas de financiamento. A este respeito interessa referir os investimentos que têm vindo a ser realizados no Citigroup, na Bear Stearns ou na Merril Lynch por parte de investidores estrangeiros. Contudo, as questões a colocar são: “Será suficiente?” e ” A que custo está a ser realizado?”.

Em terceiro lugar, se é bem verdade que a politica monetária tem vindo a perder alguma eficácia na sua capacidade de afectar o produto das economias, já que as instituições financeiras detinham alternativas de financiamento suportadas no mercado de titularização de créditos, também é verdade que exerce maior influência nas taxas de crédito hipotecário pelo aumento da profundidade de mercado. Curiosamente, este é um dos aspectos com maior impacto na evolução do mercado imobiliário e que pode alterar a tendência negativa no preço dos imóveis nos EUA.

Em quarto e último lugar interessa referir que os Bancos Centrais parecem ter consciência de que novos instrumentos de política monetária são exigíveis face à evolução dos mercados de capitais e da engenharia financeira – a este respeito saliente-se o papel que têm realizado, não tanto ao nível das taxas de juro, mas sim de suporte de liquidez, com novos instrumentos como por exemplo o novo sistema de leilão da Reserva Federal Americana.

Perante este cenário pode-se referir que as economias mundiais estão neste momento a ser “atacadas” num dos seus principais motores de desenvolvimento, o sistema financeiro. A confiança neste sistema é fulcral para o desenvolvimento de todas as economias e o facto de estar neste momento a ser posta em causa coloca para segundo plano o processo de convergência económico entre os países emergentes e os mais desenvolvidos.

Desta forma, os consumidores americanos estão na primeira linha para sofrer os efeitos de um contexto que engloba, para além de um ambiente mais restritivo no acesso ao crédito, elevados preços dos combustíveis, desvalorização do seu património imobiliário e mais recentemente, os primeiros sinais de um aumento do desemprego. Apesar da boa saudade financeira do tecido empresarial americano, esta situação pode em última análise levar a um período de recessão económica nos EUA, com consequências importantes para o resto do mundo.

Ou seja, é preciso ter consciência de que os consumidores americanos poderão não ser os únicos a sofrer o impacto dos desenvolvimentos dos últimos seis meses, mas também outras zonas geográficas poderão vir a suportar um contexto económico claramente menos favorável do que o observado nos últimos anos. A questão que se coloca a este respeito é até que ponto a economia mundial consegue crescer com o contributo negativo dos EUA. Efectivamente esta situação é inédita na história económica recente, já que nunca os países emergentes gozaram de tão boa saúde financeira, que para muito contribuiu o boom no preço das commodities durante os últimos anos.

As perspectivas para 2008 dificilmente poderiam ser tão difíceis e incertas para todos os agentes económicos. A nível empresarial as correctas decisões de gestão, uma visão estratégica centrada no longo prazo e a manutenção de uma estrutura flexível contribuirão definitivamente para a criação de valor e ajudar contornar um eventual período de maior turbulência económica.
Luís Ferreira

Analista da Personal Value 

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