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Dupla jornada, machismo estrutural e falta de confiança: as principais ameaças à liderança feminina

Por a 8 de Março de 2024 as 11:49

Leny Kyrillos e Cássia Godoy, autoras do livro “Sou Mulher, Sou Líder”, editado pela Escolar Editora em Portugal, enumeram, em entrevista ao Hipersuper, os desafios da liderança no feminino e as melhores estratégias para lidar com as contrariedades

A liderança feminina tem um estilo? Tem um perfil próprio?

Embora não seja possível fazer generalizações, uma vez que cada líder tem peculiaridades independentemente do género, a liderança feminina costuma ser identificada cientificamente pela presença forte de habilidades comportamentais (soft skills) que facilitam a gestão e o relacionamento entre as pessoas, e que atualmente vem sendo cada vez mais valorizadas. Mulheres tendem a ser mais empáticas, demonstram mais cuidado com o outro, são melhores ouvintes, se comunicam gerando mais conexão, tendem a ser mais acolhedoras, flexíveis e demonstram mais facilidade para trabalharem em equipe.

Que diferença pode fazer uma liderança feminina na gestão de uma equipa em relação a uma liderança masculina?

Trabalhar em um ambiente em que a empatia e o acolhimento fazem parte da cultura corporativa, pode melhorar, e muito, a motivação da equipe e inclusive a produtividade da empresa de uma forma geral. Diferentes estudos já comprovaram que um ambiente de trabalho pluralizado e diverso faz com que as companhias sejam mais prósperas. Portanto, ter mulheres em cargos de liderança permite ambientes mais acolhedores e saudáveis! Isso repercute num nível maior de satisfação dos colaboradores, maior motivação para o trabalho e consequentemente mais lucro!

Que principais obstáculos enfrentam atualmente as mulheres para chegarem a posições de topo nas empresas?

Os principais obstáculos são o machismo estrutural (que ainda faz com que mulheres sejam consideradas menos capazes e, por isso, recebam uma remuneração inferior até quando ocupam os mesmos cargos dos homens); A dupla jornada (que impõe às mulheres a imensa maioria do cuidado com os filhos, com os mais velhos da família e a casa – além do trabalho na empresa); E, também, um nível baixo de autoconfiança que pode ter sua origem nas situações desfavoráveis envolvidas nos dois fatores anteriores, e que deve ser combatida, pois pode trazer comportamentos de autossabotagem.

Quais as melhores estratégias para lidar com as resistências de diversa ordem que enfrentam mulheres em cargos de chefia?

Algumas estratégias das mais eficazes incluem a participação de outras mulheres: quando elas se apoiam explicitamente são menos comuns as interrupções por homens em reuniões, o “roubo” da autoria de ideias e projetos e se fortalece o pensamento de que todas merecem estar ali e avançar dentro da empresa. É fundamental também que a mulher desenvolva o autoconhecimento, buscando recursos para identificar suas características positivas, para maximizá-las e colocá-las a serviço dos outros, e seus pontos de melhoria, para aprimorá-los, desenvolvendo-se continuamente.

Uma vez em posições de liderança, que desafios enfrentam as mulheres? O poder delas é mais questionado do o que deles? A mulher tem de dar mais para ser reconhecido o seu talento?

Uma vez estabelecidas na posição de líderes, um dos grandes desafios é manter a sua própria essência. Muitas vezes, na tentativa de se aproximar do estilo mais masculino de chefia, a mulher perde a oportunidade de se colocar de forma autêntica. No passado, algumas mulheres entendiam que deviam imitar uma postura mais agressiva para parecem firmes. Hoje, essa valorização das características femininas nos permitiu mostrar e contribuir com nossos atributos.

Daqueles que são os exemplo de mulheres bem sucedidas profissionalmente, com provas dadas em diversas áreas, que competências, atributos e valências são determinantes para conquistar cargos de liderança e chefia?

A autoconfiança e o autoconhecimento são atributos determinantes. Algumas de nossas entrevistadas para o livro sabiam que os obstáculos a serem enfrentados eram circunstanciais enquanto sua determinação e capacidade não estavam em questão. Além disso, líderes com trajetórias consolidadas chegaram a esse lugar porque não tiveram medo de reafirmar (com palavras e ações) que tinham a clareza de que mereciam cada avanço na própria trajetória.

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