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O consumidor e o talento: eixos centrais para desenvolvimento futuro do setor de bens de consumo

Por a 28 de Agosto de 2023 as 10:02

Daniela Lourenço, Brand Leader, Manpower

Por Daniela Lourenço, brand leader na Manpower

O mercado atual caracteriza-se por uma elevada velocidade de disrupção, com novas necessidades e expectativas, por parte consumidores que exigem às empresas capacidade de adaptação por forma a dar resposta aos desafios emergentes. Esta é uma realidade transversal a diferentes empresas e mercados, sendo que há setores cuja atividade os coloca permanentemente “na crista da onda” da inovação. Um desses setores é, sem dúvida, o setor de bens e serviços de consumo.

Se o foco no cliente sempre esteve presente na atuação das empresas deste setor, a velocidade de inovação e crescente digitalização tornam hoje a client centricity uma prioridade estratégica, com as empresas a procurarem garantir aos consumidores um serviço com mais valor, personalização, conectividade e uma melhor experiência.

Ao mesmo tempo, este é um setor fortemente afetado pela incerteza económica, a par da instabilidade geopolítica e dos desequilíbrios nas cadeias de abastecimento, e vincadamente condicionado pela acentuada escassez de talento, que reflete a necessidade de as organizações encontrarem perfis com novas competências e capazes de responder a todos estes desafios.

Perante este contexto, é necessário que as empresas percebam quais os efeitos palpáveis que impactam o setor de bens e serviços de consumo e de que forma é que precisam de adaptar os seus modelos de negócio e gerir o talento. Neste sentido, emergem agora sete principais tendências que começam já a marcar o presente e o futuro do setor, segundo o mais recente estudo ManpowerGroup Global Insights.

Atenção às expectativas dos consumidores

As expectativas dos consumidores são cada vez mais elevadas e, por isso, temáticas como a responsabilidade social corporativa, a sustentabilidade, a conveniência ou a transparência assumem um papel fundamental nas suas decisões de compra. Crescem também as exigências relativamente a uma experiência de consumo mais digital, personalizada e em constante melhoria, com o comércio eletrónico a ampliar cada vez mais a sua quota no mercado retalhista.

Paralelamente, o serviço e a experiência do cliente tornam-se cada vez mais centrais na estratégia das empresas e uma oportunidade de diferenciação. De facto, de acordo com a Qualtrics, 36% dos consumidores afirmam estar insatisfeitos com uma experiência recente de serviço ao cliente. Neste contexto, a procura pelo talento ou parceiros externos adequados para melhorar continuamente a experiência digital do consumidor, revela-se prioritária para as empresas do setor.

Os consumidores querem mais

As marcas estão a responder à incerteza global aproximando-se dos consumidores e focando-se nas suas necessidades não satisfeitas, como forma de criar valor. Esta estratégia está a impulsionar o desenvolvimento de modelos de negócio omnicanal e DTC (direct-to-consumer), que aumentam a proximidade com o cliente. Este mesmo objetivo está também transformar a forma como os dados dos consumidores são utilizados e a promover a inovação ao nível dos canais. Para concretizar estas iniciativas, intensifica-se a procura por talento com competências capazes de as suportar, como é o caso do desenvolvimento de aplicações, da ciência de dados, da logística ou do e- commerce.

A transformação do retalho

A inovação revela-se, cada vez mais, um fator essencial para as empresas de retalho, que procuram oferecer experiências omnicanal sem atritos e experimentar com novos formatos. Aumenta a penetração do comércio eletrónico e introduzem-se novas tecnologias que proporcionam ao cliente uma experiência de compra sem filas ou necessidade de passar pela caixa, combinando carrinhos inteligentes, sensores avançados, câmaras e a possibilidade de pagamento móvel. Esta mudança de paradigma está a impactar as necessidades de competências, diminuindo a procura por trabalhadores da linha da frente e aumentando a necessidade de profissionais nas áreas da logística e distribuição, da manutenção ou do serviço ao cliente. Ao mesmo tempo, é cada vez mais importante o investimento em programas de upskill e reskill que permitam aos trabalhadores do setor ampliar o seu conjunto de competências e adaptarem-se às novas funções que surgem.

Mais sustentabilidade

Nos últimos anos, os negócios verdes têm vindo a emergir em praticamente todos os setores, com destaque para o de bens de consumo, com a proposta de alternativas mais sustentáveis face aos produtos tradicionais. Os modelos de subscrição em vez de compra estão também a aumentar, tal como a apetência pela compra de produtos em segunda-mão, alimentando a necessidade de talento nas áreas do ecommerce, mas também na logística inversa ou no recondicionamento de produtos. Este movimento nos consumidores está também a aumentar também a pressão sobre as marcas estabelecidas, para que ampliem os seus esforços de sustentabilidade, o que resulta numa intensificação da procura por green jobs, na industria, na manutenção ou na gestão dos programas de sustentabilidade.

Fabricar, mas mais depressa

De acordo com a McKinsey, mais de 10% dos processos de fabrico atuais serão substituídos por fabricação aditiva (impressão 3D/4D) até 2030, uma tecnologia que permitirá aos fabricantes oferecer mais rapidamente novos produtos e uma maior personalização

A evolução tecnológica está assim a ganhar protagonismo, também ao nível da fabricação, com as empresas a procurar alavancar a tecnologia para ultrapassar desafios persistentes, como o aumento dos custos das matérias-primas, as perturbações na cadeia de abastecimentos e a escassez de talento. Aumenta, por isso, o investimento em automação, inteligência artificial, fabricação aditiva, big data analytics, conectividade e robótica, permitindo às empresas maximizar a produtividade e reduzir custos.

Esta ‘indústria 4.0’ implica necessariamente um aumento na procura por talento técnico qualificado, capaz de suportar os novos processos de fabrico, bem um maior investimento na capacitação dos atuais profissionais, com vista a desempenharem as novas funções criadas pela automatização.

Em breve, num país perto de si

As disrupções ocorridas durante o período da pandemia vieram pôr em causa décadas de globalização no que respeita às cadeias de abastecimento, verificando-se agora um aumento das operações de nearshore e re-shore, por parte das empresas, no intuito de minimizar os efeitos da incerteza geopolítica e o seu impacto nas cadeias de abastecimento. Como consequência, a procura de talento, na indústria transformadora está a aumentar, mas agora em áreas mais perto dos principais mercados de consumo da Europa e da América do Norte.

Agir enquanto a oferta se mantém

Apesar deste aumento na procura, as empresas enfrentam grandes desafios na atração de talento, com 77% dos empregadores do setor de bens de consumo, a nível global, e 86% em Portugal, a afirmarem ter dificuldades em encontrar os profissionais qualificados de que necessitam.

A escassez de talento está assim a tornar-se o ‘novo normal’, aumentando a urgência das empresas melhorarem a sua proposta de valor, ao mesmo tempo que apostam na capacitação dos seus atuais colaboradores, para poderem atrair, desenvolver e fidelizar o melhor talento.

O setor de bens de consumo está em transformação e é fundamental que as empresas deste setor se consigam reinventar. Desenvolver maior resiliência nas cadeias de abastecimento, maximizar a produtividade através de novas tecnologias e conduzir uma ação significativa nos objetivos ESG (environmental, social e corporate governance) são algumas das estratégias que as organizações devem adotar para se conseguirem destacar num mercado altamente competitivo.

Antes, porém, devem ultrapassar um desafio muito humano: têm de encontrar uma forma de atrair e reter o melhor talento, para tornar tudo isto possível.
*Artigo publicado na edição 415

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