Destaque Homepage Homepage Opinião Portugal_2 Vinhos

Esta é a altura certa para uma comunicação concertada dos fine wines portugueses

Por a 7 de Junho de 2023 as 12:00
Claúdio Martins, CEO da Martins Wine Advisor

Por Claúdio Martins, CEO da Martins Wine Advisor

Foi há precisamente dois anos que o Júpiter (o primeiro vinho da série Wines from Another World, criado pelo enólogo Pedro Ribeiro, da Herdade do Rocim), foi apresentado ao mercado, num evento restrito, em Lisboa, para convidados exclusivos, investidores e apreciadores de produtos premium. Um vinho de talha, português, a ser vendido a 1000 euros a garrafa, deu muito que falar, dentro e fora do país, e o tema esteve longe da consensualidade. Ainda hoje o é. Apreciado e respeitado por uns, criticado e odiado por outros (e eu que o diga, que senti na pele esse frenesim!), a verdade é que o Júpiter conseguiu pôr os portugueses a falarem em fine wines e a perceberem que há um potencial extraordinário na produção vinícola nacional, para um nicho de mercado que aprecia e que tem poder de compra. Mais do que tudo, não há nada que impeça a criação de uma categoria para os vinhos portugueses com o price table correto para concorrer com os grandes vinhos de Bordéus ou Toscana.

Vamos esclarecer, porque me parece que nem sempre é bem entendido: eu não referi nunca, em momento algum, que não devamos continuar a produzir bons vinhos e baratos! De todo! Temos é que ser capazes de chegar a um determinado tipo de clientes que está habituado a consumir vinhos de luxo e que só assim passarão a perceber que nós, em Portugal, também podemos produzir vinhos de topo. Dessa forma, acrescenta-se valor à cadeia de produção e a todos os itens que dela fazem parte, incluindo a mão de obra que se revela, hoje, um problema, mas que deixo para outra discussão.

Há dias a ministra da agricultura dizia “Estamos a vender o nosso bom vinho barato e precisamos de lhe acrescentar valor e reconhecimento”… esta manifestação é um passo extraordinário que se dá. Há o reconhecimento institucional que temos potencial para nos posicionarmos. Mas não basta falar, é preciso atitudes no terreno.

Qualidade do vinho, a história das vinhas, do produtor e toda a narrativa que se cria em redor do mesmo são fortes condimentos para posicionar os nossos vinhos lá fora.

E sinto que começa a acontecer.  E é esse o caminho. O mercado já nos apresenta vinhos portugueses premium. Está a crescer uma onda que procura vinhos mais exclusivos, poucas quantidades, vinhos que representam os seus produtores e enólogos, o terroir e as quintas.

Depois? Depois, é a estratégia de comunicação, que deve ser cirúrgica, ajustada ao nível do produto e, aí, temos um caminho a percorrer.

A comunicação é um fator fundamental, senão mesmo decisivo. Deve ser bem pensada e estruturada. Que tipo de vinho é o nosso? Em que perfil se enquadra? Que storytelling conta? A quem pode agradar? Como pode chegar aos consumidores internacionais e, mais do que isso, como chegar aos que têm poder de compra e apreciam o seu valor? As respostas a questões tão simples são necessárias para que o caminho seja de sucesso. Felizmente, e cada vez mais, Portugal produz excelentes vinhos, que já começam a ter um price table premium, mas que devem ter oleada a sua estratégia para chegar às pessoas certas e que nem sempre são aquelas que leem as revistas da indústria…

O vinho não é só a qualidade do produto na garrafa, já que esse item nem se questiona. A narrativa que se cria em seu redor tem de chegar aqueles que apreciam a qualidade e que estão habituados às grandes marcas das famosas regiões vinícolas. Devem sentir curiosidade em provar o vinho português.  Como não temos uma comunicação assertiva e concertada, raramente os nossos produtos chegam aos consumidores internacionais que podem ajudar a mudar o conceito que durante anos se espalhou pelo mundo, do vinho português “bom, bonito e barato”.

Esse, na minha opinião, é o grande desafio. E defendo que estamos na altura certa para lançar uma comunicação concertada dos fine wines portugueses. Num momento em que o turismo se revela cada vez a janela que nos mostra ao mundo e que milhares nos visitam todo o ano, porque não tirar partido do contexto e partilhar a mensagem? Portugal tem os melhores vinhos do mundo.

 

 

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *