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Dos tintos para os brancos: AdegaMãe faz marcha atrás e o resultado é muito positivo

Por a 3 de Janeiro de 2023 as 12:41
Bernardo Alves, CEO, e Diogo Lopes, enólogo da AdegaMãe

Bernardo Alves, CEO, e Diogo Lopes, enólogo da AdegaMãe

Quando abriu portas em 2010 a AdegaMãe só produziu tintos. Hoje, faz, na sua maioria, vinhos brancos. Um passo atrás que a levou a empresa para a linha da frente. A adega está agora no limite máximo da sua capacidade – dois milhões de quilos de uva – e estima ter fechado 2022 com um crescimento de 15% para 6,5 milhões de euros

Quando, em 2010, a AdegaMãe abriu as portas da adega em Torres Vedras vinificou 400 mil quilos de uva para produzir exclusivamente vinhos tintos. Na vindima do ano passado,  a adega fundada pela família Alves, que também criou o grupo Riberalves, ficou muito próxima de atingir a capacidade máxima – dois milhões de quilos – e produziu na sua maioria vinhos brancos. A que se deveu a mudança da proposta de valor? Diogo Lopes, o enólogo da adega deste a criação do projeto, explica que rapidamente a empresa percebeu que a região de Lisboa tem mais potencial para fazer brancos diferenciadores. “Estamos hoje a fazer muito mais brancos que tintos por convicção. Nesta região onde estamos inseridos temos muito mais potencial para fazer brancos diferenciadores do que tintos”, conta, em entrevista ao Hipersuper.

Com este passo atrás, a empresa deu um grande salto. Com as vendas a crescer todos os anos, alcançou em 2021 um volume de negócios de cinco milhões de euros e deverá ter fechado 2022  com um crescimento de 30% para um volume de negócios de 6,5 milhões de euros.

Quando a empresa que produz marcas como AdegaMãe, Dory, Pinta Negra e Terroir decidiu mudar a estratégia de produção não tinha como saber que está atualmente em curso uma tendência para o consumo de vinhos mais leves, aromáticos e menos alcoólicos, sobretudo junto dos jovens consumidores, os compradores de hoje e amanhã. E está também a crescer em cima dessa tendência. “Os consumidores sabem de uma forma geral cada vez mais sobre vinhos, são mais exigentes naquilo que querem consumir e procuram projetos que respeitem o ambiente e o ecossistema, assim como bebidas produzidas da maneira mais pura possível. Temos adaptado também a nossa forma a fazer vinhos para ir ao encontro dessas expectativas”, salienta o enólogo.

Os vinhos gozam ainda do estatuto de estrela internacional da região de Lisboa. “A região tem uma aptidão muito grande para vender vinhos fora, não só devido à modernidade associada à região, como pelo trabalho muito grande que tem sido feito pelos produtores para adaptar o perfil dos vinhos ao gosto dos consumidores modernos. O nome Lisboa também ajuda bastante, principalmente em mercados como os EUA”, conta Diogo Lopes.

A adega vende cerca de 75% da produção nos mercados internacionais. Colômbia, Brasil, EUA, Canadá e Japão são os mercados com mais peso nas vendas internacionais.

O ciclo de produção

O projeto da Adega começou em 2010. “Gastámos muito tempo a desenhar o conceito até encontrar o equilíbrio entre arquitetura e a parte de produção propriamente dita, queríamos preparar o edifício para receber pessoas e que fosse atrativo no circuito, mas ao mesmo tempo funcional”, lembra o enólogo. Mas, apesar de ter demorado quase dois anos a sair do papel, assim que o conceito cristalizou em nove meses a adega estava de pé, com a assinatura do arquiteto Pedro Mateus.

“Criámos diferentes áreas de laboração”, de modo a evitar “grandes atravessamentos na altura da vindima”, a mais critica em todo o processo de produção. “Durante mês e meio, temos de receber toda a uva para o vinho que vamos fazer durante o ano e isso implica que haja uma concentração muito grande de fluxos, de entrada de uva e de transformação e processo, e tentámos criar áreas bastante diferentes, amplas, para as equipas fazerem as diferentes tarefas que fazem parte do processo” de produção.

Este processo tem início com a receção da uva no piso superior. No plano inferior, onde começa a visita, encontra-se a área dedicada à fermentação de tintos, dividida em duas áreas: a zona de prensagem (há duas prensas para brancos e uma para tintos) e a área de fermentação. “Se for vinho branco, a uva vai diretamente à prensa, sofre um aperto e há uma separação total entre a fase líquida e a fase sólida, seguindo líquido para a sala de fermentação de brancos”, uma zona localizada mais à frente, que não foi contemplada no projeto de construção, detalha Diogo Lopes.

Na sala de tintos, o vinho fermenta em curtimenta, ou seja, o líquido permanece em contacto com o sólido. “Temos de deixar o sumo da uva, que é branco, em contacto com as peliculas, porque é nas cacas das uvas que está a cor, e fica ali a fazer a maceração. É, por isso, que antes pisávamos as uvas. A pisa tinha a ver com meter estas cascas para baixo para ficar em contacto com o líquido e conferir-lhe a cor”, lembra.

No total, são 21 as cubas para tintos. “Enchemos as cubas, e fica ali neste processo de maceração. Hoje, temos processos mecânicos que permitem extrair o líquido, meter por cima, para ganhar mais cor, sabor e taninos, e, quando acaba de fermentar, segue para a prensa. Quando o vinho está pronto, decidimos, então, se vai para a sala de barricas ou para engarrafamento”, explica.

A adega tem uma capacidade de fermentação de tintos por ciclo de 320 toneladas. “Ou seja, a empresa tem 21 cubas e à medida que as uvas chegam vão-se enchendo as cubas. Quando as 21 cubas estão cheias, fecha-se um ciclo. Tenho de esperar que fermente, esvaziar e encher novamente. Fazemos três ciclos numa vindima”, avança o enólogo.

Na sala de brancos estão instaladas cubas de dimensões diferentes, “consoante as parcelas que temos, o que permite individualizar cada uma das parcelas na vinha e fazer vinhos específicos”. A empresa adquiriu posteriormente dois ovos de cimento, onde vinifica as parcelas mais especiais, nomeadamente a casta Vital, da Serra do Montejunto, e o Viosinho. “Esta forma oval permite que o vinho ganhe mais complexidade, mais boca, sem ter nenhum aporte de madeira”, explica Diogo Lopes.

A Sala das Barricas, por sua vez, está dividida em dois ambientes. Numa primeira zona encontram-se as barricas de 400 litros, todas de carvalho francês de diferentes florestas, onde a empresa faz o estágio e alguma fermentação só de brancos. “Para aqui vem as melhores variedades: viosinho, arinto, alvarinho e um bocadinho de chardonay”. Chegam aqui ainda a fermentar e aqui permanecem cerca de dez meses. Algum desse vinho é engarrafado em monocasta e outra parte é selecionada para as gamas superiores. “No total, temos capacidade para armazenar 30 mil litros em brancos”.

Do outro lado, encontram-se as barricas onde descansam os tintos, em barricas de 125 litros. São divididas por variedade e as que a empresa considera as melhores aqui ficam entre 12 e 18 meses. “No total, temos capacidade para armazenar 80 mil litros”.

Na Quinta da Archeira, onde está instalada a adega, a empresa tem 40 hectares de uva quase exclusivamente brancas, e um pequeno apontamento da casta tinta pinot noir, “uma casta que historicamente se adapta muito bem a ambiente de brancos”. Mais matéria-prima chega a adega de duas vinhas geridas pela AdegaMãe. A Quinta D. Carlos, em Alenquer, com 43 hectares de vinhas, arrendada à AdegaMãe que faz a gestão integral da quinta, e a quinta de Álvaro Lamy, pai do piloto de F1, Pedro Lami, com cerca de 50 hectares de vinha, supervisionada pela AdegaMãe. “Temos um acordo que prevê que as decisões culturais feitas ao longo do tempo são decididas por nós e compramos a uva toda”, detalha o enólogo.

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