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Online é canal privilegiado para mercado de segunda mão

Por a 21 de Dezembro de 2022 as 11:41

onlineModa à parte, a circularidade está a aumentar em outros bens de consumo, como os artigos tecnológicos, por exemplo. O Hipersuper conversou com responsáveis de duas empresas experientes nas lides da segunda mão – Cash Converters e OLX – e com a recém-chegada ao mercado português Wallapop. Todas têm em comum uma forte aposta no canal online

Os consumidores portugueses, em especial as gerações mais jovens, têm vindo a amadurecer a sua consciência ambiental e social. Mais de metade dos portugueses (57%) que pertencem à geração Z (idades entre 18 e 24 anos) e millennials (entre 25 e 34 anos) assumem estar disponíveis para comprar produtos em segunda mão, conclui um estudo desenvolvido pela Koos Service Design, (encomendado pela plataforma de compra e venda em segunda mão Wallapop).

Para os inquiridos portugueses, a poupança é a principal motivação para a compra em segunda mão, recolhendo quase 29% das respostas, valor mais elevado do que em Espanha (17,1%) e Itália (17,8%). Por outro lado, o receio de o produto não corresponder às expectativas é o maior obstáculo à compra de produtos em segunda vida.

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Neste estudo, os jovens portugueses mostram-se empenhados em ter um papel mais ativo em matéria de sustentabilidade. Para 42% dos inquiridos, os produtos sustentáveis são caros e essa é a principal razão apontada para não comprarem mais. Este valor é elevado quando comparado com os resultados em Espanha (25%) e Itália (31%).

Com o consumo consciente a ganhar adeptos em todo o mundo, sobretudo junto das gerações mais jovens, as empresas estão a ser “empurradas” para o mercado de segunda mão sob pena de perderem os seus consumidores de hoje e amanhã.

Por outro lado, surgem cada vez mais marcas criadas de raiz para cavalgar o estimado potencial de crescimento do mercado em segunda mão, como é exemplo a plataforma Wallapop, lançada em Portugal no passado mês de setembro.

Há ainda as empresas para as quais o mercado de segunda mão não é uma novidade. Pelo contrário, estes negócios deram o seu contributo para a mudança de paradigma em relação à compra de produtos usados.

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Sérgio Pintado, Chief Marketing Officer da Cash ConvertersCash Converters: Duas décadas a comprar e vender segunda mão

É o caso das lojas multiproduto Cash Converters. Fundada em 1984 na Austrália, a cadeia está no mercado português há quase duas décadas, atualmente com cinco pontos de venda nas duas maiores cidades do país e uma loja online. “Chegámos a Portugal em 2003 e, nessa altura, não existia o conceito de segunda mão, existindo muita reticências e dúvidas acerca deste modelo de negócio”, lembra Sérgio Pintado, CMO (Chief Marketing Officer) da filial portuguesa, em entrevista ao Hipersuper. Aliás, este modelo de negócio era praticamente desconhecido no Sul da Europa, ao contrário da zona Norte do Velho Continente, onde o mercado de segunda mão e os conceitos ligados a este modelo de negócio se encontravam num estágio de maturidade superior, recorda.

Com o passar dos anos, o mercado global da segunda mão “cresceu bastante” quer em número de players quer em consumidores. “Estamos cientes que, para chegarmos ao ponto em que estamos hoje, foram empresas como a Cash Converters que desbravaram caminho”, salienta Sérgio Pintando.

Duas décadas depois, o paradigma da compra e venda de produtos usados mudou em Portugal. “Se há 20 anos a segunda mão era associada, maioritariamente, à compra de produtos como livros, atualmente, o consumidor vem mais às nossas lojas à procura de dispositivos eletrónicos, por exemplo”. Para acompanhar esta mudança, a empresa alargou o negócio a novas categorias, expandiu o conceito a novas lojas e foi reforçando as credenciais de exigência da qualidade dos produtos que comercializa, ainda hoje a pedra basilar do negócio. “A Cash Converters deu uma segunda vida a mais de três mil produtos em Portugal e Espanha, entre 2021 e 2022, de forma segura, assegurando a origem e funcionalidade dos mesmos, uma garantia de dois anos, e oferecendo ainda a possibilidade de devolução”, adianta o gestor.

Apesar de as novas tecnologias continuarem a ganhar peso na oferta da retalhista, sendo os dispositivos eletrónicos uma das categorias mais procuradas, a procura está ligada à sazonalidade. “Na primavera, por exemplo, notamos que as bicicletas e produtos para atividades ao ar livre entram no pódio das categorias mais populares. Já em setembro – período de regresso às aulas – os computadores tornam-se o produto estrela”, exemplifica.

A empresa também apostou forte no online para acompanhar a evolução das tendências de compra e estar onde o seu público se encontra. “Atualmente, este canal permite-nos centralizar o catálogo de produtos e aproximar a oferta das lojas físicas do cliente, independentemente do local onde este esteja a comprar”. Em relação aos dados de 2021, o tráfego no site aumentou 2%, o número de encomendas na loja online subiu 29%, as vendas brutas aumentaram 38% e o valor médio do talão de compra cresceu 7%, avança o responsável.

Na opinião de Sérgio Pintado, os portugueses recorrem mais à segunda mão sem preconceito, não só para comprar produtos, mas também para vender, uma tendência ligada a fatores ambientais e económicos. Do ponto de vista ambiental, este modelo de consumo permite “prolongar não só a vida dos produtos como também do planeta”. O gestor partilha alguns números: este ano, a empresa já conseguiu aumentar em 19% os quilos poupados na pegada de carbono, totalizando 21.418.117kg, comparando com os valores de 2021, e um aumento de 375% em produtos reciclados.

Do ponto de vista económico, por sua vez, este é um modelo de consumo que apoia a poupança das famílias, salienta o responsável. No primeiro trimestre de 2022, “a atuação da Cash Converters permitiu aos portugueses pouparem cerca de 620.814 euros”, calcula.

A avaliar pelo atual contexto de subida generalizada do custo de vida, o mercado de segunda mão irá continuar a crescer, antevê o CMO da Cash Converters. “A dificuldade que cada vez mais indústrias sentem na produção de novos equipamentos devido à falta de matérias-primas e a preços cada vez mais elevados pode tornar-se uma oportunidade para este tipo de negócio. Com a garantia de qualidade e segurança, a revenda de artigos acaba por ser a opção viável para muitos portugueses conseguirem poupar em produtos essenciais”.

E acredita que a segunda mão tem potencial para se tornar o “novo normal”? Tem capacidade para se afirmar como “o modelo do futuro no mercado nacional”, acredita Sérgio Pintado, “potenciado pela acentuada e constante subida da inflação e ainda pelo contexto ambiental e sociopolítico que vivemos”.

Além de consumidores ambientalmente responsáveis e poupados, os compradores de produtos em segunda vida são pessoas de todas as idades, estratos sociais e ativistas. “São pessoas alinhadas com o nosso propósito e valores e que acreditam, tal como nós, que a segunda mão é a solução para todos os artigos que, apesar de já não serem utilizados por uns, estão em boas condições para serem utilizados por outros. São pessoas que acreditam e trabalham nos seus círculos sociais para que mais pessoas conheçam e comprem em segunda mão. E são também pessoas que acreditam que mudar hábitos de consumo pode ser o primeiro passo para alcançar um mundo mais sustentável do ponto de vista económico, social e ambiental. São também as famílias, desde os adolescentes aos avós, já que temos uma variedade de produtos para todos os gostos e que atendem às necessidades de cada geração”. Este é o perfil do novo consumidor feito por Sérgio Pintado. “O mercado pode e deve dar ouvidos porque será, sem dúvida alguma, o futuro do consumo”, adivinha.

Andreia Pacheco, head of Marketing do OLX

Andreia Pacheco, head of Marketing do OLX

OLX: O portal com 355 milhões de visualizações

A plataforma de vendas em segunda mão OLX está online há cerca de dez anos no mercado português. O portal de classificados criado em 2012 conta à data com seis milhões de utilizadores ativos, 23,5 milhões de anúncios ativos e 355 milhões de visualizações. “Estes números demonstram bem a dimensão da plataforma”, realça Andreia Pacheco, head of Marketing do OLX, em entrevista ao Hipersuper.

A proposta de valor mantém-se intacta: ser uma plataforma de revenda com uma larga variedade de categorias, “que engloba possivelmente todas as áreas do comércio e serviços”, agregadas num só local de compra e venda.

Desde 2012 que a procura e a oferta (a colocação de anúncios no site) têm vindo a crescer. Os setores automóvel, de artigos tecnológicos, grandes eletrodomésticos e mobiliário são os que têm vindo a registar maior procura por parte dos consumidores portugueses. “O OLX tem contribuído para uma mudança de mentalidade e dos hábitos dos consumidores nos últimos dez anos”, considera Andreia Pacheco, acrescentando que, em função do período de maior instabilidade que se prevê, essa contribuição tem espaço para crescer.

Além do portal, a empresa lançou de imediato uma app mobile, adaptando-se às novas tendências de compra. E foi uma aposta ganha. Dois anos depois, em 2012, a app passou a representar 10% das visitas e cerca de 30% das páginas eram visualizadas a partir de dispositivos móveis. Atualmente, mais de metade dos utilizadores do portal utilizam a app, conta Andreia Pacheco.

Além de comercializar produtos em segunda vida, promovendo a extensão da vida útil dos artigos, reduzindo o desperdício e contribuindo para a sustentabilidade do planeta, o portal potencia ideias empreendedoras. “Enquanto um dos 15 sites mais visitados do país, permite colocar estes negócios numa plataforma que dispõe de tráfego elevado”, salienta a responsável de marketing.

Comprar e vender em artigos em segunda mão conta hoje com uma comunidade “crescente e diversificada” de compradores e vendedores em Portugal. Na opinião da head of Marketing do OLX, muito provavelmente são as gerações mais jovens que estão a aderir cada vez mais ao movimento de compra em segunda mão. “Têm uma abordagem mais responsável e o pensamento no futuro, ou seja, pensam numa forma de consumo consciente e amiga do ambiente”.

Andreia Pacheco partilha alguns números que mostram o impacto da compra em segunda mão na saúde do planeta. Comprar um telemóvel em segunda mão, equivale a uma poupança ecológica de 52kg de emissões de CO2. Os carros foram o produto que, comprados em segunda mão no portal, mais contribuíram para a poupança de emissões de CO2 em 2021, em Portugal.

Sobre projetos para o futuro, a gestora adianta que o progresso do portal irá continuar focado na facilitação das transações e no desenvolvimento da plataforma para clientes profissionais, seja através do OLX Emprego, voltado para o recrutamento, seja com o OLX Pro, direcionado para negócios.

Sara Van-Deste, head of Special Projects na Wallapop

Sara Van-Deste, head of Special Projects na Wallapop

Wallapop: O markeplace de revenda visitado mensalmente por 15 milhões de pessoas

A plataforma Wallapop ficou disponível no mercado português em setembro deste ano com o objetivo de “revolucionar” a compra e venda de artigos em segunda mão. A empresa fundada em Barcelona em 2013, que internacionalizou o negócio para Itália e, agora para Portugal, acredita que o mercado nacional vai contribuir para alavancar “um ecossistema de inventário único na Europa” que permita a todas as pessoas fazer “um consumo mais consciente e gerar oportunidades económicas no contexto atual de inflação”, disse Sara Van-Deste, head of Special Projects na Wallapop, ao Hipersuper.

Em Espanha, 15 milhões de pessoas visitam mensalmente o marketplace de produtos reutilizados. Em Itália, onde a Wallapop está online há cerca de um ano, o catálogo de produtos tem aumentado sobretudo nas categorias de filmes, livros e música, jogos e consolas e casa de jardim.

A plataforma multiproduto (eletrónica, casa e jardim, livros, música, moda, automóveis) e multisserviço (construção, reparações, limpeza, arrendamento de imóveis) aposta em métodos de entrega em mão e envios à distância e, numa primeira fase, permite aos portugueses comprar e vender dentro de Portugal e também comprar produtos de Espanha. A plataforma consegue identificar a localização do comprador e vendedor, possibilitando as entregas em mão, sem custos de envio. Se não for o caso, o custo do serviço de envio, que varia consoante o peso e a modalidade de entrega, cabe aos compradores.

A Wallapop deposita grandes expectativas no mercado português, em especial junto das novas gerações, que têm, “cada vez mais, uma consciência ambiental e social muito desenvolvida. Com estas novas soluções, qualquer português pode ter um comportamento de consumo mais sustentável, sem comprometer a sua rentabilidade”, sublinha Sara Van-Deste.

“Queremos construir uma posição sólida no mercado, através da criação de reconhecimento em torno da marca e da atração de uma massa crítica de utilizadores que potenciem o comércio em Portugal”, adianta Sara Van-Deste, acrescentando que a expectativa é que “inicialmente a maior parte das compras se realize além-fronteiras, uma vez que a maioria do inventário está localizado em Espanha”, mas, à medida que as pessoas em Portugal anunciem e comprem localmente, o ecossistema português cresça e “rapidamente aumente a liquidez no primeiro ano”.

A consolidação de tendências que se iniciaram na pandemia – o crescimento do e-commerce, de micro negócios e do empreendedorismo – a juntar agora a necessidade e o desejo por parte dos consumidores de fazer um consumo mais consciente, torna o propósito da marca cada vez mais atual, considera a responsável: “facilitar um consumo mais consciente e humano que crie oportunidades económicas para as pessoas”. Ou seja, “através da tecnologia e da inovação disruptiva”, dar a oportunidade aos consumidores de participarem numa economia circular, estendendo a vida útil dos produtos através das trocas em segunda mão e, ao mesmo tempo, ajudar a vender os artigos que já não utilizam. “O nosso objetivo é que as pessoas que nunca pensaram comprar ou vender artigos em segunda mão vejam os benefícios de participarem numa economia circular, que os beneficie a eles, mas também à sociedade como um todo”, afirma a head of Special Projects na Wallapop.

Um dos principais objetivos traçado para 2023 passa por reforçar a capacidade de prevenção de fraudes para tornar a plataforma mais “ampla, funcional e segura”. “A equipa Trust & Safety monitoriza a atividade da plataforma de forma a detetar e prevenir ações potencialmente fraudulentas o mais rapidamente possível”. A equipa, que representa cerca de 10% da força de trabalho da marca, utiliza ferramentas avançadas, como a inteligência artificial, para analisar a atividade de perfis suspeitos e prevenir fraudes antes que estas aconteçam. “De acordo com os nossos dados, 90% destes perfis são removidos da plataforma antes de receber sequer um relatório de fraude de outros utilizadores”, termina a responsável.

 

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