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Futuro das embalagens passará pelo eco design e pela inovação colaborativa

Por a 7 de Março de 2022 as 17:25

debate SPVNum debate organizado pela Sociedade Ponto Verde, Manuel Tânger e Fernando Leite apontaram o caminho para serem desenvolvidas melhores soluções para a separação de materiais

Como serão as embalagens do futuro? “Terão de estar alinhadas com a proteção ambiental, a promoção da economia circular e sustentadas pelo eco design”. E como arrepiar caminho e acelerar a produção de embalagens em conformidade com os desafios do futuro para toda a cadeia de valor? “Através da inovação aberta e colaborativa”. Estas foram algumas das ideias em destaque no painel “As Embalagens do Futuro”, no âmbito da conferência “Eco Embalagens – Unboxing The Future”, organizada pela Sociedade Ponto Verde.

Manuel Tânger head of open innovation na consultora Beta-i, falou precisamente da abordagem a ser seguida para acelerar o ponto de viragem na indústria. “Na inovação aberta trabalhámos sempre com muitos players, mas nenhum tem tanta abrangência e um envolvimento tão íntimo como este ecossistema da reciclagem, do verde e da economia circular.  Porque tem um fio condutor muito bem definido e todos os participantes têm um papel bastante relevante, desde o produtor, passando pelo embalador, até ao consumidor final”, referiu.

A Beta-i foi a empresa que geriu o programa Re-Source. Para este projeto da Sociedade Ponto Verde foram chamadas a participar entidades como a Câmara Municipal de Mafra, a Câmara Municipal de Cascais, os CTT, o Saica Natur, a Lipor, a Lusoforma, a Nestlé, o NEYA Hotels, a OVO Solutions, a Sociedade Central de Cervejas e Bebidas, o Super Bock Group, a Tratolixo e a Vidrala, O objetivo do Re-Source passou pela colaboração entre startups de todo o mundo com entidades públicas e privadas, para que fossem criados pilotos para aumentar as taxas de reciclagem junto dos consumidores. “Esta aprendizagem mútua, esta abertura, esta experimentação guiada, focada e disciplinada, que é fundamental para haver inovação partilhada, é mais rápida e com ganhos mais imediatos”, explicou o responsável.

O projeto contou com a apresentação de propostas de start-ups de mais de 20 países. “Neste âmbito, as start-ups são cruciais para a aceleração dos processos de inovação.  É bom para as start-ups, que fazem crescer o seu negócio, mas também para quem os contrata, porque consegue inovar de uma forma relativamente barata e absolutamente mais rápida do que o desenvolvimento interno ou uma parceria longa que desenvolve uma iniciativa desde o início até ao fim e sem o resultado final garantido. É um mecanismo muito eficiente e eficaz de inovação, muito na área das embalagens”, frisou Miguel Tânger.
Para o futuro haverá ainda uma série de requisitos que terão de ser cumpridos para aumentar o aproveitamento dos materiais. E até a terminologia terá de mudar. “O primeiro grande driver que temos de colocar no nosso setor é abandonar a ideia do lixo, porque o lixo dá a noção a todas as pessoas que é algo que não tem valor. Temos de mudar a nomenclatura. Temos de abandonar a ideia de algo que não vale nada para algo que vale muito. Isto tem de estar muito bem expresso, para que o cidadão conheça essa particularidade”, afirmou Fernando Leite CEO da Lipor.

O CEO da Lipor defendeu, por outro lado, que a embalagem do futuro será muito diferente da que hoje conhecemos. “Em toda a cadeia de valor vamos notando que temos situações que estão em desconformidade com o que é a proteção ambiental, a promoção da economia circular. Ainda é muito débil em certos e determinados setores”, lembrou.

Para o responsável, o eco design também será determinante, tendo ainda de existir uma forte aposta em tecnologia. “Temos de nos adaptar a toda esta situação e temos de perceber que, em Portugal, muito dos setores de fabricação são pequenas e médias empresas. Têm de estar sensibilizadas para essa mudança tecnológica que têm de fazer, tendo assim de recorrer, na maior parte dos casos, a centros colaborativos, como existem já no caso dos têxteis”, defendeu Fernando Leite.

Analisando o setor dos têxteis, o responsável adiantou que está a existir uma mudança no campo das embalagens. “Estamos a falar de embalagens que, muitas vezes, eram colocadas no mercado com vários materiais. E agora estamos todos a perceber que trabalharíamos muito melhor se, no caso da embalagem, ela for monomaterial”, sustentou. “Esta embalagem do futuro tem de também de obedecer ao que são os quadros regulatórios e regulamentares que estão a ser implementados na Europa”, acrescentou. Em relação a este último aspeto, o CEO da Lipor demonstrou que virão dificuldades do espaço extraeuropeu. “Temos todo um mundo que fabrica e que coloca em todo lado, através de acordos comerciais, produtos que muitas vezes não têm as mesmas normas de fabricação que têm no espaço europeu. A Europa está a evoluir nesse sentido bastante bem. O nosso porblema é que aparecem muitos produtos que são captados na Alfândegas que não cumprem as regras e, normalmente, são regras básicas na embalagem e na etiquetagem”, afirmou.

Olhando para o médio prazo, Manuel Tânger prevê grandes mudanças na área das embalagens com a evolução tecnológica. “Vimos no programa Re-Source várias soluções tecnológicas de rastreabilidade ao nível granular muito alto. Essa é uma tendência que mudará muito. Dará um nível de detalhe de informação sobre toda a cadeia que vai permitir inúmeras atividades em cima dessa informação e dos dados. Dificilmente se faz hoje porque se fazem estatísticas, estimativas e é um trabalho difícil de fazer e complexo e que tem de ser feito. Mas sem o nível de granularidade destas soluções emergentes poderão vir a trazer. Vai um fator diferenciador”, sublinhou.

Fernando Leite, por seu turno, frisou que, daqui a cinco anos, haverá muito mais disponível e preparada para ser trabalhada. “Temos outras metas e temos de ir captar o material disponível e que não vai por exemplo para aterro e vai bondosamente para reciclagem ou reutilização”, sublinhou. E voltou a realçar a importância do eco design. “Vemos, por exemplo, setores como o do calçado, que já começa a ter uma preocupação de fazer uma linha de calçado vegan. Já nos aparece aqui uma diferenciação que, há anos, ninguém ligaria. Aí está uma possibilidade que vai aparecer. Há novos materiais”, referiu o CEO da Lipor.

Por outro lado, o responsável abordou a questão de materiais como o plástico e do cartão. Defendendo que o plástico é um dos maiores desafios, Fernando Leite não deixou de mencionar que papel cartão também o é. “A partir do momento em que ponham lá um pouco de plástico ou que ponham um pouco de verniz, imediatamente deixa possível uma melhor utilização de um material. Daqui a cinco anos estaremos perante outra realidade. A inovação vai estar muito mais presente no setor porque as marcas percebem que o que está em causa é a sobrevivência.  A questão da sustentabilidade será fundamental”, defendeu.

Até porque as novas gerações estarão bastante atentas a estas questões. Vamos ter de dar muito mais informação sobre a matéria-prima que estamos a utilizar e vamos ter depois o embate das novas gerações. São muito cuidadosos relativamente ao que é a origem das coisas que consomem. Eles vão mesmo fazer a seleção dos produtos em loja não pelo preço, mas pela ficha que lá vão ver relativamente à embalagem e outras situações”, afirmou.
Manuel Tânger antecipou que as iniciativas de colaboração, que estão a dar agora os primeiros passos, serão daqui a cinco anos o “business as usual”. “É preciso exercitar os mecanismos de colaboração para que estes se tornem parte integrante da operação normal. Esta é uma área que já colabora muito, mas ainda não o suficiente. Prevejo que, daqui a cinco anos, a área faça uma grande diferença em termos de colaboração. Faz também uma grande diferença na quantidade de inovação que existe, porque, por definição, a inovação cresce de forma exponencial, porque é combinatória. Quanto mais há, mais haverá e mais soluções teremos de testar”, explicou.

No futuro, de resto, ainda há muitas melhorias a adotar na área de separação de materiais. Em relação a este aspeto, a comunicação e a educação serão fundamentais. Existe uma dispersão muito grande na a comunicação que fazemos. Uns fazem de uma maneira. Outros fazem de outra. Não existe algo que devia ser comum, porque temos um défice de cultura no domínio da reciclagem multimaterial. Temos de tirar mais dinheiro a camiões a contentores e dá-lo à parte da educação e da sensibilização num plano que seja coerente e que transmita a mesma mensagem”, defendeu Fernando Leite.
O CEO da Lipor apontou, por fim, outras lacunas nesta área. “Falta massa crítica no setor. Temos de ter mais engenharia”, apontou, lembrando que o programa de training que houve um pouco por todo o país é importante”. “Mas temos de colocar algumas metodologias que poderão levar a que se separe mais material, que este chegue em melhores condições aos centros de triagem e que, a partir daí, possa haver objetivos para conseguirmos atingir as metas que temos”, concluiu.

*Artigo originalmente  publicado na edição 399 do Hipersuper

 

 

 

 

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