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Bebidas de base vegetal com grande potencial de crescimento em Portugal

Por a 8 de Outubro de 2021 as 16:38

almond-milk-g331be5060_640O consumo ainda é baixo comparativamente com outros países europeus. As primeiras referências introduzidas no mercado foram à base de soja. O mercado de bebidas de origem vegetal começou, ainda assim, a crescer com o alargamento do sortido para bebidas de amêndoa ou de aveia, por exemplo. Há, no entanto, um longo caminho a percorrer até que esta categoria de bebidas chegue aos níveis de países como a Alemanha.

As variedades que, neste momento, estão a apresentar níveis de crescimento acima da média são precisamente as que não contêm soja, permitindo um impulso nas vendas categoria em Portugal. “O grande crescimento de plant-based drinks nos últimos anos foi impulsionado pelas bebidas de não soja. As bebidas de base de aveia, amêndoa, arroz ganharam maior relevância e ainda hoje são as que mais crescem neste mercado. As bebidas de base de amêndoa têm apresentado elevados crescimentos, ultrapassando inclusivamente as bebidas de base de arroz em volume e valor”, revela Marta Araújo e Silva, KAM da Shoyce.

As bebidas não soja têm, inclusive, um peso de 50% no mercado de plant-based drinks, em Portugal, revela a responsável. “Se inicialmente as bebidas de base não soja começaram por ser de arroz, aveia, amêndoa e coco atualmente já encontramos no mercado português variedades muito variadas como a avelã, a noz e as misturas de diferentes ingredientes vegetais como a aveia e amêndoa”, ilustra.

O mesmo ocorre no panorama europeu, onde as bebidas não soja estão a crescer a níveis mais elevados. “Apesar de as bebidas à base de soja ainda representarem cerca de 45% do mercado, as bebidas não soja são as que mais crescem e as que fazem crescer o mercado, com as bebidas de aveia, arroz e amêndoa no topo da lista.  Bebidas com outros ingredientes, tais como avelã, noz e misturas de diferentes ingredientes vegetais apresentam grandes crescimentos, mas ainda inferiores aos das restantes bebidas”, revela Marta Araújo e Silva.

Ainda assim, a responsável adianta que o segmento à base de soja continua a ser de vital importância para o mercado. O que se explica “pelo facto de ser a bebida vegetal que mais se aproxima nutricionalmente do leite, sendo igualmente a bebida que apresenta o preço médio de venda mais baixo”, esclarece.

Neste momento, não são apenas as empresas locais e independentes das grandes multinacionais a investir neste tipo de bebidas. A Nestlé lançou este ano o Nesquik Go e a marca Wunda. A primeira bebida é composta por aveia e cacau feito com ingredientes 100% naturais. “Está disponível numa prática embalagem, reciclável, para levar para qualquer lado e destinado a um target muito específico, nomeadamente mais jovem”, explica Joana Bandeira, brand manager da Wunda. No caso da marca Wunda, a gama é composta pela receita original, por uma versão sem açúcares, existindo ainda outra com chocolate. Todas as referências são comercializadas no retalho. Mas há ainda a versão barista, “que vem reforçar a versatilidade do produto”, diz Joana Bandeira.

A gama Wunda é uma bebida produzida à base de ervilha amarela, podendo ser consumida com os cereais de pequeno-almoço, no café, nos lattes, nos smoothies e mesmo em cozinhados. As ervilhas são cultivadas na França e na Bélgica. “Estas bebidas têm baixo teor de gordura, são ricas em cálcio e fonte de vitaminas D, B2 e B12. A variedade Original tem baixo teor de açúcares e a variedade sem açúcares completa a gama nesta vertente”, descreve Joana Bandeira.

Pelas suas caraterísticas, a Nestlé quis ainda diferenciar-se das restantes bebidas à base de vegetais comercializadas no mercado. “Encontrámos uma oportunidade para surpreender os consumidores portugueses, com a possibilidade de terem apenas um tipo de produto de base vegetal para um largo leque de utilizações, em lugar de terem de comprar diversos tipos de bebidas devido à sua intensidade em termos de sabor”, garante Joana Bandeira. A responsável diz tratar-se de uma bebida com “um sabor diferenciador quando comparada com bebidas de origem vegetal semelhantes existentes no mercado.

O crescimento deste tipo de bebidas no mercado português está, no entanto, relacionado com o facto de serem vistas como um produto substituto do leite, quer por parte de consumidores intolerantes à lactose, como por parte de consumidores que têm preferência pelo consumo de produtos alternativos aos de origem animal.

Tendo chegado ao mercado há sete anos, a Shoyce teve a preocupação de lançar produtos “mais semelhantes ao leite, em termos de sabor, organolépticos e nutricionais”, diz Marta Araújo e Silva.

Num mercado no qual o leite tem uma elevada penetração, a transferência de consumo para as bebidas vegetais começou por ser em substituição do leite. “Os nossos produtos caracterizam-se por serem produtos mais ‘milky’ e que permitiam uma utilização semelhante à do leite – combinação com outros produtos como cereais de pequeno almoço, cacau e café por exemplo. Desde o lançamento da marca que uma das prioridades da Shoyce é oferecer aos seus consumidores produtos com os melhores ingredientes, na seleção das matérias-primas que utilizamos, e saborosas”, garante a responsável. Mas a Shoyce também comercializa iogurtes à base vegetal, segmento cuja penetração ainda é mais reduzida face ao leite. “Se a penetração das bebidas vegetais nos lares portugueses é ainda baixa, ronda os 7% comparativamente com o leite, mas em franco crescimento, no caso dos iogurtes a mesma é ainda mais reduzida, ficando pelo 1,4%, quando comparado com os iogurtes lácteos”, adianta Marta Araújo e Silva.

A responsável acredita, no entanto, que os iogurtes seguirão o mesmo caminho das restantes bebidas. “Prevê-se que num futuro muito próximo o mercado dos iogurtes vegetais apresente o mesmo movimento que o mercado das bebidas vegetais apresentou e que produtos com outras bases, como a aveia, o coco, a amêndoa, apareçam e façam o mercado crescer exponencialmente”, estima.

Nesta categoria de bebidas, uma das marcas mais importante no mercado é a Alpro. Porém, até ao fecho desta edição, não foi possível entrar em contacto com os representantes da marca em Portugal.

EMPRESAS PREVEEM FUTURO PROMISSOR PARA ESTAS BEBIDAS
Em Portugal, o crescimento do mercado foi de 26% de 2019 para 2020, um valor distante da Alemanha, que apresentou um crescimento de 52%, valendo este último mercado perto de 300 milhões de litros, segundo dados da Nielsen, disponibilizados por Marta Araújo e Silva. Ainda assim, as empresas que produzem e comercializam estas bebidas no mercado português estão confiantes em relação ao futuro. “O consumo de bebidas vegetais iniciou-se na Ásia, onde cerca de 90% da população é intolerante à lactose e, portanto, as bebidas vegetais foram a opção de consumo. Se olharmos para o resto do mundo, o consumo de bebidas vegetais tem ainda um potencial de crescimento enorme. Na Europa, por exemplo, em todos os países o mercado de plant-based drinks apresenta crescimentos acima dos 15% mesmo nos maiores mercados”, explica Marta Araújo e Silva.

Neste contexto, a ambição da Shoyce é acompanhar o ritmo de crescimento que se prevê para o mercado português nos próximos. A responsável acredita que apresente crescimentos anuais acima dos 15%. “Sabemos que o desafio é difícil, na medida em que o mercado português de FMCG é um mercado onde as marcas próprias têm um peso muito significativo”, diz a responsável. Mas a capacidade de inovação da marca leva-a a acreditar que os objetivos serão alcançados. “Estamos confiantes na nossa capacidade de inovar e lançar novos produtos que surpreendem os nossos clientes e consumidores através do sabor e com valor nutricional acrescido, atraindo desta forma cada vez mais clientes para a categoria e fidelizando os nossos atuais clientes”, afirma.

Referindo-se ao potencial das bebidas à base proteína vegetal, Marta Araújo e Silva diz que a forte presença das marcas próprias e a forte componente promocional do mercado português faz com que o crescimento em valor fique aquém do aumento do consumo em volume. “Se em volume o mercado cresce acima dos 15%, em valor o crescimento ronda os 10%”, revela. A responsável acredita assim que o maior crescimento em valor da categoria dependerá da inovação. “As marcas de fornecedor têm aqui um papel preponderante. Apenas o surgimento de produtos diferenciadores, com a máxima qualidade, saborosos e sustentáveis levam cada vez mais consumidores a adotarem o plant base na sua alimentação diária”, sustenta. Por isso é que a marca continuará a apostar em novos lançamentos. “A marca Shoyce vai continuar a surpreender os consumidores lançando ainda este ano novidades quer em bebidas quer nos iogurtes e cremes vegetais”, adianta Marta Araújo e Silva.

A Nestlé, embora tenha lançado recentemente a marca Wunda, tem fortes expectativas em relação à evolução das vendas da marca em Porugal. “É uma marca inovadora e pretende chegar aos consumidores atuais e captar novos consumidores. Numa área com fortes concorrentes, os objetivos de vendas são ambiciosos, pretendendo ser uma das marcas preferidas dos portugueses”, afirma Joana Bandeira. Por outro lado, a responsável garante que as vendas, na sua fase inicial, superaram as expetativas da Nestlé. “O mercado de bebidas vegetais tem vários players presentes que apresentam diferentes ofertas para o consumidor. Por essa razão, estimámos uma penetração gradual neste mercado, com foco na experimentação, para dar a conhecer a real diferenciação que Wunda apresenta, tanto ao nível do sabor, como de versatilidade em comparação com as restantes bebidas vegetais”, acrescenta.

Citando dados do estudo Going Plant-Based: The Rise of Vegan and Vegetarian Food, da Euromonitor, divulgado em novembro, Joana Bandeira adianta que um em cada dez consumidores mundiais já substituiu, em dado momento de consumo, a proteína animal por vegetal na sua alimentação. “A procura por produtos de base vegetal tem vindo a aumentar e estima-se que até 2025 cresça a uma taxa anual entre 6,4% e 6,5%”, adianta.

É com base nestes dados que a responsável da Nestlé acredita que a procura de alternativas aos alimentos de origem animal esteja a ser bem-sucedida. “E há potencial de seduzir segmentos mais jovens. Um exemplo disso é o facto de 54% da Geração Z evitar já o consumo de carne e de outros produtos de origem animal em relação a 34% dos baby boomers” diz, citando o inquérito mundial Health and Nutrition, da Euromonitor. Acrescenta também que, em Portugal, a “procura por alimentos mais saudáveis e mais sustentáveis por parte dos consumidores tem vindo a aumentar”.

Neste âmbito, a responsável acredita que o potencial de crescimento da categoria acelere nos próximos anos. “A expectativa é que o mercado continue a crescer a dois dígitos nos próximos anos, com um consumidor cada vez mais consciente dos seus hábitos alimentares e o seu consequente impacto na sustentabilidade do planeta”, afirma Joana Bandeira. Acreditando no potencial do mercado, a companhia suíça está em fase de preparação de mais lançamentos. “A Nestlé está realmente a acelerar bastante o seu processo de inovação e, ao mesmo tempo que preparávamos o lançamento da bebida vegetal Wunda, já estávamos a preparar o futuro, em workshops de criação”, refere a brand manager da marca. “Podemos dizer que mais segmentos de produtos estão previstos nesta área e alguns bastante inovadores, resultantes de imensa criatividade do nosso R&D, de descobertas científicas e do cruzamento de várias ideias que já estão em construção”, revela.

ALTERNATIVAS AOS PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL SÃO UMA TENDÊNCIA
Não é apenas na categoria de bebidas vegetais que o consumo de produtos à base de proteína vegetal está em fase de expansão. E não se trata de uma moda. É uma tendência vinculada à mudança de estilos de vida. “Os consumidores procuram cada vez mais alternativas de origem vegetal, mais sustentáveis, mas não querem abdicar do sabor. Para os consumidores que estão a experimentar produtos de origem vegetal, sabemos que um dos principais motivos é a sua saúde e depois surgem as preocupações com a sustentabilidade do nosso planeta e com o bem-estar animal”, explica Joana Bandeira. E acrescenta: “Quando os consumidores começam a excluir de todo produtos de origem animal, a sustentabilidade e o bem-estar animal passam a integrar o seu estilo de vida de forma mais abrangente, levando a mudanças de consumo mais radicais”.

Marta Araújo e Silva reitera a ideia de que existe uma tendência para o consumo de produtos mais saudáveis e sustentáveis, sem serem de origem animal. “As alterações climáticas a que assistimos, a preocupação com a sustentabilidade que hoje em dia cada vez mais consumidores apresentam, conduzem a estas alterações no consumo. Cada vez mais o consumidor está disponível para alterar os seus hábitos se isso representar um contributo para a proteção do nosso planeta. As bebidas, os iogurtes, em geral todos os produtos de base vegetal, permitem ao consumidor atingir esse objetivo”, conclui.

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