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Retalho quer ser parte da solução para descarbonização do meio ambiente

Por a 31 de Agosto de 2021 as 16:42

charging-cable-5417522_1280O número de carros elétricos está a crescer a nível global. E será uma tendência que se acentuará nos próximos anos, devido à necessidade de substituir as energias fósseis. O banco de investimento UBS estima que, em 2025, 20% dos novos carros comercializados globalmente funcionarão a energia elétrica. Antecipando um movimento que se acentua, as grandes cadeias de distribuição estão a apostar em carregadores de veículos elétricos.

É claro que muitos automobilistas terão os seus próprios carregadores. Mas haverá muito espaço para o aumento do número de carregadores elétricos no espaço público. Várias insígnias, contactadas pelo Hipersuper, estão a reforçar a rede ou a dar os primeiros passos, pretendendo acompanhar uma tendência global que aponta para o uso de soluções mais ecológicas ao nível de mobilidade.

O Pingo Doce, por exemplo, instalou o primeiro posto de carregamento, em 2019, na loja da Quinta do Conde. Hoje, a cadeia de retalho da Jerónimo Martins tem em funcionamento oito postos de carregamento. “No final deste ano, contamos ter operacionais 40 postos de carregamento”, diz fonte oficial da insígnia.

O Continente, neste capítulo, está numa fase mais avançada. Em 29 lojas, a insígnia da Sonae MC atingiu 122 postos de carregamento, com mais de “20 mil utilizações e 250MWh de energia fornecida”, revela José Rolo de Sousa, diretor de proteção de ativos da Sonae MC. A cadeia de retalho alimentar espera concluir o ano com 200 postos de carregamento Plug&Charge para veículos elétricos, “criando uma rede com dispersão nacional e preços competitivos iguais em todas as localizações”, acrescenta. O porquê, diz, relaciona-se com o projeto global da Sonae MC, lançado há anos, para melhorar a eficiência do consumo e da sustentabilidade ambiental. “Contribuirá para o compromisso da redução da pegada carbónica assumido na assinatura do Acordo de Paris”, explica.

O investimento é difícil de calcular para a Sonae. Pelo modo como está a ser desenvolvida a rede. “A Sonae MC está a trabalhar o Continente Plug&Charge como projeto orgânico, implementado em conjunto com outros projetos de sustentabilidade, o que dificulta definir um valor concreto de investimento em exclusivo neste projeto”, explica José Rolo de Sousa.

Quem tem vindo a investir fortemente nesta solução é o Lidl. O discounter alemão cobre atualmente mais de 50 lojas com postos de carregamento. “Até fevereiro de 2022, estaremos em cerca de 100 lojas, em localidades estrategicamente localizadas de forma a estarmos presentes em todas as capitais de distrito do País”, revela Milton Rego, administrador de serviços centrais do Lidl Portugal. A construção da rede data de 2017, com a implementação de postos de carregamento nas lojas de Cascais-Abóboda, Loures-Sacavém e Matosinhos-S. Mamede de Infesta.

Os carregadores do Lidl são multi-standard e de carregamento rápido. “Permitem uma recarga de cerca de 80% da bateria em 30 minutos com energia de fontes renováveis. Permitem o abastecimento durante uma ida regular às compras”, diz Milton Rego. A sustentabilidade ambiental tem sido um dos pilares da estratégia do Lidl nos últimos anos. E este é mais um elemento a acrescentar à equação. “A instalação de postos de carregamento para veículos elétricos nas lojas Lidl é uma dessas medidas, com o objetivo de promover uma mobilidade de baixo impacto ambiental”, defende o administrador do Lidl. Lembra, por isso, que a insígnia está a “trabalhar na implementação de medidas nas mais diferentes áreas da sua operação, mas também ajudando os consumidores a terem o foco da sustentabilidade nas suas escolhas”.

O investimento, até hoje, é de cerca de 3 milhões de euros. E este valor também tem em vista a melhoraria da experiência do cliente quando se dirige às lojas. “As preocupações ambientais da insígnia aliam-se a um reforço da conveniência oferecida aos seus clientes, melhorando ainda mais a sua experiência de compra ao aliar a sustentabilidade à poupança de tempo”, sentencia o administrador do Lidl.

A Auchan iniciou, em 2020, uma parceria com o operador de mobilidade elétrica Helexia, tendo começado logo então a disponibilizar postos de carregamento elétricos nas lojas. “Este projeto inseriu-se no compromisso, assumido tanto por nós como pela a Helexia, de contribuir para um modelo de desenvolvimento económico sustentável. A ideia é possibilitar aos clientes da Auchan carregar os seus veículos elétricos, com toda a comodidade, enquanto fazem compras”, afirma Paulo Monteiro, diretor de responsabilidade corporativa da Auchan. Hoje, a Auchan disponibiliza dez carregadores rápidos e dez carregadores normais, distribuídos pelas lojas de Alverca, a primeira a oferecer o serviço, Paço de Arcos, Famalicão, Santo Tirso e Maia. “Em breve teremos em Eiras, Castelo Branco e Lagoa”, revela o responsável.

O modelo da Auchan passa por desenvolver, em conjunto com a Helexia, infraestruturas que permitem que parte significativa da energia consumida seja em autoconsumo, havendo produção local de energia renovável e limpa. “Esta iniciativa em específico representa um investimento de 600 mil euros, assumido pela Helexia, que tem vindo a investir na criação de infraestruturas de carregamento, em localizações de conveniência, como forma de contribuir para a mobilidade elétrica, uma componente importante no caminho para a transição energética e adoção de energias limpas e renováveis”, esclarece o diretor de responsabilidade corporativa da Auchan.

O responsável recorda que o compromisso assumido pela Auchan e pela Helexia insere-se no âmbito do pacote legislativo apresentado pela Comissão Europeia, a 14 de julho, o qual prevê um conjunto de de medidas para reduzir as emissões de dióxido de carbono em pelo menos 55%, até 2030. “Esta aposta faz parte do nosso caminho de sustentabilidade, energias renováveis e mobilidade elétrica, que está completamente alinhado com os nossos valores e ambições para o Planeta. Acreditamos, assim, que este projeto contribui para a proliferação na mobilidade elétrica, através da disponibilização do carregamento em locais onde os veículos permanecem a carregar enquanto o cliente pode usufruir de serviços que lhe são convenientes, como é o caso das compras no hipermercado”, explica Paulo Monteiro. O responsável antevê, de resto, um forte impulso desta solução de mobilidade. “Apesar de ainda ser uma minoria, acreditamos que é uma tendência crescente. Afinal de contas, hoje o consumidor está cada vez mais consciente da necessidade de preservarmos os recursos do planeta”, afirma.

No âmbito da sua política de expansão em território português, a Aldi está em fase de planeamento de instalação de postos de carregamento nas lojas. “Desde há três anos estamos a implementar nas novas aberturas de lojas a pré-instalação elétrica para futuramente instalar os postos de carregamento”, adianta João Braz Teixeira, expansion managing director da Aldi Portugal. O responsável acrescenta que estão a ser estabelecidas diligências junto de vários operadores para posteriormente começarem a ser realizados os primeiros testes, previstos para início de 2022.

O investimento em painéis solares em algumas das lojas da Aldi, que representa 150 mil euros por cada supermercado, a solução de introduzir carregadores elétricos afigurou-se um passo lógico para a operação. E para atrair clientes. “Na Aldi estamos atentos às exigências do consumidor e procuramos não só acompanhar as tendências de mercado como, principalmente, interessa-nos implementar soluções de valor. Assumimos o compromisso de analisar as alternativas disponíveis no mercado e a viabilidade das mesmas para a nossa operação”, explica Braz Teixeira.

A insígnia a entrar mais recentemente em Portugal, a Mercadona, está a investir também nesta solução em Portugal. As 20 lojas que estavam a funcionar no final de 2020, em Portugal, contam com lugares próprios de estacionamento para o carregamento de veículos. “Nos últimos anos, e consciente da necessidade de adaptar as suas lojas aos novos modos de mobilidade, a empresa realizou um grande esforço para aumentar este tipo de lugares. No final de 2020, a Mercadona tinha instalado 1.433 pontos de carregamento nas suas instalações, nomeadamente lojas, escritórios e blocos logísticos”, diz fonte da Mercadona. São 1.382 em Espanha e 51 em Portugal. “A partir de abril de 2021, os postos existentes em Portugal passaram a estar ligados à rede MOBI.E., número que aumentará com a abertura de novas lojas”, acrescenta.

INSÍGNIAS QUEREM CAPTAR MAIS CLIENTES
O Continente nunca assume que pretende captar mais clientes para as suas lojas com a introdução dos postos de carregamento. Diz que se trata de mais um passo para descarbonizar a sociedade. “Não só pela promoção da mobilidade elétrica, mas também porque permite integrar nesta a produção do autoconsumo, oferecendo uma experiência 100% digital, comunicação simples e tarifas competitivas e iguais em todo o território nacional”, afirma José Rolo de Sousa. Quanto a um eventual retorno dos valores investidos, o responsável adianta que o investimento é uma forma de “garantir a sustentabilidade a longo prazo dos seus negócios”. “É uma prioridade e vai além dos investimentos incluídos neste projeto específico, como por exemplo, o investimento na abertura de novas lojas, que cumpram os mais elevados padrões de eficiência energética”, justifica Rolo de Sousa.

Por outro lado, esta solução já está prevista no programa de fidelização do Continente. “Por cada compra de valor igual ou superior a 30 euros em lojas Continente, o cliente recebe uma oferta em minutos para utilizar no serviço Continente Plug&Charge, 10 minutos, rápido, ou 30 minutos, lento, que acumulam em Cartão Continente”, explica.

O Lidl escusa-se a revelar o retorno do investimento nesta solução. A insígnia ajudou, no entanto, a evitar emissões de mais de 1.500 toneladas de dióxido de carbono. “Equivale à absorção de dióxido de carbono de mais de 70 mil árvores durante um ano, segundo o European Environment Agency”, indica Milton Rego. O responsável deixa, por outro lado em aberto, a possibilidade de criar programas de fidelização de clientes associados a esta solução. “No Lidl estamos permanentemente à procura de soluções inovadoras que possam contribuir para uma mobilidade de baixo impacto ambiental, aliando a conveniência à democratização da sustentabilidade, pelo que analisamos permanentemente que tipo de soluções inovadoras poderemos vir a implementar”, acrescenta. O mesmo sucede com a Auchan, que não descarta, de todo, a possibilidade para a frente um programa para fidelizar os seus clientes. “Não temos implementado nenhum programa de fidelização a partir dos postos de carregamento, mas, no futuro, é uma questão certamente a considerar”, afirma Paulo Monteiro.

Da parte da Aldi, a insígnia está ainda a implementar a introdução do serviço tendo em vista a captação de novos clientes. “Este projeto está alinhado com a missão de oferecer aos portugueses tudo o que precisam para o ser dia-a-dia, de forma simples. Por essa razão, acreditamos que este novo serviço terá potencial para atrair novos clientes e para aumentar a satisfação dos atuais com as nossas lojas”, salienta João Braz Teixeira. De resto, o responsável afirma que a implementação de programas de fidelização não é uma opção que possa ser descartada. “Mas não temos, de momento, uma estratégia definida para esta implementação”, conclui.

Artigo publicado originalmente na edição número 393 do Hipersuper

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