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Como reinventar a indústria dos laticínios no pós-pandemia?

Por a 14 de Maio de 2021 as 15:53
 (PHOTO ROGER CASTELLON)


(Photo Roger Castellon)

Por Jaime Martín, CEO and founding partner at Lantern
Nos últimos dois anos, a indústria de laticínios – habitualmente conservadora – enfrentou grandes desafios por parte de marcas disruptivas. Apesar de ter uma das maiores penetrações no mercado doméstico, a inovação em novos sabores, receitas e formatos não tem sido suficiente para manter o crescimento devido à alta competição. Em vez disso, a indústria está a concentrar-se em novas tendências globais: Plant-based Foods (planos alimentares à base de plantas), o foco na saúde, snacks e ‘queijo 2.0’.

Plant-based Foods

Estes planos alimentares vão muito além do leite de soja do passado. Um caminho para o crescimento é por meio de canais alternativos, como a versão barista de leite vegetal para serviço de alimentação. Outra são as novas alternativas vegetais para produtos como os iogurtes, queijo ou gelados. Embora os resultados variem de acordo com o tipo de produto que as marcas procuram recriar sem vacas, vimos resultados empolgantes de empresas como Oatly e Alpro, ou mesmo Live Real Farms, que misturam leite de origem vegetal com leite lácteo.

Mesmo as empresas de laticínios que veem estes exemplos como uma moda passageira ou uma ameaça temporária, ainda têm muito a aprender com empresas como a Oatly. O senso de humor auto-depreciativo da marca ousada e a humanização da empresa através de, por exemplo, vídeos do seu CEO a cantar num campo de aveia, dão à marca um rosto em comparação com a alternativa opaca e industrial. As empresas de laticínios podem tirar ideias para se posicionarem como atraentes, sexy e engraçadas, em vez de entidades ‘pesadas’.

No nosso estudo ‘Green Revolution’, em 2019, vimos que 9% dos portugueses adultos eram vegans,vegetarianos ou flexitarianos, o que significa um universo total de 764.000 consumidores. Esta realidade alimentar está a crescer em todo o mundo devido às preocupações com a saúde, sustentabilidade e bem-estar animal, especialmente entre os consumidores mais jovens. As profundas raízes ideológicas deste movimento significam que ele veio para ficar e que só vai continuar a crescer.

O foco na saúde

Os consumidores preocupam-se cada vez mais com a sua saúde. Enquanto os produtos para a saúde eram, antigamente, enriquecidos com cálcio ou ômega-3, para baixar o colesterol, o novo foco passou a ser a prevenção e não a cura.

Uma das soluções que ajuda o consumidor a evitar doenças e a sentir-se melhor são os probióticos. A pesquisa sobre o impacto positivo das bactérias presentes nesses produtos está a criar várias oportunidades para a indústria de laticínios.

A comida orgânica é outra oportunidade. O mercado de alimentos biológicos da UE vale cerca de 40,7 mil milhões de euros. A Dinamarca lidera o grupo, com 13,3% de seu mercado de alimentos sendo de origem orgânica, mas acreditamos que o crescimento possa ser maior no sul da Europa devido a um aumento na oferta em lojas como o Lidl e o Aldi, que promovem produtos biológicos de forma ativa.

Snacks

O mercado dos lanches é outro setor de alto crescimento, a valer 540 mil milhões de dólares em todo o mundo e com crescimentos anuais de 4 a 5%, o que o torna significativamente maior do que outras categorias de alimentos.

A pandemia teve um grande impacto neste setor, ao quebrar os horários das refeições tradicionais e ao gerar novas oportunidades para pequenos lanches entre as refeições, tanto para adultos como para crianças. A recomendação generalizada de cinco refeições ao dia, por nutricionistas, potencia também a criação de momentos extras ao longo do dia para lanches.

Queijo 2.0

O Moon Cheese é um grande exemplo de como podemos tornar o queijo mais fácil de comer, esquecendo a sua imagem tradicional e ‘abafada’ e indo para um lanche rápido e fácil de levar ou compartilhar com os amigos. Outra categoria em que vemos potencial de crescimento são os requeijões, queijos cottage e a ricota: versões mais leves de queijo, mas com alto teor de proteína e baixo teor de gordura. Quando os colocamos num formato atraente, fácil de comer e de dose única, como fazem os americanos do RifRaf, é uma receita para o sucesso.

Por fim, deixamos algumas dicas gerais para quem trabalha na indústria dos laticínios: Invistam desde o início naquela que é a vossa história e na elasticidade das vossas marcas para facilitar o crescimento em novas categorias. Tornem os vossos produtos lácteos atraentes para as gerações mais jovens… e não tão jovens. Sejam ousados e experimentais. Não caiam na armadilha da estagnação, quando vivemos num mundo em rápida mudança.

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