Data Center Destaque Destaque Homepage FMCG Homepage Newsletter

Marcas de queijo faturam 567 milhões de euros nos últimos 12 meses

Por a 5 de Maio de 2021 as 16:39

assortment-pieces-cheese (1)Marcas de queijo crescem 6% em volume e em valor nos canais de retalho nos últimos 12 meses. Venderam 76 milhões de quilos, o que representa um volume de negócios de 567,4 milhões de euros. Os supermercados de grande dimensão viram crescer procura em 2020, aumentando preponderância como local de compra

É a maior categoria em valor do setor do grande consumo e, nos últimos 12 meses, consolidou a sua posição de liderança. As marcas de queijo com operação em Portugal venderam 76 milhões de quilos nos canais de retalho, um crescimento de 6% em relação ao período homólogo, o que representa um volume de negócios de 567,4 milhões de euros. O crescimento em valor da categoria presente em 98% dos lares portugueses também foi de 6%, em termos homólogos, segundo dados fornecidos pela NielsenIQ.

A Bel Portugal, dona das marcas Limiano, Terra Nostra e A vaca que ri, entre outras, faz um balanço positivo do ano que passou. “Por se tratar de uma categoria de elevada penetração, com uma forte ligação cultural nos hábitos de consumo dos portugueses, o queijo é uma categoria de sucesso em Portugal e é a maior categoria em volume de faturação no universo de mercados considerados nos bens de grande consumo do retalho, em Portugal. Em 2020, mantém a tendência de crescimento que havia registado nos anos anteriores. O contexto pandémico beneficiou o crescimento dos bens alimentares, em geral, e teve um impacto positivo no consumo de queijo”, declara Patrícia Caeiro, brand manager na Bel Portugal, em entrevista ao Hipersuper. “O confinamento obrigatório e o afastamento físico decorrente da pandemia provocaram alterações nos hábitos e comportamentos de compra dos portugueses. No último ano, foi possível observar-se uma aproximação ao meio online que veio acelerar o crescimento do comércio online. As condicionantes impostas pela pandemia, levaram os consumidores a evitar deslocarem-se e a frequentarem sítios com elevada afluência, acelerando e consolidando o crescimento do comércio de proximidade que ganhou relevância para as compras dia-a-dia, como os frescos. Por outro lado, o setor dos supermercados de grande dimensão viu crescer procura em 2020, aumentando preponderância como local de escolha de compra”, acrescenta.

Dina Duarte, diretora geral da Montiqueijo, lembra as principais transformações operadas pelas cadeias de distribuição alimentar logo no início da pandemia e os seus efeitos na evolução das vendas. “No início do ano, era visível a evolução das vendas, no entanto, com o aparecimento da pandemia em Portugal tudo se alterou. O mercado nacional sofreu, em 2020, grandes alterações com as restrições para combater a pandemia, nomeadamente, as medidas imediatas dos canais de distribuição na redução das referências em prateleira, a restrição de entradas em lojas, a restrição de horários de circulação e horários de abertura e fecho lojas. Essas alterações tiveram efeitos diretos nas vendas porque houve uma redução de consumidores nas lojas e a própria atitude do consumidor mudou passando a preferir apenas os produtos essenciais”.  A empresa sentiu particularmente quebras de vendas no segmento de queijo fresco, o seu core business. “O mercado online disparou e passou a ser um canal primordial para muitas pessoas que não queriam ou não podiam ir às lojas. O queijo fresco não é um produto de eleição para compras online, o consumidor gosta de ver o produto na sua mão e, talvez por ser um produto muito sensível às diferenças de temperatura, o consumidor não arrisca a comprá-lo online. Neste sentido, houve um decréscimo muito significativo na produção do queijo fresco pois houve uma redução da sua procura e consumo”. O resultado foi uma quebra de faturação de 8,5% em relação a 2019 para a Montiqueijo.

A Lactogal, por sua vez, também relata um ano com “saldo positivo” na categoria de queijo, registando um crescimento de faturação nos clientes do canal retalho, apesar da quebra registada no Horeca e no canal Instituições. “Se, por um lado, assistimos a um decréscimo brutal do negócio no canal Horeca e Instituições, por outro, houve um crescimento muito significativo desta categoria no canal de consumo em casa. Ainda assim, neste canal, o comportamento da categoria não foi uniforme, com uma grande redução dos formatos vendidos em balcão de charcutaria, aumento dos formatos vendidos em livre serviço e quebra nos habituais picos sazonais, como a Páscoa e o Natal, associados a momentos de convívio familiar que, de algum modo, foram condicionados no decorrer do ano passado”, explica Teresa Abrunhosa, coordenadora de gestão de categorias na Lactogal. “Nesta conjuntura, destacou-se a excelente performance da marca Castelões, líder do segmento de queijos curados e que cresceu acima do segmento, da marca Milhafre dos Açores que está a fazer uma afirmação fantástica nos fatiados, com um crescimento cerca de três vezes superior ao crescimento do segmento, e da Matinal, o queijo fresco que cresceu cinco vezes mais que o seu segmento. Estas performances permitiram à Lactogal, no conjunto das suas marcas, crescer na categoria com uma variação positiva acima do conjunto de marcas comerciais do mercado”, detalha a responsável.

Já as marcas Fonte Mourisca e Pastor Serrano, da Lacto Serra, registaram “um bom crescimento e implantação” no grande retalho, conta, por sua vez, Sebastião Gomes, administrador da empresa da região da Beira Alta. A empresa aumentou as vendas em 2020 nas duas empresas – Lacto Serra e Queijaria Sabores do Dão – para um valor global de 9,5 milhões de euros. “No retalho tradicional sofremos com o confinamento, mas não perdemos clientes, o que dadas as circunstâncias podemos considerar positivo. No canal Horeca, que não fazemos diretamente, mas os clientes que temos o fazem, teve e está a ter enormes dificuldades. No entanto, apesar das contingências de 2020 e que continuam em 2021, conseguimos um crescimento no valor global das vendas”.

Alterações no padrão de compraclose-up-delicious-pile-cheese-top-each-other

É unânime entre as empresas ouvidas pelo Hipersuper: os padrões de compra de compra alteraram-se substancialmente no decorrer do ano passado. No caso da Tété, e apesar de ter ocorrido alguma “migração do consumo” da restauração para o lar, ainda assim não conseguiu compensar a perda verificada no canal Horeca, que também estava, em parte, sustentando pela procura gerada pelos turistas, afirma Cristina Amaro, diretora-geral da Tété. “Sentimos essa alteração de uma forma mais assinável na gama de queijos curados, visto que os produtos de menor gramagem, habitualmente disponibilizados como entrada nos restaurantes, deixaram de ter procura em detrimento de produtos da mesma gama, mas de maior gramagem. Mais uma evidência da mudança do local de consumo dos produtos”.

Cristina Amaro destaca a dinâmica da loja online da marca que estava desativada e foi relançada em abril de 2020. “Dinamizámos a imagem e adicionámos novas formas de pagamento e o balanço que fazemos é muito positivo. É claro que são vendas residuais, mas temos crescido de uma forma sustentada e mais relevante e criado relações mais próximas com os nossos consumidores”.

Sobre as expectativas para o ano em curso, a diretora-geral da Tété estima ter um ano em linha com 2020. “Ainda que possamos ambicionar que na segunda metade do segundo semestre possamos ter medidas menos restritivas e, em consequência disso, algum dinamismo económico, não será em 2021 que o canal Horeca recuperará as vendas que tinha em 2019”, adivinha. Apesar de ter reduzido “drasticamente os investimentos previstos” em 2020, de forma a assegurar “bons níveis de liquidez e solvabilidade”, a empresa vai investir este ano no lançamento de um novo produto, idealizado no ano passado e que acabou por ficar em stand by.

Lacto Serra conclui este ano investimento de €2 milhões

A Lacto Serra vai concluir este ano um investimento superior a dois milhões de euros na fábrica de Aguiar da Beira no sentido de aumentar a capacidade de produção, de armazenamento e das câmaras de cura do produto final. “Neste investimento tivemos igualmente uma enorme preocupação ambiental, adaptando a empresa às novas realidades ambientais, investindo em energias renováveis e na construção de uma moderna ETAR”, detalha Sebastião Gomes.

Apesar de ter mantido em marcha este investimento, a pandemia acabou por refrear os novos desenvolvimentos. “Apesar de não perdermos o foco e o objetivo, a preocupação com outros processos afetou e está a afetar as datas de conclusão de alguns desenvolvimentos. A instabilidade e do mercado e a não recetividade para grandes apostas fora do que está consolidado também nos leva a abrandar um pouco esses desenvolvimentos”.

Assim, dois dos grandes objetivos da produtora de queijo da Beira Alta passa por consolidar o lançamento que fez ainda no ano passado, o queijo sem lactose, assim como o lançamento da marca Pastor Serrano. “Julgo que no mercado das inovações existe uma grande volatilidade dos consumidores. Com a aposta no queijo sem lactose, uma categoria que tem demonstrado ter o seu espaço no mercado e com crescimento, esperamos que o produto seja igualmente um sucesso”.

A compra online, os embalados, os preparados para culinária e o consumo de porções mais pequenas foram, na opinião do responsável, as grandes tendências de consumo do ano passado, que se vão manter este ano.

Apesar das dificuldades inerentes à pandemia, a ambição de Sebastião Gomes é voltar a crescer este ano. “Em 2021, temos a ambição e o objetivo de continuar a crescer nas vendas. Não perspetivamos um ano fácil, tal como não foi fácil 2020, mas a empresa está preparada e motivada para lutar contra as incertezas do mercado e atingirmos o objetivo que é vender mais com a qualidade que somos reconhecidos”.

Para o efeito, a empresa traçou um plano que prevê um aumento da atividade promocional, alargando as promoções a mais produtos, principalmente ao queijo de ovelha.

queijoMontiqueijo aposta na diferenciação no ponto de venda

Para a Montiqueijo, a crise pandémica tem sido especialmente dura. A empresa com fábrica na Grande Lisboa trabalha com dois tipos de produto especialmente impactados pelas alterações nos padrões de compra que se iniciaram no ano passado. “Trabalhamos com dois produtos muito específicos que se ressentem face à atual realidade pandémica. Um é o queijo fresco, que face à redução da sua produção gera excedente de matéria-prima (leite fresco), o outro é o queijo curado que obriga a uma organização da produção com 20 dias de antecedência (tempo de cura) e que, face às oscilações do mercado, podemos criar produto excedente ou inversamente a falta de produto, pois atravessamos um período com muita instabilidade na procura e nem sempre conseguimos prever os volumes de vendas”, explica Dina Duarte.

Face a esta instabilidade, a empresa toma decisões com base numa realidade praticamente diária. “Em 2021, ainda em pleno cenário pandémico, prevemos que o mercado ainda não estabilize nos próximos meses e, neste sentido, vamos trabalhando por um lado, com base no dia a dia e, por outro lado, analisando o que aconteceu nos períodos homólogos de 2020. Temos uma parte dos consumidores empobrecidos, que só compra o essencial, devido à realidade atual de muitas famílias que perderam os empregos ou se encontram privadas de trabalhar. No entanto, temos de continuar a trabalhar e a lutar por dias melhores”, acrescenta a diretora-geral.

O foco da Montiqueijo este ano estará na consolidação do lançamento efetuado no ano passado: Queijo Curado com Ervas Provençais. “Estamos muito surpreendidos pela recetividade do mercado ao novo produto”. Além disso, a empresa tem como estratégia para estes tempos de resiliência apostar na diferenciação. “Estrategicamente estamos a fazer um esforço para que a marca se destaque no ponto de venda, através de várias ações que temos vindo a desenvolver desde o início do ano e que iremos prolongar até ao final do ano”, conclui Dina Duarte.

Bel fecha 2020 com quota de 22% em valor no retalho

A Bel Portugal apresentou um aumento de vendas de 2% no ano passado, fechado o exercício com uma quota de mercado de 22% em valor no canal retalho, segundo dados da Nielsen fornecidos pela empresa.

Por marcas, a Limiano terminou 2020 com uma quota de mercado em valor de 8,5%, muito próxima de Terra Nostra, com uma participação de 7,8%. “Em 2020, ambas as marcas registaram uma boa performance em vendas, impulsionada pelo forte dinamismo do segmento pré-embalado”, revela Patrícia Caeiro. A Vaca que ri, por sua vez, registou 2,6% de quota e Babybel 2,4%. “Estas duas marcas, com uma proposta de consumo on-the-go e muito presentes nas escolhas de lanches saudáveis das crianças, foram penalizadas pelo efeito da pandemia, contrariando a tendência de crescimento acelerado apresentado nos últimos anos”.

Entre as principais tendências de consumo identificadas pela Bel, a brand manager destaca a aceleração da procura por opções alimentares mais saudáveis e naturais, que promovam a saúde e o bem-estar, assim como o aumento da procura por produtos de origem local “assente numa dupla motivação: contribuir para o fomento da economia nacional e para a redução do impacto ambiental através das suas escolhas alimentares”. A procura por produtos naturais e sustentáveis é uma tendência crescente no setor do grande consumo. “Os consumidores são cada vez mais exigentes e procuram produtos que tenham uma origem responsável, marcas comprometidas em ter um impacto ambiental positivo e que adotem práticas mais sustentáveis como, por exemplo, embalagens mais amigas do ambiente, comércio justo, agricultura regenerativa e bem-estar animal”, resume Patrícia Caeiro.

Identificadas as tendências, a BEL quer continuar a liderar o mercado através da inovação, ouvindo e respondendo às necessidades dos consumidores. “A inovação será cada vez mais determinante, sendo um veículo gerador de diferenciação por excelência e de entrega de valor acrescentado”.

Por isso, a empresa levou a cabo recentemente um “grande investimento” no desenvolvimento das linhas de produção dos novos snacks Limiano e Terra Nostra, as grandes apostas para 2021. No ano passado, a Bel lançou Limiano Pausa, que representa a entrada da marca no segmento de snacking saudável, dirigido a um target adulto e “seguindo uma macrotendência global”. Já este ano, lançou o Terra Nostra Snack, no mesmo segmento de mercado.

“O projeto de entrada da Bel no conceito de snacking adulto vinha a ser preparado há alguns anos. O lançamento, infelizmente, não ocorreu no contexto ideal, já que aconteceu durante o novo período de confinamento, em que os consumidores ficaram novamente obrigados a estar maioritariamente em casa. Este é um conceito de produto com maior apetência para o consumo out-of-home, é uma solução on-the-go e a conveniência é um dos seus principais atrativos”, explica a responsável. “De qualquer forma, e apesar do contexto adverso e do segmento de snacking de queijo apresentar nos últimos meses uma tendência de decréscimo acentuada, as taxas de repetição de compra do Limiano Pausa são bastante elevadas, o que nos dá verdadeiros sinais de que temos um conceito com elevado potencial de crescimento e de conquista de novos consumidores, que tem ainda muito por onde crescer”.

Lactogal tem “ambicioso” plano de lançamentos para 2021

A Lactogal, dona das marcas de queijo Castelões, Milhafre dos Açores e Matinal tem um “ambicioso” plano de lançamentos para este ano. “Novos produtos, novas embalagens, novos formatos para o canal Horeca e para o canal de consumo imediato. Neste momento, a empresa está a fazer o lançamento do queijo fresco Matinal Sem Lactose.

Os planos de lançamento previstos para 2020 concretizaram-se, embora tenha havido a “necessidade de reajustar os timings e a gestão de prioridades”. No ano passado, a empresa apresentou ao mercado de grande consumo o bipack 2X200gr de fatiados Castelões e, no final do ano, o Cura Especial Barrado Pimentão de Castelões. 2020 foi ainda o ano de consolidação do lançamento de fatias Milhafre dos Açores, com um crescimento superior a 50% no segmento de fatiados.

“A recetividade dos consumidores aos novos produtos tem sido muito positiva, o que nos tem permitido fazer um percurso de afirmação e consolidação da posição de marcas como Castelões, Milhafre dos Açores e Matinal nesta categoria. E também nos encoraja a prosseguir na nossa ambição”, sublinha Teresa Abrunhosa.

Em 2021, a empresa está empenhada em potenciar todas as oportunidades de crescimento. “O ano de 2021 está a revelar-se tão desafiante quanto 2020 havendo, no entanto, a vantagem de já termos alguma experiência adquirida e também a esperança de que a segunda metade do ano seja já de resolução da situação pandémica e de retorno a um quotidiano sem pandemia. Este retomar é particularmente crítico para todo negócio relacionado com o canal Horeca e Instituições”.

A ambição passa sobretudo por ganhar quota de mercado nos segmentos de mercado onde ainda não é líder de mercado. “Queremos seguir na nossa rota de ganho de posição relativa nos segmentos onde temos uma posição de mercado abaixo do que temos noutras categorias lácteas. Em 2021, manteremos grande foco em acompanhar a par e passo e evolução da situação, procurando responder de forma ágil e proativa e potenciar todas as oportunidades de crescimento”, termina.

*Texto originalmente publicado na edição 389 do Hipersuper

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *