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Marcas de conservas reforçam investimento em projetos de I&D

Por a 25 de Março de 2021 as 15:05
Processo de enlatamento na Conserveira Pinhais

Processo de enlatamento na Conserveira Pinhais

Num ano atípico, as marcas de conservas fecham acima da linha de água, beneficiando do aumento do consumo nos lares, mas, sobretudo, do investimento em novos produtos. Inovação é a palavra de ordem da indústria portuguesa

As conservas de peixe são uma das categorias que beneficiaram das mudanças nos hábitos de consumo forçadas pelo esforço de combate à Covid-19. Nos últimos doze meses, as vendas destes produtos nos canais de retalho subiram 13%, em termos homólogos, para quase 186 milhões de euros, segundo dados fornecidos pela NielsenIQ ao Hipersuper. Foram vendidos nos super, hipermercados e no canal de retalho tradicional 191 milhões de unidades de conservas de peixe, o que representa um crescimento homólogo de 12%.

Sofia Brandão, responsável de marketing e comunicação da Poveira, confirma em entrevista ao Hipersuper um crescimento das vendas da conserveira em 2020 e resume os atributos que permitem às conservas ser uma opção de consumo para milhares de consumidores portugueses. “As conservas de peixe são um produto básico nas nossas dispensas. A sua versatilidade, o estarem prontas a comer e a excelente relação qualidade/preço são atributos que vão ao encontro das necessidades dos consumidores no contexto de vida atual, em que estamos todos mais tempo em casa, aí fazemos todas as refeições, queremos por isso alimentos práticos, como as conservas, que nos proporcionem aquilo que procuramos: rapidez na preparação, aporte de nutrientes de alta qualidade, preços acessíveis e, claro, excelente sabor”.

Para a Bom Petisco 2020 também foi um bom ano. “A categoria das conservas de peixe fechou o ano a valer pouco mais de 200 milhões de euros e a Bom Petisco representou cerca 20% das escolhas dos consumidores, sendo a primeira marca do mercado”, revela a diretora de marketing, Catarina Ferraz.

A marca acabou por beneficiar num contexto em que os portugueses passam mais tempo dentro de casa. “A crise pandémica veio alterar os hábitos de compra dos portugueses e algumas categorias de FMCG (Fast Moving Consuming Goods) têm tido crescimentos significativos. Temos a sorte de estar inseridos numa dessas categorias, como a generalidade dos produtos relacionados com o consumo em casa”.

No caso da Conserveira Pinhais, Nuno Rocha, diretor comercial, conta que a empresa tem por tradição vender a grande maioria da produção fora das nossas fronteiras, conseguindo, assim, compensar parte da quebra de receita registada no mercado português no ano passado. “A presença e a distribuição dos nossos produtos e marcas no mercado doméstico centra-se sobretudo em lojas independentes de produtos gourmet e restauração especializada. Por esta opção estratégica, em virtude do confinamento direto e outras medidas restritivas em vigor no último ano, sentimos um claro abrandamento nas vendas em território nacional, dado o encerramento temporário da maioria dos estabelecimentos”, começa por dizer. Por outro lado, e “por motivos históricos”, a Conserveira Pinhais&Cia sempre esteve mais vocacionada para o mercado internacional, com um volume de exportação na ordem de 90% da sua produção. “Neste canal, pela dimensão virtualmente ilimitada do mercado potencial e constante procura de novas oportunidades, conseguimos compensar a queda sentida localmente com um crescimento global das vendas na ordem dos 35%, em relação ao ano anterior”, acrescenta.

Já a responsável de marketing e comunicação da Poveira ressalva que, apesar da procura por este tipo de produtos ter aumentado no mercado português, esta não foi constante ao longo do ano. “Em março de 2020, aquando do início da crise pandémica e do primeiro confinamento, sentimos de facto uma procura extraordinária, acima do habitual para aquela altura do ano. Conseguimos responder eficientemente, assegurando totalmente o fornecimento. No entanto, tratou-se de um pico que rapidamente estabilizou, quando clientes e consumidores se tranquilizaram quanto à garantia constante de abastecimento”. Por isso, Sofia atribui o crescimento das vendas em 2020 à própria dinâmica da empresa e “à capacidade de ir ao encontro das necessidades dos clientes e conseguir agarrar as oportunidades que foram surgindo”.

A conserveira Ramirez também sentiu uma “alteração na dinâmica de vendas” no ano passado, quer das vendas tradicionais quer das vendas online, apesar de a pandemia ter criado também “constrangimentos diversos, quer no abastecimento de matéria-prima, quer no dia-a-dia laboral, que exigem uma grande capacidade de adaptação às novas circunstâncias”, lembra Luis Avides Moreira, administrador adjunto.

 

Expectativas para 2021

Luis Moreira está confiante que os picos de encomendas como os verificados em março do ano passado, não vão acontecer em 2021 e, por isso, estima, no final deste ano, “ter um crescimento bastante mais moderado, mas ligeiramente acima do mercado”.

Com o negócio muito dependente do canal Horeca, um dos setores mais afetados pela pandemia, a conserveira Pinhais não prevê, para já, grandes alterações à dinâmica de venda dos seus produtos. “Seguindo-se a tendência presente e o prolongamento da necessidade de estarmos todos confinados em virtude de um bem maior, prevemos que a situação no mercado doméstico não se altere muito em relação ao período transato. Numa perspetiva mais otimista, contamos com uma retoma gradual da atividade económica nacional a partir do segundo semestre, aproximando-se da ‘normalidade’ durante o último trimestre de 2021”, resume Nuno Rocha.

Menos dependente do mercado português, a conserveira Poveira estima dar continuidade a uma evolução positiva das vendas em 2021, ressalvando que é necessária alguma prudência na altura de falar em expectativas. “Perspetivamos continuar a crescer, ter uma evolução positiva no volume de vendas. Mas, sempre, com alguma prudência face à situação socioeconómica que estamos a viver”, salienta Sofia Brandão.

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Bom Petisco produz especialidades para agitar categoria

Também Catarina Ferraz revela ponderação no retrato do futuro próximo. “2021 continua a ser cheio de desafios e incertezas, pelo que o nosso principal objetivo é garantir tranquilidade e segurança. Queremos que os consumidores continuem a confiar na marca e nos produtos, pelo que é essencial mantermos o dinamismo na categoria”. Em como é que a marca está a fazer isso? Através do reforço do lançamento de produtos na categoria que designou de “especialidades”. A marca aumentou a família de conservas de peixe com o lançamento muito recente de duas referências: Bacalhau e Filetes de Cavala em azeite virgem extra. Estes produtos posicionam-se no segmento de especialidades e estão disponíveis nas cadeias de super e hipermercados e na loja online da marca. “Esta aposta no segmento de especialidades reforça o compromisso em valorizar a categoria com produtos diferenciadores”.

Estes novos produtos chegam ao mercado depois de a empresa apresentar ao mercado, no ano passado, uma gama de sardinhas em conserva e uma nova linha de atum biológico. Sobre a aposta no biológico, a diretora de marketing adianta que o objetivo é “demonstrar que Bom Petisco é uma marca responsável, que assume compromissos para com os consumidores e procura salvaguardar o que de melhor a natureza tem para dar”, lembrando que o “segmento bio & saudável tem dinâmicas e regras muito próprias, diferentes da categoria das conservas, e que a entrada de Bom Petisco já veio impor um novo ritmo. A adesão dos clientes tem sido muito representativa e o feedback dos consumidores é extremamente positivo”.

Quanto à gama de sardinhas, Catarina Ferraz acredita que veio agitar a categoria. “A gama de sardinhas foi lançada no primeiro semestre de 2019 e veio, sem dúvida, agitar a categoria. Dezoito meses depois, as sardinhas são o segmento das conservas de peixe com maiores crescimentos em volume e valor, consequência da forma como abordámos o mercado. Bom Petisco trouxe qualidade e modernidade, atributos que chamaram novos consumidores para o segmento e que consolidaram a liderança da marca, agora também nas sardinhas”.

A marca liderou no ano passado o mercado português de conservas de peixe com uma quota de 20% e uma diferença de dez pontos percentuais em relação à segunda marca do mercado, de acordo com dados da NielsenIQ, citados pela Bom Petisco.

A par do lançamento de novos produtos, no início deste ano a marca apresentou ainda a sua loja online. “Este é um projeto muito relevante, onde os consumidores podem ter uma experiência de compra diferenciadora, numa loja aberta 24 horas por dia, com toda a nossa gama disponível e entregas em até 48 horas”.  “Os nossos lançamentos são formas de mostrarmos o nosso compromisso para com os clientes e consumidores, que cada vez mais privilegiam as marcas que constroem o seu caminho com base em valor, qualidade e inovação”, reitera Catarina Ferraz.

A inovação tem permitido ainda à marca ganhar espaço às marcas de distribuição que têm vindo a ser uma opção para um número cada vez maior de consumidores, sobretudo os que mais sofrem as consequências da crise económica e pandémica. “As marcas de elevada qualidade e notoriedade apresentam maior procura, principalmente devido à alteração dos hábitos de consumo dos portugueses. Os consumidores cuja situação financeira foi menos atingida pela pandemia, vêem-se obrigados a deixar de fazer as suas refeições fora de casa e escolhem as suas marcas de confiança para os acompanhar nesta mudança.  Além disso, acreditamos que as preocupações crescentes com a saúde estão também no mindset de quem escolhe estas marcas como garantia de segurança”.

 

Pinhais alarga portefólio e reforça I&D

A centenária Conserveira Pinhais – que, no ano passado, faturou cinco milhões de euros –  lançou em 2020 uma gama limitada de ovas de sardinha, também dentro da linha das especialidades, “que foi um sucesso junto dos verdadeiros aficionados”, conta Nuno Rocha. A empresa lançou também o Azeite Extra-Virgem 500ml e a inovação galardoada internacionalmente do Azeite Picante 250mL (com Piri-piri), ambos sob a marca Nuri. “Na gama de azeites a aceitação dos consumidores tem sido bastante positiva e consideramos que as expectativas foram cumpridas ao ponto de se tornarem parte do nosso portefólio regular”.

Com o mundo a desacelerar em resposta à pandemia, a empresa não cruzou os braços e reforçou a equipa de investigação de desenvolvimento. E inovar neste setor não é tarefa fácil. “Enquanto empresa que prima pelo foco numa tradição artesanal muito particular, sempre que lançamos um novo produto, privilegiamos que este se enquadre nos valores do core business da Conserveira Pinhais, com o máximo respeito pelos sabores genuínos de alta qualidade, valorizando o carácter humano e familiar intrínseco, sempre na ambição de produzir a melhor sardinha do mundo”, explica o diretor de marketing.

A empresa está agora a preparar o lançamento de uma nova linha de produtos. “Tivemos de nos ajustar à velocidade atual do mundo, desacelerando um pouco no mercado e em novos lançamentos, mas aproveitando para nos focar mais na estratégia e no desenvolvimento. Com este mote, em 2020 reforçámos internamente a nossa equipa de qualidade para um maior foco na I&D de novos produtos. De momento, encontramo-nos em fase de testes para uma nova linha de produtos, que pretendemos lançar durante 2021. De momento, não podemos divulgar mais detalhes, mas contamos apurar o gosto às expectativas dos nossos consumidores”.

A conserveira tem ainda em marcha o investimento no Museu-Vivo da Pinhais, que deverá inaugurar no segundo semestre de 2021. “O grande investimento para este ano centra-se na abertura do Museu-Vivo da Pinhais&Cia, uma iniciativa inédita que visa a valorização do património material (a fábrica) e imaterial (as pessoas e o processo artesanal) e do centenário e que certamente terá impacto positivo a nível regional e internacional”.

A loja online da Pinhais está disponível em qualquer ponto do mundo e agora a intenção é “reforçar a presença digital, particularmente em social media e e-commerce”.

 

Sofia Brandão, responsável de marketing e comunicação da Poveira

Sofia Brandão, responsável de marketing e comunicação da Poveira

Poveira lança nova marca e estende leque de produtos  

A Conserveira Poveira faturou no ano passado 44 milhões de euros, cifra que deverá crescer para 50 milhões de euros no final de 2021. Em 2020, lançou uma nova marca de conservas de peixe com espécies com as quais ainda não tinha trabalhado, como o salmão. Esta marca veio para ficar. “Já tem distribuição nacional e uma oferta alargada de produtos, desde atum, sardinha a outras especialidades, das quais destacamos o salmão”, afirma Sofia Brandão.

Apesar da crise pandémica, a empresa decidiu reforçar o departamento de investigação e desenvolvimento. “A Poveira fortaleceu o seu departamento de I+D, dando-lhe mais meios para poder fazer mais investigação, experimentação para melhorar produtos existentes ou desenvolver novos”. Neste sentido, “temos previsto o lançamento de várias novidades, que estamos a apresentar aos nossos clientes. Gostaríamos, claro, de as concretizar, mas, isso dependerá do mercado”.

 

Ramirez lança super atum e arrisca novos públicos

À dinâmica de vendas registada no ano passado pela Ramirez não são certamente alheias as inovações apresentadas pela empresa. Logo no primeiro confinamento, lançou duas referências com mais 10% de atum (atum selvagem em óleo vegetal e em azeite), dois dos produtos desta marca com maior rotação. “Foi a forma que encontrámos de resposta social a um momento que a todos afeta. Este contexto de epidemia mundial desafia-nos a repensar a nossa atividade e a encontrar soluções construtivas para todos”, acredita Luis Avides Moreira.

Depois, a Ramirez lançou no mercado a Linha Bio em sardinhas e filetes de atum e, o seu projeto mais inovador em 2020, o produto Tunafunctional, uma “super-conserva” de atum. “Testada cientificamente, favorece o reforço do sistema imunitário, a preservação da saúde e o bem-estar. Foi desenvolvido pelo Centro de Nutrição Ramirez, testado cientificamente com a colaboração da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica e do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto”, conta o administrador da conserveira.

A empresa centenária é um exemplo de perseverança. A crise sanitária e económica acabou por se tornar uma fonte de motivação para fazer mais. “Desde 1853, a nossa história é fértil em episódios de investimento em períodos de crise. Apesar do contexto pandémico, reforçamos os nossos investimentos em diversas áreas. Da área produtiva à venda digital, com passagem pela conceção e desenvolvimento de produto”.

A conserveira que no ano passado registou um crescimento de 30% no volume de negócios está a preparar novos lançamentos para este ano. “Estamos a preparar novas referências e com peixes que ainda não trabalhávamos. Oportunamente, poderemos revelar um pouco mais sobre isso”, indica o responsável. Para já, a empresa coloca todas as fichas na divulgação do “super atum”, que “está a merecer muita atenção dos nutricionistas, dos médicos de clínica geral e familiar e até de endocrinologistas. Os professores de educação física, os personal trainers e os fisiologistas também têm estado muito atentos ao produto”. Nesta fase de lançamento, a empresa privilegiou o canal digital, mas, em breve, o produto estará disponível nos “parceiros que se enquadrem na estratégia de posicionamento do produto”, conclui.


*Artigo originalmente publicado na edição 388 do Jornal Hipersuper 

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