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“O fator preço foi o mais marcante para o aumento da quota de mercado”

Por a 28 de Dezembro de 2020 as 12:20

Martinho_Lopes_121120_001Martinho Lopes, administrador do Intermarché, explica como a cadeia de distribuição conseguiu conquistar quota de mercado em Portugal. Em entrevista ao Hipersuper, o responsável considera que o lançamento da marca própria PorSi

O Intermarché registou um crescimento nas vendas no primeiro semestre. O terceiro trimestre ficou marcado por uma contração, derivada das quebras no turismo e da ausência dos nossos emigrantes, explica Martinho Lopes. “Houve, por parte dos clientes, uma maior procura por lojas mais próximas que dessem todas as garantias de segurança”, considera.

O Intermarché, segundo dados da Kantar, ganhou quota de mercado. A que se fica a dever este registo? Qual é atualmente a quota de mercado da insígnia?

O Intermarché tem vindo a ganhar quota no mercado nacional, uma situação que está relacionada com diferentes fatores. Por um lado, a modernização dos pontos de venda, que permitem uma experiência de compra prática e confortável, aspetos que o consumidor tende a valorizar. Por outro lado, atribuiria responsabilidade ao nosso modelo de negócio, que é único na grande distribuição e que se distingue pelos pontos de venda adaptados às realidades locais sempre com o apoio a montante de uma estrutura sólida e coesa do grupo Os Mosqueteiros. Destaco ainda a importância do lançamento da nova marca própria PorSi, que é um sucesso desde o primeiro dia pois oferece ao consumidor uma gama de produtos de qualidade a preços baixos, gerando grande dinâmica comercial.


A pandemia, tendo em conta o posicionamento da insígnia, favoreceu a ida de mais pessoas às lojas do Intermarché?

Houve, por parte dos clientes, uma maior procura por lojas mais próximas que dessem todas as garantias de segurança. Desde o início da pandemia que a insígnia adotou todas as medidas preconizadas pela Direção-Geral de Saúde. O facto de termos agido rápido e o nosso posicionamento comercial foram de facto pontos a favor.

O fator preço contribuiu para o aumento de quota?

Acreditamos que foram vários os fatores que nos fizeram crescer nestas circunstâncias invulgares. O fator preço foi provavelmente o mais marcante. O Intermarché tem, desde 2019, 500 produtos com preços baixos todo ano e ao nível dos preços das promoções dos concorrentes. Esta questão do preço aliado à qualidade superior da nossa oferta é um dos pontos positivos que nos impulsionou o crescimento, mas não só. O nosso modelo de negócio que permite uma proximidade ímpar aos nossos clientes também é determinante. Diria assim que a proximidade ao cliente, a qualidade da oferta a preços baixos e a reformulação e modernização dos pontos de venda foram fatores chave no crescimento.

Quando a pandemia chegou a Portugal, houve vários ciclos de consumo na distribuição, segundo relatam as consultoras. Neste âmbito, o que sucedeu com o Intermaché em termos de frequência de idas às lojas, número de produtos no carrinho de compras, e volume de negócios?

Assistimos a um crescimento muito acentuado do volume de negócios, do aumento do cesto médio e a uma redução de número de clientes diário fruto das medidas tomadas nas diferentes fases de resposta à pandemia.

Como correram as vendas no primeiro semestre em comparação com o período homólogo do ano anterior em Portugal?

Houve um aumento significativo de vendas no primeiro semestre.

No terceiro trimestre registou-se uma estabilização das vendas em comparação com o período de confinamento? E na comparação com o trimestre homólogo?

Todo o mercado assistiu a uma contração no terceiro trimestre, relacionada com as quebras no turismo e com a ausência dos nossos emigrantes.

E que estimativas têm até ao final do ano?

As lojas estão a demonstrar uma boa performance e acreditamos que com toda a nossa dinâmica promocional neste último trimestre e com o reforço da nossa presença no território nacional, com a abertura de sete novas lojas, vamos conseguir manter os bons resultados.

E até que ponto a rentabilidade da operação foi afetada com o aumento dos custos em medidas de segurança?

Dado o modelo de negócio do grupo, composto por empresários independentes não conseguimos chegar a um somatório do investimento efetuado. Neste período a prioridade de todos foi a segurança de colaboradores e clientes. Todas as diretrizes e normas das entidades responsáveis foram colocadas em prática. O uso de viseiras e máscaras pelos funcionários, a colocação de acrílicos nas áreas de contacto do colaborador com o cliente, marcações no chão de forma a promover o distanciamento, pontos de desinfeção de mãos, no fundo tem sido feito tudo o que está ao alcance dos gestores de loja para contribuir para a segurança de todos.

Recuando, as vendas em França do Intermarché subiram 1,9% para 23,5 mil milhões de euros em 2019. Quanto foram em Portugal?

As vendas em 2019 situaram-se nos 2,09 mil milhões de euros, com combustível. Este valor representou um crescimento de mais de 3%.

A criação há cerca de um ano da marca Por Si teve impacto no desempenho de vendas dos produtos de marca própria?

A marca PorSi foi apresentada ao mercado no final de 2019 e desde essa altura que tem sido uma história de sucesso. Atualmente a marca representa cerca de 25% das vendas e temos como objetivo chegar aos 30%. Este crescimento é o resultado da grande recetividade que a marca recebeu junto dos consumidores.

Contavam chegar às 2.000 mil referências até 2020. Essa meta irá ser cumprida?

Não só vai cumprida como largamente ultrapassada. No ano em que foi lançada, a marca PorSi contava com mil referências. Neste momento, contamos com cerca de 2000 produtos, mas queremos terminar o ano de 2020 com 2500 referências no linear. Em 2021, a meta é alcançarmos as 3.400 referências de produtos que cobrem praticamente todas as categorias, do alimentar.

Aquando do lançamento, referiu tratar-se de produtos sustentáveis e inovadores. Em que categorias têm imprimido mais inovação e sustentabilidade nos produtos de marca própria? Estão a apostar mais em produtos biológicos?

Com o lançamento da PorSi, o principal objetivo foi criar uma marca transversal e diferenciadora, com artigos inovadores que respondessem às necessidades e expetativas das famílias, nomeadamente com produtos mais sustentáveis, ecológicos e com menor índice de sal, gorduras e açúcar, em linha com a Estratégia Nacional de Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral de Saúde. Foi também neste sentido que a marca criou diferentes segmentos na marca umbrella: PorSi Bio, PorSi Viva Bem e PorSi Select, que oferecem soluções para todos os consumidores, com os melhores padrões de qualidade.

Pode dar-me dados sobre a redução dos níveis de açúcar, sal e gordura nos produtos?

Com a nossa marca PorSi, reforçamos o nosso objetivo de oferecer alimentos mais equilibrados ao consumidor. Seguindo a Estratégia Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direcção-Geral da Saúde temos estado a trabalhar na redução dos níveis de açúcar e sal. Só em 2019 reduzimos 25 500 quilos em açúcar e sal. A nossa lasanha congelada tem hoje menos de 500 quilos de sal por ano, nos iogurtes líquidos e aromatizados reduzimos 16 toneladas de açúcar por ano e nos sumos de fruta conseguimos diminuir 9 toneladas de açúcar por ano.

Como têm trabalhado o eixo da sustentabilidade ao nível das embalagens?

Ao nível das embalagens a marca PorSi tem desenvolvido esforços com o objetivo de reduzir o material de embalagem e, em alguns casos, substituir o plástico virgem de algumas referências de embalagens, por outros materiais ou ainda incorporar plástico reciclado, mas não só. Recentemente, o Intermarché substituiu a embalagem multipack de plástico de algumas das suas referências de leite UHT Meio Gordo PorSi, por uma embalagem multipack em cartão. Foram ainda efetuadas alterações à embalagem de algumas referências de Café torrado moído em cápsulas PorSi, onde foi eliminada a componente plástico da embalagem, e reduzida a gramagem de cartão usada, sendo que com estas alterações estima-se uma poupança total anual de 5 toneladas de matéria plástica virgem, e uma poupança de 7 toneladas por ano de papel. Em muitas referências a marca tem repensado a gramagem das embalagens, de forma a ser adaptada às necessidades dos consumidores, com quantidades ideais para o número de pessoas a que se destina, uma medida que visa combater o desperdício alimentar.  Atualmente o Intermarché disponibiliza nas suas lojas novas referências para artigos de loiça descartáveis feitos de materiais biodegradáveis, como madeira e milho. Estima-se que esta nova gama reduza em 23 toneladas a utilização anual de plástico descartável.

E ao nível de toda a operação?

Nas nossas lojas tentamos adotar alternativas cada vez mais sustentáveis ecológicas. Nomeadamente ao nível do transporte dos alimentos, com a disponibilização de diferentes sacos reutilizáveis que os consumidores podem adquirir e, dessa forma, acabar com o plástico de uso único. Falamos dos sacos de papel, sem valor acrescido, sacos de algodão por 0,89 euros e ainda um kit de 2 sacos de polyester a 0,99 euros. Ao nível da logística temos ainda um sistema de transporte que proporciona economia em toda a cadeia de abastecimento.

Pode dar exemplos?

Os nossos camiões, depois de abastecer os pontos de  venda, no regresso às nossas bases logísticas passam pelos produtores ou nas lotas para abastecer com novos produtos, otimizando o transporte.  Existe da nossa parte uma grande preocupação em otimizar recursos e em reduzir a nossa pegada. Outra medida que implementámos foi a otimização do transporte de frutas, carne e peixe, para o qual usamos sempre caixas reutilizáveis, o que se traduziu na poupança de mais de 40 000 toneladas de cartão.  Também no âmbito das novas aberturas todos os pontos de venda têm aberto com paneis fotovoltaicos o que permite uma poupança energética até 40%.

Que relação estão a trabalhar com os fornecedores para melhorarem os riscos ao nível de sustentabilidade?

Ao longo do tempo, tem vindo a ser feito um trabalho de acompanhamento dos produtores e fornecedores para que adaptem a sua produção e a tornem cada vez mais sustentável em todas as fases do processo. Garantimos esse acompanhamento através de formações constantes, que asseguram formatos alternativos e mais sustentáveis. A sustentabilidade faz assim parte do ADN do Intermarché, sempre aliada à forte responsabilidade social e ao respeito pelo ambiente. Um bom exemplo está na produção primária onde todos os nossos produtores já trabalham sob o regime de produção integrada. Participámos também no projeto LIFE Food & Biodiversity que em Portugal se destinou a produção de carne em modo extensivo. Entre outras medidas, destaca-se a plantação de sobreiros nas herdades dos nossos produtores. No que respeita ainda aos próprios produtores, temos tido uma grande preocupação no seu desenvolvimento procurando sempre modos de embalamento que reduzam por um lado a sua pegada ecológica e, por outro o uso de embalagens que priorizam a utilização de materiais 100% recicláveis.

Neste momento, quantos fornecedores têm em Portugal? Qual o valor anual em compras a esses fornecedores?

No âmbito da marca PorSi, desenvolvemos parcerias com cerca de 200 fornecedores nacionais, que se traduzem em 1500 artigos produzidos em Portugal e que comercializamos nas nossas lojas. Este foi também um dos objetivos do nascimento marca: idealizada para o mercado nacional, com produtos de origem portuguesa.  Paralelamente, temos também o Programa Origens, que promove o desenvolvimento do setor primário português, apoiando a produção nacional e os fornecedores locais. Neste momento, trabalhamos com cerca de 700 produtores nacionais, entre estes associações cooperativas e particulares.  Todos os produtos nacionais estão devidamente identificados no ponto de venda e têm algumas especificidades: garantia de frescura, obedecendo a elevados padrões de qualidade e segurança alimentar; são produtos concebidos em explorações controladas periodicamente; todos os produtos têm um caderno de encargos associado sendo a sua produção sempre acompanhada por técnicos especializados do Intermarché.

Em relação a 2019, haverá um aumento do número de fornecedores?

A relação do Intermarché com os produtores nacionais data de há quase trinta anos, quando chegamos a Portugal. Está, por isso, no nosso ADN, e ainda se hoje mantém, seja no desenvolvimento do setor primário ou na indústria através da marca PorSi.

Anualmente, aumentamos o número de fornecedores e produtores nacionais com os quais trabalhamos, intrinsecamente ligado ao espetro de produtos nacionais que queremos cada vez mais oferecer nas nossas lojas.

Através do Intermarché, são vendidos produtos de produtores nacionais para a França, por exemplo?

Sim, oferecemos produtos nacionais nas nossas lojas em França. Sentimos essa necessidade porque há uma comunidade portuguesa forte em França, pelo que a procura de produtos nacionais é muito elevada. Neste momento temos 150 referências de produtos nacionais em França.

Qual o racional de abertura de lojas até 2023 em termos de localizações? Querem competir diretamente com que insígnia?

Até 2023, esperamos aumentar o parque de lojas de Norte a Sul do País. O objetivo principal com esta expansão é estarmos cada vez mais próximos dos consumidores e das suas comunidades, com respostas proativas às suas necessidades. São estas necessidades que nos fazem escolher os locais onde abrir novas posições.

Em termos logísticos que investimentos já foram feitos e o que se prevê até 2023?

Para além das aberturas realizámos investimentos significativos na nossa logística que permitiram tornar a operação mais eficiente, não só do ponto de vista económico como no da sustentabilidade. No caso das bases logísticas de Alcanena e Cantanhede, os investimentos realizados nos últimos anos permitiram aumentar significativamente as suas áreas bem como torná-las uma referência ao nível da eficiência energética.

Edição originalmente publicada na edição número 385 do Hipersuper

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