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Especial Bacalhau. “Congelado será cada vez mais o produto do futuro”

Por a 21 de Dezembro de 2017 as 11:44

A prática de demolhar o bacalhau está em desuso, sobretudo nos lares mais jovens. As marcas põem os trunfos em versões congeladas para atrair novos consumidores e converter os tradicionais à conveniência de um produto pronto a consumir

Fiel à mesa dos portugueses, que criaram “mil e uma” maneiras de o confecionar, o bacalhau faz parte da gastronomia nacional desde o século XIV. Cada português ingere em média 6,5 quilos deste peixe selvagem. Com o consumo já numa fase madura, a indústria começou a apostar no lançamento de soluções mais convenientes, em linha com um estilo de vida contemporâneo. Não é, por isso, de estranhar que as vendas têm crescido à boleia das propostas congeladas, prontas a cozinhar.

Como explica Manuel Carvalho Martins, New Business Development Manager da consultora Nielsen, o bacalhau congelado “continua a apresentar crescimentos de dois dígitos e a permitir que a categoria cresça”. Enquanto o bacalhau seco continua a perder vendas e importância. “Naturalmente que a época natalícia, pela concentração de vendas, poderá alterar algumas destas tendências, mas a manter-se o atual posicionamento de preços entre o seco e o congelado continuaremos a assistir a estas tendências e o congelado será cada vez mais o produto de futuro”, prevê o especialista da Nielsen.

As vendas de bacalhau congelado alcançaram 67,5 milhões de euros no comércio moderno e tradicional no ano móvel que terminou em setembro, um crescimento homólogo de 12%, segundo os mais recentes dados da Nielsen. A quantidade vendida cresceu na mesma proporção para um total de 8,1 milhões de quilos. Já o bacalhau seco, perdeu vendas (-1%) mas é ainda opção de compra para 74% dos lares nacionais. Alcançou no período de referência 244 milhões de euros em faturação.

“Estamos a assistir a uma histórica transferência de consumo do bacalhau salgado seco para o demolhado ultracongelado, com impacto no mercado e na indústria, cada vez mais focada no lançamento de novos produtos”, confirma Ricardo Alves, administrador da Riberalves, empresa para a qual a categoria de congelados representa já 62% da faturação global do grupo.

Mercado bipolarizado

Rui Costa e Sousa, Presidente da empresa Rui Costa e Sousa e Irmãos, dona da marca Sr. Bacalhau, prevê que as vendas do fiel amigo cheguem ao final de 2017 em linha com o ano anterior. “O consumo está estável” embora se identifique um “mercado bipolarizado”, no qual, por um lado, “aumenta a procura de bacalhau mais barato e de unidades de venda mais pequenas” e diminuem as vendas de “gamas médias” e, por outro, cresce a procura por “gamas mais nobres e de elevada qualidade”. Estas tendências estão relacionadas como o “empobrecimento da classe média e a manutenção do poder aquisitivo da classe média”, considera Rui Costa e Sousa.

Por ser um alimento com baixo teor de gordura e rico em proteína, o bacalhau tem beneficiado das novas tendências de alimentação saudável? Não, na opinião do Presidente da Rui Costa e Sousa. “Embora o bacalhau seja um dos poucos peixes selvagens à venda no mercado, não nos parece que os consumidores estejam sensíveis” às tendências ligadas à alimentação e saúde. Os portugueses têm um consumo de 57 quilos de pescado per capita, um valor impressionante que materializa uma cultura alimentar e não uma tendência relacionada com benefícios para a saúde”.

Qualidade e inovação da oferta

As oportunidades de crescimento para as marcas estão na qualidade e na inovação da oferta, comenta Nuno Almeida, responsável do departamento de Marketing da Lugrade. E o conhecimento real das necessidades dos consumidores constitui o elemento fundamental para a inovação. “Embora inovar não seja fácil para um produto como o bacalhau, a Lugrade pretende lançar todos os anos um produto novo no mercado”. Em 2017 a empresa apresentou os Lombos de Bacalhau demolhados sem espinha e o Bacalhau de Cura Vintage.

Na sua estratégia comercial, a empresa adapta a oferta a cada um dos canais de distribuição, tendo em conta critérios como “preço, embalagem e tipo de corte”, explica Nuno Almeida. A Lugrade tem mais de 2200 referências no portefólio.

Para conquistar os consumidores neste natal, época de excelência para o consumo deste peixe, a Riberalves lançou o Bacalhau Escolha do Pescador e uma nova referência com Flor de Sal. A empresa apresentou ainda o seu novo embaixador, o Chef Miguel Laffan, e está presente na novela “Espelho de Água” que evoca a história da pesca do bacalhau.

Exportar para crescer

Para fazer crescer as vendas, as empresas têm vindo cada vez mais a apostar nos mercados externos. A Rui Costa e Sousa exporta 55% do volume de negócios. A empresa vende para 30 países, muitos de língua portuguesa. O principal mercado internacional é o Brasil, onde a dona da Sr. Bacalhau abriu três delegações.

A Lugrade, por sua vez, continua a encontrar no mercado da saudade o principal impulsionador das vendas no exterior, com especial destaque a Suíça, Alemanha, Espanha, França e EUA. O passaporte de entrada para os mercados internacionais é o bacalhau seco.

Com um peso de 30% nas vendas, as exportações da Riberalves chegam a 20 países. Brasil, Angola e o centro da Europa, são as geografias com mais peso. “O grande ‘driver’ das exportações foi o bacalhau ultracongelado, um produto que veio abrir novos mercados e contornar problemas como a demolha do bacalhau, um constrangimento importante, nomeadamente fora de Portugal”, sublinha Ricardo Alves.

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