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Melhorar os bairros, manter a identidade. Por Maria José Almeida (JLL)

Por a 19 de Junho de 2017 as 11:42

Ao passearmos por Lisboa, saltam à vista as grandes alterações que as principais zonas de comércio e turismo registaram nos últimos anos. Não há dúvida que Portugal e Lisboa estão na moda. Prova disso são os inúmeros prémios com os quais a cidade tem sido distinguida.

A reabilitação urbana, a recuperação das praças e jardins e a devolução do rio à cidade, aliadas à grande oferta cultural de qualidade, à gastronomia, à segurança e ao clima, são algumas das caraterísticas que fazem de Lisboa uma cidade singular e muito atrativa. Os lisboetas são acolhedores, simpáticos e conferem à cidade um ambiente de proximidade.

Face a esta multiplicidade de fatores, estão reunidas as condições para a entrada das marcas de luxo e internacionais, dos conceitos inovadores, do design, dos restaurantes sofisticados e tantas outras coisas que oferecem uma incrível variedade e geram um grande dinamismo.

Contudo, é importante não esquecer que a cidade se caracteriza também pelos seus bairros, que têm uma identidade própria muito vincada, em que os residentes partilham de um sentimento de pertença. Até há algum tempo, o comércio e as práticas dos residentes eram imutáveis e conseguiam escapar à globalização. Com um consumidor cada vez mais exigente e ávido por novas experiências, torna-se difícil resistir a estas inevitáveis alterações.

Cada bairro possui uma história. Há que aproveitar o que caracteriza cada um, e dar-lhes nova vida tornando-os mais agradáveis aos seus habitantes.

Campo de Ourique

Campo de Ourique é um bairro com uma densidade residencial muito significativa, onde as pessoas vivem a rua, através das suas esplanadas sempre cheias, e de algum comércio de conveniência, que se encontra desorganizado. É necessário reorganizar todas as atividades e criar nichos de mercado que podem especificar cada zona. O Mercado de Campo de Ourique é a prova dessa inovação, em que os produtos gourmet coabitam, em perfeita harmonia, com os tradicionais, transformando uma ida ao local numa experiência muito interessante.

Alvalade

Alvalade é igualmente uma zona residencial madura, de fácil acesso, confortável, em que a estrutura de rua, onde é fácil caminhar, propicia o convívio. Nesta zona, o comércio é abundante mas é necessário dinamizá-lo. Tal como no bairro anterior há que criar nichos. Lentamente, percebendo o potencial da zona, alguns retalhistas, têm vindo a instalar-se aqui.

Roma

A Avenida de Roma, outrora a meca do retalho e a zona chique da cidade, onde todas as marcas queriam estar presentes, encontra-se esquecida. Os espaços comerciais deram lugar a lojas vazias onde é necessário intervir. Com a malha residencial existente e as escolas nas proximidades, torna-se necessário preencher estes locais com conceitos que sirvam os seus residentes e passantes.

São Bento

São Bento sempre foi local de eleição de antiquários e galerias de arte. Porque não agarrar neste potencial e dar-lhe vida, através de cafetarias, de workshops de arte e design, livrarias e conceitos culturais que se complementem entre si?

Avenidas Novas

Nas Avenidas Novas, mais propriamente na Avenida da República, que é o elo de ligação entre o norte e o centro de Lisboa, já começamos a ver intervenções que eram imprescindíveis. O alargamento dos passeios, os jardins e a criação de ciclovias, aliadas à recuperação dos edifícios, eram infraestruturas necessárias e que dão origem a oportunidades de negócio, para que os comerciantes olhem para estas localizações como destinos atrativos. A prova está nos inúmeros espaços que abriram no último ano, contribuindo para um comércio mais dinâmico.

Martim Moniz

O Martim Moniz é a zona multicultural por excelência. Aqui cruzam-se e coabitam as várias culturas e nacionalidades – hispânicos, europeus, africanus e asiáticos. Aproveitar esta multiculturalidade para uma viagem de cheiros, cores e sabores é dar e usufruir da riqueza de uma cidade, algo que não deve ser descurado. Transformar os centros comerciais que albergam estes comerciantes num grande bazar, onde todos possam oferecer os seus produtos e artigos; criar um mercado das especiarias; propiciar condições para o funcionamento de restaurantes indianos, chineses, asiáticos e nepaleses, é aumentar as condições para que estes espaços readquiram a sua dignidade.

A organização dos bairros não é difícil de fazer mas requer tempo e dedicação. Quem não se lembra da Baixa, ainda à maneira do século XIX, com o comércio organizado por atividades: a Rua dos Ferreiros, a Rua dos Sapateiros, a Rua da Conceição, a Rua dos Bacalhoeiros?

A Câmara Municipal de Lisboa e os especialistas em retalho deveriam conjugar esforços, trabalhando lado a lado no desenvolvimento de um plano estratégico a nível comercial sobre cada um destes bairros, para depois agir e desenvolver ações que permitam melhorar o seu tecido comercial. Todas estas ações irão beneficiar a paisagem urbana da cidade e a qualidade de vida dos seus residentes.

 

 

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