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Brasil, o início da recuperação?, por Miguel Murta Cardoso (consultor de retalho)

Por a 25 de Outubro de 2016 as 11:57

Por Miguel Murta Cardoso, consultor sénior especialista em retalho

No passado mês de agosto encerrou-se o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Foi o segundo presidente a perder o mandato dessa forma, seguindo-se a Fernando Collor de Mello, que foi desta vez ao Senado votar contra a ex-presidente.

Por sua vez, Lula foi formalmente acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo Ministério Público Federal, sendo apontado como o “comandante máximo” do esquema da Lava Jato. A “propinocracia” (propina é o termo utilizado para suborno no Brasil) da qual é acusado de liderar, tinha como objetivo financiar futuras campanhas eleitorais, manter o seu partido no poder e enriquecer de formas ilícitas. À data que escrevo o presente artigo, ainda não existe uma posição em relação ao futuro de Lula.

O novo Presidente do Brasil, Michel Temer, governará pelos próximos dois anos. Dependendo do seu trabalho e da sua popularidade junto do povo brasileiro, é possível que se venha a candidatar em 2018. Desde maio deste ano como interino, já conseguiu vitórias importantes como a redução da meta fiscal, revelando assim a sua força no Congresso. Mas não são essas conquistas que levam a população a deixar de o perseguir, seja através de manifestações realizadas na Avenida Paulista em São Paulo, seja nas tensas receções em Nova Iorque onde participou na Assembleia Geral das Nações Unidas no passado mês de setembro.

Consumo das famílias brasileiras

O resultado desta situação política e da crise económica pela qual o Brasil tem passado nos últimos anos têm consequências que impactam diretamente o consumo das famílias brasileiras. A inflação aumentou significativamente nos últimos anos atingindo os 10,7%, bem como as taxas de juro. A taxa Selic atingiu os 14,3% em 2015, dificultando o acesso ao crédito por parte dos consumidores. Por sua vez, o desemprego atingiu os 11,3% em junho passado e a renda per capita continua em queda. O resultado da evolução destes quatro indicadores não pode ser outro se não a queda do consumo das famílias brasileiras, 4,3% em 2015 e 7,3% no primeiro semestre de 2016. Está previsto fechar o ano com uma queda de 5,1% em relação a 2015.

Virando a página e colocando os olhos no futuro, a perspectiva é de uma melhoria da situação económica do país. A inflação e as taxas de juro já se encontram em queda. As medidas de Temer previstas para o início do próximo ano reverterão tanto o desemprego como a queda da renda per capita. Assim, o poder de compra e o nível de confiança do povo brasileiro aumentará criando impactos que serão visíveis no retalho. Esperemos que já em 2017!

Durante este período difícil observaram-se dois tipos de retalhistas. De um lado, estão os que adiaram os investimentos, queixaram-se da sua situação em esfera pública e perderam o foco na satisfação dos clientes. Do outro lado, estão os retalhistas que “correram atrás”. Foram consistentes e persistentes. E as pessoas que se encontram em dificuldades e têm o apoio desses retalhistas quando mais precisam, tornam-se cliente fiéis porque sabem com quem podem contar, seja nos bons ou nos maus momentos.

Os retalhistas que se enquadram no segundo grupo, fizeram de tudo para se aproximarem dos seus clientes. Algumas das iniciativas visíveis nos últimos meses já são muito comuns na Europa e mesmo em Portugal. Porém, em algumas áreas, o Brasil ainda tem uma grande margem de progressão. Alguns exemplos são:

  • Investimentos em novos formatos de venda, como cash & carry, lojas de proximidade e ecommerce;
  • Criação de programas de fidelidade com benefícios tangíveis para os seus clientes, saindo dos programas praticados habitualmente;
  • Aumento da facilidade do acesso ao crédito com condições diferenciadas;
  • Desenvolvimento de novas tecnologias nas lojas, como self checkout e aplicações para telemóvel para facilitar a compra;
  • Implementação de áreas de perecíveis com produtos com menor período de validade a um menor custo.

O período de estabilização já começou e o período de retoma está para breve. Muitos retalhistas ficaram pelo caminho. Os que ultrapassaram este período conturbado da melhor forma, poderão ter um futuro próspero. Os aumentos de eficiência operacionais pelos quais foram obrigados a passar vão trazer empresas mais fortes e com lucros mais atrativos.

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