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O Imperativo categórico do consumo

Por a 5 de Dezembro de 2014 as 14:48

Em 2008, Portugal era um dos países da União Europeia que mais consumia em percentagem do seu PIB nacional. O valor do consumo final – consumo privado mais consumo público – em percentagem do PIB era de 87,9% enquanto a média europeia era somente de 78,3% do PIB. Só a Grécia e o Chipre possuíam níveis de consumos mais elevados do que os de Portugal.

Estes números explicavam bem a evolução e modernização da sociedade portuguesa que teve como protagonista e motor de desenvolvimento: o consumo. O consumo pautava a qualidade de vida das famílias, o consumo era objectivo pessoal e colectivo, o consumo era a medida de bem-estar e de felicidade.

Este consumo foi alavancado por condições de crédito extraordinárias, suportadas pela crença num crescimento continuado da economia mundial e da própria economia portuguesa e era reflexo do deslumbramento do acesso fácil a coisas materiais e imateriais.

Como acontece com tudo o que atinge o seu limite de elasticidade, o consumo quebrou com o advento da crise que vivemos. Esta quebra não sendo temporária, é mais do que meramente contextual, será uma quebra infra-estrutural, logo, permanente.

Esta brutal quebra do consumo privado que se tem vindo a observar e a continuação que se perspectiva para o futuro próximo, encerra inevitavelmente novos paradigmas e a necessidade de repensar modelos de negócio e a extensão da oferta e da capacidade instalada.

O consumo é o maior fenómeno económico e civilizacional da humanidade e sejam quais forem as direcções em que irão evoluir as sociedades dos quatro cantos da terra, a marca comum a todas será sempre o consumo.

Cada vez mais sofisticado e alargado nas suas formas e tipologias, cada vez mais influenciador dos próprios comportamentos humanos, o fenómeno do consumo é universal e transversal a todos os estratos populacionais e etários, sejam quais forem as suas localizações geográficas, economias, credos, politicas, níveis sociais ou profissionais.

Na sociedade actual não nos apercebemos ou não queremos mesmo saber dos processos subjacentes a cada produto que consumimos e geralmente adoptamos uma atitude de indiferença em relação à forma como se produzem e comercializam os bens de consumo desde que consigamos possuí-los. Não conhecemos os verdadeiros impactes dos produtos que compramos e nem sequer temos efectiva consciência que não sabemos. Ora, não saber aquilo em que não se repara é a verdadeira essência da ilusão. E nós não queremos andar iludidos acerca de nada e queremos ser esclarecidos sobre tudo.

Vivemos, como afirma Bauman, numa sociedade líquida, ou seja, aquela em que as condições de actuação dos seus membros mudam antes que as formas de actuar se consolidem pelo que olhamos o mundo e todos os seus aspectos como objectos de consumo e, ao mesmo tempo, respiramos, nas palavras de Michaud, num estado gasoso de percepções evaporadas, de atmosferas sem contornos, da exaltação das percepções e do multissensorial.

Neste número comemorativo da Hipersuper e no qual me deram a honra de ser episodicamente o “director”, analisamos o imperativo categórico do consumo, o inquestionável futuro das lojas físicas e a imparável tendência da omnicanalidade como se estivéssemos numa festa da vida que é tão nossa quanto vossa.

*José Rousseau foi o director da edição especial de aniversário do HIPERSUPER.

 

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