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O olho da tempestade, por Pedro Nunes (Hays)

Por a 11 de Outubro de 2012 as 11:34

Por Pedro Nunes, Senior Consultant e Recruiting experts em Accountancy & Finance

 

Portugal encontra-se sob uma das maiores tempestades económicas dos últimos 30 anos. O clima de expansão económica registado no nosso país nos últimos 25 anos, desde a entrada na CEE (actual União Europeia) que nos proporcionou um aumento enorme nas nossas infra-estruturas (auto-estradas, pontes, túneis, imobiliário de habitação), nas nossas competências tecnológicas (cobertura de Internet de banda larga, centros de Ciência e Tecnologia) e na nossa capacidade de organizar eventos à escala mundial (Expo’98, Euro 2004), cedeu lugar, na actualidade, a um pacto para a austeridade e a um aumento enorme dos nossos impostos.

Este movimento elíptico descendente que pretende dar resposta a uma dívida pública acima das nossas capacidades de pagamento e a uma dificuldade acentuada no acesso ao crédito, e à consequente alavancagem financeira da Troika (FMI+Banco Central Europeu+União Europeia), coloca-nos a nós, enquanto contribuintes e agentes económicos, no centro de uma tempestade, que sem liderança forte, nos vaza de expectativas.

O nosso aparelho governativo e político, como figura de elemento de proa do nosso movimento de recuperação económica, tem trabalhado sob dois vectores: obtenção de capital para o pagamento da dívida externa e gestão da imagem externa do nosso País. Dado isto, delineou e pôs em prática Plano(s) de Austeridade, alimentados por aumento de impostos sobre o consumo (IVA), sobre os rendimentos (IRS) e sobre a propriedade (IMI).

Com efeito, ao momento em que este artigo está a ser escrito, os juros sobre os nossos tickets de dívida estão a descer, ao contrário dos homólogos espanhóis. E os elogios externos aos nossos sacrifícios, têm redobrado. No entanto, há uma questão de fundo que perpassa a todo este esforço comum – para todos os efeitos somos um dos países conotados como menos produtivos e, consequentemente, menos rentáveis. Quer isto dizer que quando o investidor pensa em Portugal para desenvolver os seus projectos, percepciona o país como de menor retorno do seu investimento, quando comparado com outros territórios. E a essência do esforço envolvido no nosso Plano de Recuperação Financeira está essencialmente centrado na captação de valor interno pela via de impostos e não pela via da redução da despesa. Ao actuarmos cegamente numa estratégia que impacta somente na disponibilidade de capital e não na criação do mesmo, resulta que o nosso problema de sempre – a produtividade – tenderá a prolongar-se.

Em parte compreende-se. A redução de despesas e o aumento da produtividade implicam investimentos. Há, no entanto, uma máxima la “palissiana”: sem investimento, não há crescimento e sem crescimento não há investimento externo, impossibilitando a saída do vórtice da nossa tempestade.

Ao contrário de muita gente, não pergunto porque pago tantos impostos; questiono-me, sim, se o valor dos meus impostos está a ser utilizado da forma mais eficaz ou estarão envolvidos no vórtice de uma tempestade perfeita?

 

 

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