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Mariana Matos, Secretária-Geral da Casa do Azeite: “A produção cresce mais do que o consumo”

Por a 22 de Dezembro de 2011 as 19:55

O nosso País consome cerca de 70.000 toneladas de azeite por ano. O sector movimenta cerca de 200 milhões de euros.

Hipersuper (H.): Os olivicultores da região de Borba prevêem um aumento de 80% na produção de azeite da campanha 2011/2012. As previsões optimistas estendem-se às restantes regiões produtoras do País?
Mariana Matos (M.M.): As previsões para a presente campanha apontam um aumento da produção nacional de azeite, de forma genérica. Em princípio, esse aumento será mais significativo na região do Alentejo, onde se concentram os maiores investimentos em novas plantações, progressivamente a entrar em produção. No entanto, na região de Trás-os-Montes, segunda região mais importante em termos de quantidades produzidas, também se prevê um bom ano para a produção de azeite.

H: Qual é a produção estimada na campanha que termina em Fevereiro de 2012?
M.M.: A estimativa de Casa do Azeite é que a produção de azeite na presente campanha atinja valores da ordem das 75.000 a 80.000 toneladas.

H: Portugal vai tornar-se auto- -suficiente na produção de azeite?
M.M.: Para satisfazer a procura interna e as exportações, Portugal necessita, anualmente, de cerca de 125.000 toneladas de azeite. Há cinco anos produzíamos cerca de 35.000 toneladas, hoje a nossa produção praticamente duplicou, mas ainda não é suficiente para satisfazer as necessidades totais do mercado. A Casa do Azeite prevê que a auto-suficiência possa ser atingida dentro de cinco ou seis anos.

H: De acordo com o INE, o consumo de azeite quase duplicou entre 1990 e 2003 em Portugal. Entre 2004 e 2010 o que aconteceu?
M.M.: O final dos anos 80 e início dos anos 90 do século passado representaram o nível mais baixo de consumo de azeite em Portugal, com valores da ordem dos 3 quilos per capita/ano. A partir dessa altura, e com a “redescoberta” do azeite como alimento saudável, com benefícios para a saúde, fomos assistindo a uma recuperação importante do consumo de azeite em Portugal. No entanto, e desde o início dos anos 2000, o consumo estagnou em valores da ordem dos 7 – 7,5 quilos per capita/ano, valores que se mantém até hoje.

H: Ainda há potencial para crescer no mercado interno?
M.M.: Se compararmos o consumo em Portugal com alguns países produtores europeus, com hábitos alimentares semelhantes aos nossos, como Espanha ou Itália, por exemplo, percebemos que o consumo per capita de azeite em Portugal é cerca de metade do consumo per capita nesses países, razão pela qual acreditamos que existe ainda um potencial de crescimento do consumo de azeite em Portugal.

H: Quanto é que representa o mercado nacional de azeite em volume e em valor?
M.M.: Em Portugal, consomem-se aproximadamente 70.000 toneladas de azeite por ano, sendo que cerca de 50.000 toneladas serão comercializadas através dos circuitos formais de distribuição (modernos canais de distribuição, tais como super e hipermercados e comércio tradicional de proximidade) e o restante constitui o que chamamos, de forma um pouco imprecisa, o “auto-consumo”.

Nesta parcela, que não é possível quantificar com rigor, encontra-se o azeite comercializado através de canais ditos “informais”, como feiras, mercados, vendas à porta dos lagares e o próprio azeite entregue aos produtores de azeitona, para consumo próprio, mas que, por vezes, acaba por ser vendido como produto “lá da terra” no mercado paralelo. Não raras vezes, os consumidores são enganados com produtos de menor qualidade.

O volume de negócios rondará os 200 milhões de euros.

H: Que desafios enfrenta o sector a curto, médio e longo prazo?
M.M.: O principal desafio do sector é a promoção do consumo de azeite, não só em Portugal mas no mundo, para conquistar novos consumidores. Nos últimos 20 anos, a produção mundial de azeite cresce a um ritmo superior ao consumo mundial, pelo que existe hoje em dia um problema de preço baixo do produto que advém, em parte, desse desequilíbrio entre oferta e procura.

Entendemos que será absolutamente crucial desenvolver o mercado mundial de azeite, tendo em conta que o consumo mundial de azeite representa apenas cerca de 4% do consumo mundial de gorduras vegetais, e conquistar novos consumidores, para que se possa atingir um equilíbrio que permita remunerar devidamente todos os agentes económicos ao longo da cadeia de valor, o que não acontece actualmente.

Com o nível de preços à produção que hoje se praticam no sector, uma larga fatia de produtores, nomeadamente a produção mais tradicional, está abaixo do seu limiar de rentabilidade, o que coloca em causa a viabilidade de muitas explorações.

 

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