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Entrevista a Luiz Branco, Presidente da WTM Europe, organizador do “Portugal Exporta”

Por a 8 de Julho de 2011 as 12:19

“O mercado brasileiro deverá ser encarado como uma excelente oportunidade de crescimento”

Economistas, analistas, ex-governante e actuais governantes colocaram, recentemente, as exportações como a via para solucionar muitos dos problemas da economia portuguesa e das respectivas empresas. Em Outubro, São Paulo será o centro de negócios para quem deseja exportar para o Brasil.

Hipersuper (H): No próximo mês de Outubro, realiza-se em São Paulo (Brasil) a Portugal Exporta 2011. O que é esta feira?
Luiz Branco (L.B.): A organização deste evento por parte da WTM partiu de uma solicitação do mercado brasileiro, onde efectuámos uma série de parcerias locais, com vista a desenvolver uma feira que aumente as ligações comerciais com o Brasil, promovendo o crescimento e volume de negócios do sector produtivo português. A Portugal Exporta 2011 procura ainda valorizar e evidenciar as indústrias de Portugal no Brasil; estimular o intercâmbio comercial no sentido económico entre os dois países; promover e fortalecer as indústrias, produtos e marcas portuguesas para, e através de, todos os media brasileiros; e expandir o mercado para regiões brasileiras ainda não exploradas comercialmente.

H: Com que objectivos organiza a WTM Europe este evento?
L.B.: O principal objectivo é oferecer às empresas portuguesas resultados financeiros positivos através de uma feira profissional focada exclusivamente em negócios. Ou seja, os compradores que lá estarão serão somente os interessados nos produtos e serviços de Portugal, inclusive com reuniões bilaterais pré-agendadas de acordo com os objetivos e necessidade dos expositores da feira.

H: Nos últimos meses, Portugal tem vivido um clima de incerteza e a exportação tem sido colocada como a única “salvação” para a economia portuguesa. Como é que se encontra, actualmente, a balança comercial entre Brasil e Portugal?
L.B.: O mercado brasileiro apresenta, actualmente, níveis de crescimento excepcionais. Representa já actualmente a sétima maior economia mundial e prevê-se que dentro de poucos anos ascenda ao quinto lugar. Isto significa que a classe média está também a crescer a um ritmo considerável e existe uma maior apetência e curiosidade para experimentar produtos importados que apresentem factores diferenciadores e se destaquem pela sua qualidade. Ou seja, a diferença do que o Brasil actualmente compra a Portugal e o potencial de crescimento é enorme, principalmente pelo facto de ainda existirem mais de 200 tipos de produtos e serviços portugueses que interessam ao mercado no Brasil.

H: Na comunicação do evento, referem que a Portugal Exporta foi criada para “responder à procura do mercado brasileiro”. Que procura é essa por parte do mercado brasileiro?
L.B.: O mais interessante e diferente neste evento é que a Portugal Exporta foi criada para responder à procura do mercado brasileiro. Assegurámos acordos e parcerias com as entidades locais e compradores interessados em produtos e serviços de Portugal, o que assegura a realização de negócios e um resultado altamente positivo para os expositores da feira. O nosso foco é a criação de negócio para um grupo selecto de expositores. A Portugal Exporta é uma feira profissional e não uma missão de intercâmbio, o que se traduz numa enorme diferença ao nível do custo/benefício por parte de quem investe. H: Que produtos portugueses têm possibilidade de maior sucesso no mercado brasileiro? L.B.: Actualmente, até pelo histórico de sucesso que Portugal detém, pensamos que o ramo alimentar e vitivinícola apresenta características diferenciadoras que permitem uma exportação destes produtos para novos mercados. Mas temos ainda sectores com enorme potencial como o do vestuário/calçado, construção civil, tecnologias, turismo e hotelaria, serviços e consultoria.

H: O Brasil, enquanto país, é caracterizado por uma dimensão geográfica imensa. Em sua opinião quem pretende exportar para o Brasil deve ter por foco o país todo ou deverá focar-se em determinados Estados ou mesmo cidades?
L.B.: A Portugal Exporta vai permitir às empresas portuguesas esse duplo contacto: compreender a realidade e dimensão das grandes cidades, mas, também, explorar o potencial de outras regiões. O Brasil é um país enorme e neste evento as empresas portuguesas vão ter a oportunidade de falar com responsáveis de compras de variadas regiões e não apenas de São Paulo. O crescimento do poder de compra no Brasil tem acontecido um pouco por todo o país e zonas como o Nordeste ou o Sul estão bastante receptivas à chegada de novos produtos importados de qualidade.

H: De que forma é que a WTM Europe pode ajudar as empresas portuguesas a exportar para o Brasil? O envolvimento da WTM Europe limita-se à organização do evento ou existe preocupações em estabelecer relações com as entidades, importadores, distribuidores de cada país?
L.B.: Através das diversas parcerias efectuadas pela WTM Europe junto de entidades brasileiras, as empresas portuguesas presentes participarão ainda em diversas reuniões bilaterais, com o objectivo de delinear a sua estratégia de expansão no mercado brasileiro – que pode passar pela simples exportação de produtos, pela procura de parceiros de distribuição ou representantes, até à possível abertura de escritórios no Brasil. Para além disso, a nossa equipa trabalhará junto do expositor antes da feira para entender as necessidades de cada um. Também haverá consultorias e workshops na área da exportação, como fazer, tributação e todo o apoio logístico para que o expositor possa levar e apresentar os seus produtos ao mercado brasileiro.

H: Falam em parcerias efectuadas pela WTM Europe junto de entidades brasileiras. Que entidades são essas?
L.B.: Entre as diversas parcerias e apoios conseguidos pela Portugal Exporta 2011 no Brasil, destacam-se a Fecomércio, a ADVB – Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil, o Governo do Estado de São Paulo, a Câmara de Comércio Brasil-Portugal e a Associação Brasileira de Empresas e Importação, AICEP de São Paulo, entre outras.

H: Em que medida é que o facto de os dois países falarem a mesma língua é uma vantagem para o estabelecimento destas parcerias?
L.B.: É uma enorme vantagem. Existem já ligações comerciais de longa data e para as empresas portuguesas será um passo tão natural como a chegada aos PALOP, por exemplo.

H: Quantas empresas portuguesas têm já inscritas no Portugal Exporta 2011?
L.B.: Contamos ter cerca de 50 empresas portuguesas que podem assim apresentar dezenas de produtos nacionais junto do público brasileiro. Este número possibilita potencializar o resultado dos negócios e favorece o atendimento e o foco do comprador

H: E compradores/importadores brasileiros interessados, quantos e quem são?
L.B.: Esperamos a presença no evento de 2.000 profissionais com poder de decisão de compra. Para além desses profissionais, a direcção do evento ainda garantirá a presença subsidiada de top buyers que irão participar em reuniões pré-agendadas com as empresas portuguesas expositoras, criando assim condições para estimular o intercâmbio comercial e promover o crescimento do volume de negócios do sector produtivo português no Brasil.

H: Entre essas entidades com quem possuem parcerias estão cadeias de retalho ou são simples importadores que depois fazem a venda à posteriori para quem queira comprar?
L.B.: Existem diversas possibilidades de expansão para as empresas portuguesas presentes que poderão delinear a sua estratégia localmente. Pode passar pela simples exportação de produtos, pela procura de parceiros de distribuição ou representantes, até à possível abertura de escritórios no Brasil.

H: Com que estratégia deverá uma empresa portuguesa encarar o mercado brasileiro?
L.B.: O mercado brasileiro deverá ser encarado como uma excelente oportunidade de crescimento e, numa primeira fase, ser acompanhada de profissionais com experiência nesses mercados que contribuam para a melhor aproximação à nova realidade. Nesse domínio, as reuniões bilaterais que as empresas portuguesas terão na Portugal Exporta representam uma excelente oportunidade para delinear a melhor aproximação ao mercado brasileiro.

H: Os produtos portugueses são reconhecidos no Brasil? Dê-me exemplos?
L.B.: Neste domínio, Portugal possui produtos e serviços que são únicos, ao nível do sector alimentar, muitos dos quais são já casos de sucesso de internacionalização como vinhos e azeites, mas também na área de tecnologia, por exemplo.

H: E marcas portuguesas conhecidas pelos brasileiros, quais são?
L.B.: Tal como referi, existem alguns sectores de actividade cujos produtos são conhecidos não só no Brasil como em todo o mundo – sector alimentar, corticeiro, pasta de papel, energias renováveis, etc.

H: Muitas vezes, as empresas portuguesas são confrontadas com a falta de massa crítica para exportar em quantidade suficiente para determinados mercados. No caso do vinho, por exemplo, poucos são os produtores que conseguem, ao mesmo tempo, fornecer mercados como EUA, Reino Unido, Brasil, Alemanha e China. Consegue estabelecer um critério ao nível da procura que será exigida a um produtor português que queira exportar para o Brasil?
L.B.: Essa procura vai depender de diversos factores, pelo que não é possível estabelecer critérios rigorosos. O expositor, por exemplo, pode, no entanto, optar por atender um mercado segmentado no Brasil como hotéis ou ampliar para o grande público através dos hipermercados ou exportar através de distribuidores, controlando a oferta e procura, ou seja, há várias maneiras de atender o mercado.

H: Em sua opinião, Portugal não deveria ter já aproveitado melhor a relação existente com o Brasil para incrementar as exportações?
L.B.: O Brasil tem já representado uma boa oportunidade de exportação para Portugal. No entanto, até pela proximidade geográfica, muitas empresas portuguesas acabam por explorar mercados emergentes mais próximos como a Europa de Leste e os PALOP antes de tentar uma aproximação ao Brasil. Mas com o crescimento que a economia brasileira está a conhecer nos últimos anos, acreditamos que este cenário vai mudar completamente e teremos muitas mais empresas portuguesas a exportar para o Brasil.

H: Existem algumas barreiras à importação de produtos europeus por parte do mercado brasileiro? Quais?
L.B.: Não existem barreiras rígidas. O que acontece às empresas europeias é provavelmente algum desconhecimento do mercado no momento da chegada e a incapacidade de encontrar os parceiros certos no momento do arranque. Neste domínio, a Portugal Exporta promete dar uma contribuição relevante ao assegurar a presença no evento de 2000 profissionais com poder de decisão de compra, mas também apresentará workshops sobre esse tema.

H: O actual clima de dificuldades económico-financeiras que País, economia e empresas atravessam em Portugal não poderá colocar quem pretende exportar numa posição de fragilidade?
L.B.: Penso que não. Existe mesmo a necessidade de crescer noutros mercados quando a procura interna estagna ou diminui. As exportações de Portugal têm sido o principal catalisador da economia portuguesa nos últimos dois a três anos e penso que as empresas não vêm essa realidade com receio mas sim como um passo necessário para ganhar mais dimensão e novos clientes.

H: Este evento é um acto isolado ou pretendem repeti-lo no futuro?
L.B.: A WTM Europe tem realizado eventos com periodicidade regular, como acontece de dois em dois anos com a ICA Expo – a maior feira de cooperativismo do mundo. Esta é a primeira edição da Portugal Exporta e acreditamos que será um evento que poderá ser repetido no futuro.

H: Quanto custa estar presente no Portugal Exporta 2011 a realizar, em São Paulo?
L.B.: Para as empresas portuguesas, preparámos pacotes extremamente competitivos que incluem stands a partir de nove metros quadrados, com montagem e mobiliário, reuniões bilaterais, cocktails de relacionamento e workshops, assim como os pacotes de viagem, com vôos, hotel e transfer para a feira incluídos.

H: E pretendem levar este Portugal Exporta para outros mercados, além do brasileiro?
L.B.: Para já estamos concentrados apenas no mercado brasileiro, de onde nasceu esta solicitação e pelas características de potencial de crescimento que o Brasil tem apresentado.

H: Com que resultados espera terminar a Portugal Exporta 2011?
L.B.: Esperamos que os nossos clientes e expositores consigam uma presença que contribua para a maior visibilidade e reconhecimento dos seus produtos junto do público brasileiro, por forma a potenciar a criação de ligações comerciais com o Brasil, mas principalmente resultados financeiros efectivos.

 

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