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Entrevista FIPA: “A indústria terá olhar para novos mercados”

Por a 13 de Dezembro de 2010 as 13:18

Reforçar a confiança dos consumidores, fortalecer a competitividade industrial e dinamizar as exportações, são as três prioridades estratégicas da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares em 2011


Hipersuper (H): São atribuídos à FIPA e à acção associativa os louros da manutenção das taxas de IVA actuais nos produtos alimentares. É uma das grandes vitórias da Federação?

Jorge Henriques (JH): Há muito que a FIPA vem defendendo a inclusão de todos os produtos alimentares na taxa reduzida de IVA. A proposta de Orçamento do Estado para 2011, apresentada pelo Governo, iria agravar fortemente o preço do cabaz alimentar e colocar muitas empresas do sector em situação de grande dificuldade, quer pela redução do consumo quer pelo agudizar das desvantagens competitivas face ao país vizinho, com consequências ao nível do emprego e da sobrevivência de algumas organizações. A FIPA estabeleceu todos os contactos institucionais ao seu alcance apelando ao bom senso do Governo e dos partidos com assento parlamentar. Julgo que foi reconhecida a validade dos argumentos apresentados e ficámos satisfeitos por esta proposta ter sido retirada durante a votação na especialidade. Continuaremos a desenvolver esforços para que os produtos ainda hoje com a taxa máxima sejam alvo de revisão.

H: Segundo Jorge Oliveira, administrador da Ernesto e Morgado, a agro-indústria portuguesa tem de procurar novos distribuidores, porque “há um forte desequilibro em Portugal entre dois ou três vendedores e os produtores que os fornecem”. Concorda?

J.H.: O relatório da Autoridade da Concorrência sobre ”relações comerciais entre a distribuição alimentar e os seus fornecedores”, recentemente publicado, apresenta algumas conclusões que revelam o desequilíbrio existente. Julgo que este deverá ser um ponto de partida para que se possam encontrar soluções para criar um ambiente negocial mais equilibrado. Não será fácil para a maioria dos produtos de grande consumo fugir ao actual cenário de concentração do peso da maior parte do negócio de distribuição, mas poderemos evoluir para um novo ambiente negocial suportado por uma revisão e modernização da actual legislação. Ambos os parceiros ficarão a ganhar com este passo.

H: O que devem fazer os produtores para levar os consumidores a escolher os seus produtos em detrimento das marcas do distribuidor, regra geral, mais baratas? O caminho do low cost é válido para todas as empresas, por exemplo?

J.H.: É verdade que o consumidor está cada vez mais atento ao preço baixo, em grande parte devido à actual conjuntura. No entanto, não deixa de lado critérios de diferenciação e inovação capazes de gerar valor acrescentado. Haverá uma necessidade cada vez maior de transmitir de forma consistente e credível essa mais-valia. Esse é um desafio para as empresas do sector e para as marcas de fabricante, que encerram grande potencial para estabelecer uma relação interactiva e de afectividade com o consumidor.

H: Que outros desafios enfrenta a indústria agro-alimentar em Portugal, actualmente e a prazo?

J.H.: A indústria agro-alimentar terá que saber lidar com um consumidor cada vez mais exigente e criativo, apostando em produtos mais sofisticados do ponto de vista nutricional e que sejam produzidos de forma sustentável e socialmente responsável. Por outro lado, a indústria terá de olhar mais para novos mercados e apostar no crescimento por via da inovação. A capacidade exportadora deste sector terá que ser muito mais valorizada e apoiada por parte do Governo, que até agora não tem sabido dar respostas adequadas, concentrando a sua acção apenas nas grandes empresas, como recentemente se pôde testemunhar.

H: Como podem as PME nacionais, nomeadamente a agro-indústria, ultrapassar as dificuldades de financiamento que são esperadas em 2011 e contornar o problema da escassez de capitais próprios?

J.H.: Esta é uma questão que tem vindo a mobilizar a FIPA no sentido da discussão e procura de algumas soluções. A realidade é que muitas empresas estão descapitalizadas e, as que conseguem obter crédito para fazer face às suas necessidades, têm que pagar spreads muito elevados. As principais vias, para fazer face as estas dificuldades, assentam na redução dos prazos de pagamento independentemente da dimensão – indo muito além da recente legislação aprovada pelo Governo que apenas salvaguarda a micro e pequenas empresas – na resolução dos atrasos da justiça nos processos de recuperação de créditos, no estabelecimento de parcerias e, embora num quadro mais difícil para as organizações de menor dimensão, no recurso ao financiamento externo.

H: O que podem esperar os associados da FIPA da associação em 2011? Qual é o plano de trabalhos?

J.H.: Ao longo dos anos, a FIPA tem sabido adaptar as prioridades e os planos de acção, de forma a dar resposta às novas necessidades dos sectores e das empresas e ser parceira na condução dos grandes desafios que se colocam à sua competitividade. Assumindo o seu papel activo junto do sector, da administração pública e da sociedade civil, a FIPA continuará a ser interlocutora privilegiada e parceira na obtenção das respostas adequadas às questões emergentes. Podemos identificar três grandes prioridades estratégicas: o reforço da confiança dos consumidores e dos parceiros, baseada no diálogo, numa ciência idónea e numa aproximação equilibrada aos assuntos relacionados com a alimentação, estilos de vida e saúde; o reforço da competitividade industrial, suportada por um bom funcionamento dos mercados, indo ao encontro dos desafios da globalização e consolidando as condições para uma maior capacidade de exportação; e o aumento da pró-actividade no sentido do desenvolvimento sustentável, através de uma gestão equilibrada, suportando a criação de valor e reforçando as práticas de responsabilidade social.

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