Emprego & Formação Opinião

Emprego e Qualificações – Considerações sobre situação actual e futura

Por a 20 de Julho de 2010 as 9:30

Uma vez mais, e pelas más razões, entrámos num período económico débil, sem estarmos minimamente preparados para o enfrentar. Estes períodos, seja por que razão(ões) ocorra(m) já os economistas o explicaram sobejamente. A verdade é que eles ocorrem e são cíclicos, ora de 5 em 5 anos, 7 ou 8, vão sempre surgir.

Neste período, que considero de “pós-crise”, em que nem sabemos realmente se já a passámos, atravessamos um momento de reflexão ou indecisão onde “ameaçamos” um crescimento económico, ténue é certo, ou mais um atraso na retoma face aos demais pares que constituem a União Europeia.

O nível de desemprego pode, na análise individual de cada país, determinar em grande medida o estado actual da sua economia. Possuimos a quarta maior taxa de desemprego na UE e no lado oposto encontramos a Holanda e Áustria, com valores na ordem dos 3%. Coincidência ou não existe uma relação inversa entre as taxas de desemprego verificadas na zona euro e o nível de qualificação da população activa.

Se a média de trabalhadores não-qualificados da zona euro se situa nos 30% da população activa, a nossa realidade nacional revela-nos valores na ordem dos 80%. Ainda assim temos, felizmente, muitos e variados sectores de competência reconhecida a nível mundial, mas que constituem ainda um número reduzido de bons exemplos nacionais face ao que poderíamos deter. Quando me refiro a exemplos nacionais, falo de empresas de excelência em Portugal, sejam estas de capital nacional ou estrangeiro. Convém referir ainda que esta carência nas qualificações é também notada em grande parte nos nossos gestores e empresários, mas julgo eu ser este um problema menor. Quem nos dera termos muitos mais líderes e empreendedores, ainda que pouco qualificados, são bem vindos e fazem falta à nossa economia.

É no ensino que está a chave da solução, exigente e disciplinada que possa incutir nos mais jovens a cultura de excelência do amanhã. Não há grande alternativa pois, no cenário económico global e actual, não basta ser mais um país de mão-de-obra barata, até porque verdadeiramente já não o somos. Na exportação de bens ou serviços de elevado valor acrescentado, não são os salários que determinam a competitividade das empresas que os fornecem, até porque estes não distam muito dos salários praticados nos países mais desenvolvidos / ricos, muitas vezes onde estão até os seus próprios clientes.

São nas actividades de menor valor acrescentado, em que mais se fazia notar esta suposta vantagem competitiva, que pura e simplesmente Portugal deixou de existir num cenário de mercado livre com outros países de mão-de-obra (mais) barata. Não fossem as ajudas da União Europeia, mais cedo estas diferenças se teriam feito notar.

O desequilíbrio existente entre oferta de mão-de-obra qualificada e a respectiva procura desta pelos empregadores tem-se mantido constante em Portugal. As oportunidades de trabalho qualificado, ou se quisermos, oportunidades para quadros médios e superiores, continua superior ao número de quadros com a competência e experiência requerida para o cargo. Infelizmente, os processos de tomada de decisão aquando da contratação de um novo colaborador continuam em muitas empresas relativamente lentos ou pura e simplesmente não se planeiam convenientemente os processos de recrutamento e selecção. Assistimos assim a uma das seguintes situações: vagas em aberto meses a fio, acumulação excessiva de responsabilidades sobre um único colaborador, ou ainda excessiva rotatividade numa dada função. Algumas empresas aderiram à moda da proletarização do mercado de trabalho, fazendo uso da situação actual de desemprego de trabalhador altamente qualificado. Preferem negligenciar o seu valor no mercado e como é fácil constatar, pelas razões atrás referidas, mais tarde ou mais cedo este encontrará o seu espaço numa organização que lhe dê a devida importância e mudará de emprego.

A maior disparidade salarial verificada em Portugal, comparativamente à média europeia, reside assim essencialmente no desequilíbrio verificado entre procura e oferta de trabalho, fraca oferta de profissionais altamente qualificados de inegável competência e uma excessiva oferta de mão-de-obra não-qualificada que a economia portuguesa cada vez menos irá absorver.

Ricardo Simões, Senior Consultant HAYS Recruiting experts worldwide, [email protected]

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