Emprego & Formação Opinião

Globalização e mercado de trabalho

Por a 5 de Julho de 2010 as 12:58

Durante a última década têm sido diversas as opiniões sobre os efeitos da globalização no mercado de trabalho. Todas elas têm dado uma grande ênfase a questões como a falta de ética, trabalho infantil, mão-de-obra escrava, trabalho mal remunerado, confrontando na maioria dos casos a realidade dos mercados dos países em desenvolvimento e os países desenvolvidos.

Nos últimos tempos com a crise financeira que tem assolado o mundo, e os efeitos que a mesma tem causado no desemprego, essa reflexão tornou-se ainda mais premente. Será a economia global culpada pelo aumento do desemprego nos países desenvolvidos? Será a deslocalização da indústria para os países em vias de desenvolvimento causador do aumento do número de desempregados?

Hoje, em dia, não há gestor em qualquer parte do mundo que não pense na forma de como reduzir os custos com a mão-de-obra. Não vale a pena negarmos que essa realidade é conseguida em países em desenvolvimento, muitas vezes a custa de trabalho mal remunerado e com uma elevado grau de exigência no que se refere às condições de trabalho. Em minha opinião, essa realidade, com o passar dos tempos também estará ultrapassada pois mais industria irá elevar os padrões de vida e consequentemente mais reivindicações. É uma questão de tempo.

Aqui, o que importa reflectir é como o mercado de trabalho dos países desenvolvidos vai reagir a esse desafio, permitindo que aqueles que agora estão no desemprego possam regressar rapidamente a uma vida activa. Considero que na maioria dos casos muito dificilmente assistiremos a uma diminuição da taxa de desemprego.

As pessoas têm que aceitar que se o seu espaço de trabalho ganhou uma dimensão global, expandiu fronteiras e que na maioria dos casos voltar a trabalhar vai depender do assumir dessa nova realidade.

Olhando para a realidade portuguesa podemos verificar que nos últimos anos, um grande número de multinacionais deslocalizou a sua produção, empresas de serviços passaram algumas das suas áreas de suporte para países do leste europeu e para a Ásia. Não temos assistido a uma entrada de novas empresas, como consequência verificamos que a nossa taxa de desemprego não tem uma redução significativa. Por muito, que se pense que essa redução é possível, não existe por si a capacidade do país criar riqueza, que absorva esses desempregados (não entrando por questões mais estruturais, como são o caso do desemprego depois dos 45 anos, a falta de qualificações e por fim, muitas das indústrias tradicionais estão em crise, como é caso do têxtil, calçado, agricultura, pesca e o sector do turismo não tem sido devidamente explorado).

Há, ainda alguns aspectos que fazem que as empresas se afastem de Portugal, procurando mercados mais competitivos, e outras que nem olhem para Portugal quando pretendem instalar as suas operações. São elas:

  • Sindicatos, são fortes defensores dos trabalhadores mas provocam dificuldades aos desempregados. Revelam pouca flexibilidade em momentos de crise. Vide o exemplo dos sindicatos alemães, que flexibilizam as suas posições em prol do emprego;
  • Legislação Laboral, protectora do colaborador não permitindo flexibilidade nas decisões de gestão. A questão que se coloca a este nível como podemos beneficiar os trabalhadores e deixar de proteger os meus profissionais. Numa economia em que a rapidez de resposta é fundamental, ter uma legislação laboral pouco flexível pode ser um handicap para a entrada de empresas no nosso mercado;
  • Falta de apoio ao empreendedorismo, não uma verdadeira política que incentive as novas ideias. Muitas morrem a nascença por falta de apoios.

Num mercado global, considero que do lado de cada um de nós também está a solução para este problema do desemprego e que passa por olhar para o mercado de trabalho de uma forma global. De maneira a aumentarmos a nossa competitividade, como indivíduos, nesse espaço global, penso que deveríamos focar-nos em pelo menos três pontos:

  • Desenvolvimento de competências que sejam transversais a vários sectores;
  • O mercado de trabalho procura pessoas adaptáveis, resilientes e focadas em objectivos;
  • Falar Inglês, nunca foi tão importante. Como língua global, abre-nos as portas de muitos mercados.

Cada vez mais o mercado de trabalho estará sobre pressão. Não reconhecer que o meu local de trabalho é onde tiver espaço, será um erro fatal para muitas pessoas. As fronteiras deixaram de existir também no mundo do emprego.

Pedro Amorim, Principal HAYS Executive, [email protected]

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