Distribuição

Consumidores começam a pensar para além da recessão

Por a 3 de Novembro de 2009 as 2:00

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De acordo com a última edição do Nielsen Global Consumer Confidence Index, o mundo está a emergir da crise económica e com ele assiste-se a uma reacção da confiança dos consumidores a nível mundial. O Brasil e os mercados-chave Asiáticos estão a revelar aumentos de dois dígitos na opinião dos consumidores, enquanto os Estados Unidos da América registaram o seu primeiro crescimento na confiança dos consumidores desde 2007. Apesar desta renovada sensação de optimismo, o comportamento presente mantém-se comedido; “muitos consumidores continuam inseguros no que respeita a gastar o seu dinheiro e em alguns países os hábitos de gastos parece terem sido alterados para sempre”, refere a consultora.

O índice Nielsen de confiança dos consumidores a nível mundial estuda a confiança dos consumidores, principais preocupações e hábitos de gastos em mais de 30.500 utilizadores de Internet em 54 países. Na última vaga do inquérito, realizado entre 28 de Setembro e 16 de Outubro de 2009, Hong-Kong revelou o maior aumento na confiança dos consumidores no terceiro trimestre quando comparado com o 2.º trimestre (mais 14 pontos), passando de 79 para 93 pontos do índice, seguido pela Coreia do Sul (+13 pontos) e pelo Brasil (+12 pontos).

Índia, Indonésia e Noruega continuam no topo da lista das nações mais confiantes, enquanto as nações mais pessimistas foram a Letónia e o Japão. A confiança dos consumidores subiu em 45 dos 52 países em relação há seis meses (a Ucrânia e a Arábia Saudita foram acrescentadas na última vaga do inquérito). Em Abril, o Nielsen Consumer Confidence Index atingiu a sua pontuação mais baixa com 77 pontos do índice, mas, à medida que em todo o mundo durante o segundo trimestre começaram a ter efeito os planos massivos de incentivos, a confiança dos consumidores começou lentamente a recuperar.

“Um aumento de nove pontos na confiança dos consumidores significa um bem-vindo regresso a território positivo. Na realidade, demonstra que nos últimos seis meses a postura dos consumidores em todo o mundo originou na sua maioria a mudança da recessão para a recuperação – o mau tempo já passou”, afirma James Russo, vice-presidente da Global Consumer Insights, The Nielsen Company. “Neste clima económico o que as pessoas sentem está estreitamente relacionado com as vendas actuais. Por exemplo, na Austrália, a confiança dos consumidores esteve 11 pontos acima no terceiro trimestre e fortes condições económicas levaram o Reserve Bank of Australia a subir as taxas de juro, tornando-se no primeiro país do G20 a fazê-lo. Igualmente, vimos as vendas aumentarem 2% em cada um dos últimos dois meses em determinadas categorias de produtos de grande consumo (FMCG), enquanto a opinião demonstrada online em relação à recessão atingiu os valores mais baixos desde que começámos a estudar essa dinâmica em Janeiro de 2009”.

Entre os países do BRIC, a confiança dos consumidores cresceu 8 pontos na Índia, 6 pontos na China e 4 pontos na Rússia, quando comparada com o trimestre anterior. No terceiro trimestre a confiança dos consumidores só desceu em dois países: Espanha (-4) e Japão (-2).

A Austrália e a Nova Zelândia observaram também um aumento de dois dígitos durante o último trimestre, enquanto as duas maiores economias da Europa, a França e a Alemanha, registaram o maior aumento da Zona Euro, 7 e 5 pontos, respectivamente.

Segundo a Nielsen, em Outubro a confiança do consumidor chegou quase aos mesmos níveis da primeira metade de 2008, antes da pior fase da crise económica que atingiu os mercados mundiais. “O inquérito mostra como a recuperação da economia acelerou nos últimos seis meses, especialmente no Brasil e em certos mercados Asiáticos,” salienta James Russo. “Os dados Nielsen de consumo, retalho e media mostram também por parte dos consumidores uma tendência de mudança da recessão para a recuperação económica.”

Um indicador importante de confiança no negócio, os gastos em publicidade na Ásia-Pacífico, apareceu mais depressa do que muitos analistas esperavam, com um aumento anual vs homólogo de nove por cento e uma estimativa de 111,94 mil milhões de dólares gastos na região durante o segundo trimestre. Em muitos mercados da América Latina, Ásia-Pacífico e Europa, as vendas de produtos de grande consumo estão a aumentar à medida que os consumidores começam a comprar itens diferentes depois de um período prolongado ligados a orçamentos apertados e à compra de bens de primeira necessidade,” afirmou James Russo. “Todos estes exemplos são indicadores de que a recessão mundial está a chegar ao fim.”

Este mês, 66% dos consumidores mundiais disseram que a sua economia está em recessão em comparação com os 71% em Abril de 2009, mas para muitos consumidores da Ásia-Pacífico e América Latina a recessão está a tornar-se coisa do passado. 87% dos chineses disseram que o seu país está fora da recessão e mais de 60% dos cidadãos em Hong-Kong, na Noruega e na Austrália afirmaram o mesmo. Entretanto, metade dos brasileiros, indianos e chilenos também acredita que a recessão acabou. De entre os consumidores que pensam estar ainda em recessão, um em cada cinco (26%) espera que o seu país saia da recessão dentro de 12 meses.

Em Hong-Kong o número de consumidores que disse estar em recessão caiu cerca de 30% nos últimos três meses. No último inquérito, 32% dos consumidores de Hong-Kong afirmaram que estavam em recessão em comparação com 60% em Junho de 2009. “Depois de vários trimestres de contenção, começamos a ver os consumidores a abrir outra vez as suas carteiras à medida que assistimos a uma recuperação em vários sectores, desde o retalho mais caro, às propriedades e à finança. No entanto, isto ainda tem de se reflectir nos produtos embalados de grande consumo na medida em que as vendas permaneceram relativamente estáveis ao longo do ano”, afirmou Oliver Rust, managing director, The Nielsen Company, Hong-kong.

“Com o índice Hang Seng a voltar em Outubro aos níveis anteriores à crise financeira e com a venda de propriedades a revelar um significativo crescimento, os consumidores estão a aumentar os seus gastos em bens diferenciados, tais como roupa nova, entretenimento fora de casa, tecnologia e férias, coisas que tinham cortado há um ano,” continuou Oliver Rust.

Os seis pontos de crescimento da China no último trimestre derivaram das fortes melhorias nas expectativas de emprego local e de rendimento pessoal em todo o país. Quase seis em cada dez consumidores chineses disseram que as perspectivas de emprego eram boas ou excelentes nos próximos 12 meses, um aumento de 14% comparado com o segundo trimestre

“No inquérito anterior realizado em Julho, verificámos que os consumidores estavam a começar a sentir que a economia já tinha batido no fundo e que se preparava para a recuperação. No terceiro trimestre vimos um prolongamento deste optimismo. Os consumidores estão a sentir-se gradualmente mais confortáveis com a sua situação e sentem que a economia está a mover-se na direcção certa,” disse Mitch Barns, presidente, The Nielsen Company, Greater China. “Na China os consumidores ainda estão hesitantes no que respeita a sair e gastar dinheiro, ainda que os resultados indiquem que existe uma vontade de gastar em produtos novos. As empresas focalizadas na inovação e que introduzem produtos novos no mercado serão aquelas que irão levar por diante o consumo na China”.

A confiança dos brasileiros foi a mais elevada na América do Sul e o forte crescimento económico, combinado com a escolha do Rio para acolher os Jogos Olímpicos de 2016, animaram seguramente o panorama da nação.

“Como último país a sofrer a recessão mundial e entre os primeiros a recuperar, o Brasil voltou essencialmente aos níveis pré-crise em termos de produção industrial. O emprego está a aumentar e ao mesmo tempo aumenta o consumo dos consumidores. Os Brasileiros estão a sentir-se muito optimistas em relação ao seu futuro: os Jogos Olímpicos de 2016, juntamente com o Campeonato do Mundo de Futebol 2014, bem como projectos novos sobre energia asseguram um alto nível de investimento em infra-estruturas para os próximos anos e os Brasileiros estão acertadamente a sentir-se confiantes no seu futuro económico,” afirmou James Russo.

Para o resto do mundo o sentimento em relação à recuperação económica permanece, contudo, moderado e juntamente com ele os gastos dos consumidores. “A maioria dos consumidores nos EUA e Europa admitiu uma recuperação económica avaliada, mas não deixa de ser uma recuperação”, salienta James Russo. “Enquanto nos EUA a confiança dos consumidores subiu quatro pontos no índice no terceiro trimestre – o primeiro aumento desde o início de 2007 – isso não se traduziu em confiança para gastos para a grande maioria dos consumidores americanos. Claramente, esta recuperação vai ser manifestada por gastos comedidos enquanto os consumidores trabalham para equilibrar as suas contas”.

Entre os consumidores que acreditam que estão presentemente em recessão, mais de 60% dos franceses, alemães e irlandeses crêem que a recuperação económica ainda demorará mais de um ano a acontecer. De todas as regiões, a Europa – especialmente a Europa de Leste – mais do que qualquer outra região do mundo, incluindo a América do Norte, prevê um caminho mais longo até à recuperação, segundo o inquérito. A confiança dos consumidores nos países da Europa de Leste registou uma média de 10 pontos abaixo das nações da Europa Ocidental, prevendo-se que a Espanha, que apresentou a única descida na confiança do consumidor na Europa Ocidental no terceiro trimestre, seja a única nação da Zona Euro a contrair-se em 2010, de acordo com as últimas estimativas do FMI.

Enquanto a nível mundial os consumidores continuam a manifestar preocupação acerca da segurança do trabalho e economia, muitos começaram a centrar-se noutros assuntos. A preocupação acerca da segurança do trabalho decresceu nos últimos seis meses. Em Abril, 20% dos consumidores globais apontaram a segurança do trabalho como a principal preocupação da sua vida, seguida de perto pela economia (19%). Actualmente, 18% dos consumidores globais afirmam que a economia é a sua maior preocupação, seguida pela segurança do trabalho (16%).

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