Opinião

C.R.I.S.E. na Indústria

Por a 16 de Abril de 2009 as 18:25

 Paulo Ribeiro

A palavra parece não largar o nosso quotidiano; são os jornais, a televisão, a rádio, a internet, os vizinhos, os colegas de trabalho, os clientes, enfim, não há dia em que não sejamos bombardeados com informações catastróficas sobre o estado do País e da economia.

O que ninguém ainda referiu é que nós, os Portugueses, somos um povo pessimista e de “fados” e que este arrastão psicológico tolda a clarividência e reflexão necessária para um momento como este. Mais do que nunca, é altura de parar para pensar. A Indústria, na sua generalidade, é um dos sectores mais afectados com a crise, por vários motivos que irei enumerar mais adiante, e a realidade é que esta situação deixará marcas profundas na caracterização futura deste sector. Então, porque não começar a trabalhar, desde já, na recuperação?

Circunscrever. É nesta altura que se redefinem custos relacionados com a estrutura da empresa. É necessário definir o que é importante e o que é secundário, dar prioridade às necessidades da empresa com vista à sua saúde financeira e estabilidade económica. A Indústria, salvo raras excepções, é um sector onde tudo acontece em volume; os custos, as despesas, a produção, a manutenção, etc. Tudo isso tem de ter um controlo apertado. O ideal seria reduzir tudo o que seja supérfluo sem chegar aos postos de trabalho. Infelizmente, nem sempre será possível.

Reestruturar. O momento é de reflexão e esta será a melhor altura para fazer um balanço do que está para trás e projectar objectivos exequíveis, a curto, médio e longo-prazo. Se a Indústria está a reduzir os seus quadros, esta será a altura de redefinir o organigrama das mesmas, já que existem empresas que cresceram economicamente muito depressa, levando a um crescimento orgânico reactivo, o que leva a que algumas das estruturas sejam actualmente mais pesadas e desequilibradas do que o realmente necessário. Desenhe o seu organigrama actual e confronte-o com as necessidades e falhas da empresa.

Inovar. Num período em que a indústria sente uma forte recessão, porque não definir novos horizontes? Procurar soluções alternativas, nichos de mercados não explorados e com potencial. A indústria das energias alternativas continua a prosperar, por exemplo; porque não redefinir a sua produção utilizando os meios já existentes para outro tipo de produto? A Indústria Automóvel em Portugal é a que se encontra mais debilitada actualmente. Isso deve-se obviamente à crise do mesmo sector, mas, principalmente, porque esta apoiava-se num só cliente, numa só área de negócio. Porque não utilizar os departamentos de Investigação e Desenvolvimento para inovar nos produtos, para procurar soluções e para ajustar as necessidades de novos mercados e, no fundo, encontrar novas áreas de negócio que não estejam dependentes de um só sector?

Sensibilizar. Todos nós sabemos que as empresas do sector industrial têm, por norma, um número grande de trabalhadores e que existe uma clara distinção entre o sector da produção, com os perfis indiferenciados, e os quadros médios e superiores da empresa. Esta separação acaba por trazer alguns amargos de boca em períodos de dificuldade para os que gerem as empresas. Porque não sensibilizar os trabalhadores para as necessidades da empresa, tratá-los sem distinção, com total transparência na informação sobre a situação económica da mesma, com reuniões regulares em que se faz um relatório do estado da empresa e dos objectivos definidos. Comunicação bilateral. Há que sensibilizar os trabalhadores responsabilizando-os, fazê-los sentir não como parte do problema mas como parte de uma solução.

Evoluir. A Indústria não estará em crise para sempre. A única questão a que ninguém consegue responder é até quando durará a mesma. Se não conseguimos responder, porque não antecipar a retoma? Para além das premissas referidas anteriormente, a Indústria, salvo algumas excepções, é dos sectores menos preparados para o futuro. A indústria criada pelo self made man, com todas as suas virtudes, começa a ser escassa para acompanhar as necessidades e a competitividade dos outros sectores. É urgente investir em estruturas profissionais, departamentos de recursos humanos que não façam apenas processamento salarial mas sim avaliações de desempenho, túneis de carreira, recrutamento profissional. É fundamental entender que a Indústria que trabalha, essencialmente B2B, também necessita de uma área de Marketing, seja para fazer face à concorrência, seja para análise de mercados, benchmarking e todas as ferramentas que possam maximizar os proveitos da mesma. É preciso acompanhar os ventos de mudança.

Sei que falar é fácil, e que as dificuldades são grandes e poderão vir ainda a ser maiores, mas estarmos de braços cruzados, na expectativa do que poderá ser, de nada adiantará.

Paulo Ribeiro, Consultant Hays Sales&Marketing

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