Distribuição

JM e Sonae entre os gigantes do retalho

Por a 6 de Fevereiro de 2009 as 9:51

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3,62 triliões de dólares ou 2,73 triliões de euros. Foi este o valor das receitas dos 250 maiores retalhistas mundiais no final do ano 2007. Entre eles encontram-se dois grupos portugueses: Jerónimo Martins e Sonae Distribuição, nos 116.º e 175.º lugares, respectivamente.

De acordo com o Top 250 do Global Powers of Retailing 2009, relatório realizado pela Deloitte e Stores, os 250 maiores retalhistas do mundo obtiveram, em 2007, receitas de 3,62 triliões de dólares (cerca de 2,73 triliões de euros), correspondendo a um crescimento de 11,4% face a 2006, ano em que as receitas chegaram aos 3,25 triliões de dólares, ou seja, aproximadamente 2,5 triliões de euros.

Entre os 250 gigantes dos retalho mundial, o Global Powers of Retailing coloca dois grupos portugueses: Jerónimo Martins e Sonae Distribuição.

O grupo liderado por Alexandre Soares dos Santos e Luís Palha, ocupa a 116.ª posição, atribuindo o estudo receitas de 7,3 mil milhões de dólares (cerca de 5,5 mil milhões de euros), sendo que a operação retalhista é responsável por 6,968 mil milhões de dólares, ou seja, 5,3 mil milhões de euros.

O Global Powers of Retailing 2009 atribui à Jerónimo Martins lucros de 207 milhões de dólares (cerca de 157 milhões de euros) para o exercício de 2007, revelando ainda que o crescimento médio do grupo entre 2002 e 2007 foi de 7,2%

Já para o grupo liderado por Nuno Jordão ocupa o 175.º lugar, atribuindo o estudo receitas de 5,075 mil milhões de dólares (cerca de 3,8 mil milhões de euros), sendo que a operação retalhista é responsável por 4,440 mil milhões de dólares, ou seja, 3,3 mil milhões de euros.

Atribuindo lucros líquidos de 268 milhões de dólares (aproximadamente 203 milhões de euros) ao grupo Sonae Distribuição para o ano de 2007, a média de crescimento definida pelo estudo para os anos 2002 a 2007 é, contudo, negativa: -1,7%.

Curioso não deixa de ser a possibilidade de juntarmos estes dois grupos e ver em que lugar ficariam: 77.ª posição.

Wal-Mart reforça liderança
A liderança continua a pertencer aos norte-americanos da Wal-Mart, com receitas superiores a 378 mil milhões de dólares e uma taxa de crescimento médio entre 2002 e 2007 de 10,3%.

No segundo lugar aparecem, novamente, os franceses do Carrefour, com receitas de 114 milhões de dólares e um crescimento médio de 3,6% entre 2002 e 2007. O último lugar do pódio é ocupado pela britânica Tesco, destronando a Home Depot que cai para o 5.º lugar e mantendo-se à frente da alemã Metro, com receitas de 94,7 mil milhões de dólares e uma taxa de crescimento médio de 12,4%.

De resto, o estudo indica que a taxa média de crescimento dos 250 retalhistas incluídos neste ranking foi de 10,7%, quando em 2006 esse valor foi de 9,2% e em 2005 rondou os 10%.

Mas nem todos os retalhistas tiveram a “sorte” de apresentar fortes crescimentos. Enquanto em 2006, 36 players registaram quedas, esse número aumentou para 44 em 2007.

Em média, cada retalhista incluído neste ranking gerou receitas de 14,5 mil milhões de dólares, em 2007, mais 1,5 mil milhões de dólares que os 13 mil milhões em 2006, concluindo o estudo que, para pertencer a esta “elite” do retalho mundial, um operador teria, em 2007, de apresentar receitas superiores e 3 mil milhões de dólares, quando em 2006, esse valor não ia além dos 2,7 mil milhões.

A maior concorrência no ranking está, precisamente, no fundo da listagem, já que a maioria dos grupos presentes não se podem incluir na categoria de mega-companhias. Dos 250 retalhistas, quase 2/3, ou seja, 163, obtiveram vendas inferiores a 10 mil milhões de dólares, em 2007, enquanto quase 1/3 apresentou vendas abaixo dos 5 mil milhões de dólares. Somente 40 companhias, ou seja, uma em cada seis, obteve, em 2007, vendas superiores a 20 mil milhões de dólares.

Os 10 primeiros classificados deste ranking ultrapassaram pela primeira vez a barreira do trilião de dólares (1,071 triliões de dólares) em receitas, correspondendo a uma subida de 7,2%. Ao contrário de outros anos, no entanto, em que os grandes ficam cada vez maiores, os 10 maiores retalhistas viram a sua representatividade neste ranking cair, pesando agora “somente” 29,6% do total, comparado com os 30,1% de 2006.

Aliás, enquanto em anos anteriores os “gigantes” apresentavam sempre crescimentos sólidos e fortes, nove dos dez operadores registaram crescimentos ligeiros, quando comparado com os resultados de 2006. Somente duas companhias do Top 10 apresentaram crescimento a duplo dígito, quando no Top 10 de 2006 esse número foi de seis. A Home Depot, aliás, sofreu a sua primeira descida nas vendas em 2007, verificando-se um queda de 2,1% nas receitas.

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Retalho mais global

Aspecto que o Global Powers of Retailing 2009 destaca é a crescente globalização das diversas operações. Em média, os retalhistas do Top 250 operavam, em 2007, em 6,8 países, quando em 2006 esse número era de 6,2 países e, em 2005, era de 5,9 países, representando as receitas provenientes das operações fora do mercado doméstico 21,3% das vendas totais obtidas.

A expansão internacional tem sido, aliás, um aspecto importante nas estratégias dos grupos retalhistas, notando-se que, quanto maior a companhia, mais predisposta para a expansão ela está.

Notado no estudo foi também o facto do crescimento das receitas externas estar estabilizada, apontando os responsáveis da Deloitte e Stores que isto se deve ao facto de a maioria dos retalhistas terem efectuado a expansão internacional há mais de uma década e, por isso, já não haver espaço para grandes “booms” de crescimento.
Entre os países mais expansionistas estão a França e Alemanha. No caso dos franceses, os 13 retalhistas incluídos no ranking operaram, em 2007, em 18,9 países e geraram mais de 35% das suas receitas fora do mercado doméstico. Já no caso dos alemães, os 21 players apresentados no ranking tinham, em 2007, operações em 13,8 países, gerando 41,8% das suas receitas nesses mercados externos.

Curiosamente, um dos países com menor vocação expansionista são os Estados Unidos da América, revelando o estudo que dos 87 operadores incluídos entre os 250 maiores, somente 49 operam fora de terras de “Uncle Sam”, desenvolvendo negócio em 4,2 países. Entre os menos expansionistas estão, também os operadores da América Latina e Ásia/Pacífico (Japão em particular). No primeiro caso, os 24 retalhistas japoneses operavam em 2,8 países, gerando somente 10% das suas receitas externamente, enquanto no caso latino americano, a expansão não vai além dos 1,6 países e 9,9% de representatividade nas receitas globais.

Alimentar continua líder
O sector alimentar – Fast Moving Consumer Goods (FMCG) – é o mais representado no Top 250 do retalho mundial, com mais de 50%, ou seja, 130 operadores, seguindo-se o não alimentar, ou melhor, o bricolage, entretenimento, electrónica, música e livros, entre outros, com 55 companhias, e a moda com 46 players. Quanto aos grupos de FMCG que compõem o ranking, o estudo refere que estas companhias tiveram receitas médias de 19,1 mil milhões de dólares, em 2007, possuindo um presença média em 4,9 países. Os responsáveis da Deloitte e Stores admitem, contudo, que, quando estes grupos resolvem expandir-se, o fazem com toda a força, representando as receitas externas, em média, 23,4% do total.

De resto, a importância dos grupos de FMCG para o ranking é bem visível: dos 10 primeiros do ranking, oito desenvolvem a sua actividade principal no conceito alimentar.

Reacção dos retalhistas face à crise
A grande pergunta que se coloca agora é: o que os retalhistas deverão fazer para contrariar a actual conjuntura económica desfavorável? No curto prazo, refere o estudo, os retalhistas deverão focar-se na quota de mercados, admitindo que foi relativamente fácil ganhá-la quando o mercado estava em alta. “Este novo ambiente determinará quem possui as estratégias mais correctas”. Os consumidores serão intensamente orientados para o valor, “sendo possível verificar essa realidade actualmente com muitos consumidores a mudarem para retalhistas mais focados no preço”. Além disso, diz o Global Powers of Retailing 2009, “todos os retalhistas deverão ter em sempre em mente o controlo de custos”.

Tendências para 2009

  • Cortar nos custos – na actual conjuntura económica, os retalhistas estão a perceber que a rentabilidade é um bem cada vez mais difícil. Assim, o lucro deverá provavelmente vir mais facilmente pela habilidade de cortar uma variedade de custos.
  • Pensar na gestão de risco – com a maioria dos operadores a serem apanhados de surpresa pela actual conjuntura, há que pensar na gestão de risco. Entre os riscos mais prováveis estão: interrupção da cadeia de distribuição, volatilidade da moeda, desastres naturais, desastres provados pelo homem e ruptura dos mercados financeiros.
  • Pensar na experiência do consumidor – numa conjuntura de crescimento fraco, os retalhistas devem olhar para diversas formas de construir brand equity e gerar interesse no consumidor para visitar as suas lojas.
  • Pensar na gestão dos RH – talvez este seja o maior desafio dos retalhistas, mais do que o clima económico, já que há que gerir bem os recursos humanos de modo a estes gerarem resultados positivos. Uma equipa desmotivada e sem objectivos é prejudicial.
  • Pensar multi-canal – a Internet é, actualmente, uma das ferramentas mais poderosas para interagir com o consumidor. Não só é uma ferramenta válida nas vendas, como também um método eficaz de ficar a conhecer o consumidor.
  • Pensar em lojas pequenas – nos anos mais recentes, o ênfase foi dado no one-stop shopping. Assim, lojas grandes estavam na ordem do dia. Embora, os grandes formatos não desapareçam, a segmentação cada vez maior do mercado significa a impossibilidade de satisfazer as necessidades do mass market. Além disso, o consumidor já não quer grandes excursões às compras e, muitas vezes, prefere comprar pequenas quantidades de produtos.
  • Pensar na segmentação de mercado – na maioria dos mercados desenvolvidos, o mass market está a desaparecer. Com as classes desfavorecidas ou de menor rendimento a serem cada vez mais, os retalhistas terão de focar-se em nichos de mercado. Neste aspecto, o website do retalhista poderá ser uma ferramenta fundamental.
  • Pensar global – nas duas últimas décadas, a globalização tem sido a tónica dominante e embora muitos retalhistas tenham apostados na internacionalização, muitos não o fizeram. As razões para a internacionalização não desapareceram e, pelo contrário, foram reforçadas. Se nos últimos anos, o sector alimentar tem sido o grande impulsionador da globalização, serão, provavelmente, os operadores não alimentares e os alimentares de segunda linha a apostar no mercado internacional.

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