Feiras

Javier Galiana – Director-geral da Feira Internacional de Lisboa

Por a 12 de Dezembro de 2008 as 9:30

alimentaria


“Uma feira tem de ter oferta suficiente para a procura”

Ajudou a pôr de pé a maior feira alimentar do País, em 1991. 17 anos depois, Javier Galiana regressa à FIL para conferir, novamente, o seu cunho pessoal à Alimentaria Lisboa 2009. A meta é regressar aos tempos áureos.

Javier Galiana levanta o pano da nova estratégia para a Alimentaria que se avizinha: uma forte aposta no food-service e no sector vinícola, e a colaboração activa da equipa que faz a Alimentaria Barcelona.

Hipersuper (H): A 10.ª edição da Alimentaria Lisboa vai sofrer um reposicionamento. Porquê?
Javier Galiana (JG):
A Alimentaria nasceu em 1991 e o seu posicionamento manteve-se ao longo das primeiras cinco edições. O projecto, de alguma maneira, não evoluiu. Isto conduziu a que as últimas edições se ressentissem desta falta de evolução. Chegou o momento de, com a nova equipa desta casa [FIL] e com o apoio do nosso sócio da Alimentaria Barcelona, levar a Alimentaria a acompanhar a evolução que as feiras de alimentação registam em todo o Mundo.

O desaparecimento do food service da Alimentaria, é um exemplo. Estamos a recuperar este sector porque o número de compradores no Mundo da Distribuição está, cada vez mais, a diminuir. Estão mais globalizados. Actualmente, os compradores estão realmente concentrados no sector da restauração e hotelaria. A presença do food service é fundamental e estamos a ser acompanhados tanto pela AHRESP [Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal], que gostou muito do projecto, como pela Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal [ACPP]. A ACCP está a organizar a final do campeonato europeu de cozinheiros da WACS [Associação Mundial de Sociedades de Cozinheiros], que vai ter lugar na Alimentaria.

A diferença que há entre a Alimentaria passada e a futura é um reposicionamento de modernidade que visa responder aos interesses do sector, às reais pretensões de 2009 e do comprador de produtos alimentares do Século XXI.

H: Além do desaparecimento do food service, que outros factores contribuíram para a falta de evolução do certame?
J.G.:
Está relacionada com o facto de o modelo da feira não ter mudado ao longo de 16 anos. O modelo válido para as cinco primeiras edições já não é adequado. As empresas evoluíram e procuram nas feiras outros objectivos. O expositor procura o retorno do investimento.

H: Como é que se mede o retorno?
J.G.:
De muitas maneiras: há quem procure negócio puro e duro, há quem procure relações públicas, imagem.

Esta evolução não é só válida para a Alimentaria. Estamos a fazer este trabalho com todas as feiras que decorrem na FIL. Reposicionar mesmo as que são líderes. A Alimentaria é líder nas feiras de alimentação em Portugal, mas não é a nível global. A Alimentaria tem de voltar a reposicionar-se com uma das três feiras mais importantes em Portugal independentemente do sector.

H: Os vinhos também vão conhecer mais destaque.
J.G.:
Sim, é outra das questões que se perderam na Alimentaria. O sector desenvolveu-se de forma quase frenética nos últimos anos. Entre 1991 e 1995, à margem dos grandes produtores e distribuidores, haviam as cooperativas. Entretanto, as quintas de vinho multiplicaram-se, algumas de pequena produção, mas a qualidade do vinho português evoluiu muito favoravelmente, com a ajuda do Mundo da hotelaria e restauração.

Na Península Ibérica há muito poucos compradores específicos de vinho. Há compradores de outros produtos mais o vinho. Além disso, o sector necessita de projecção internacional.

Esta área é super atractiva para as feiras. De tal forma que, dentro da comissão organizadora, é o único sector que tem uma equipa própria. Aplicámos uma marca – Intervin – que é precisamente o nome da mostra da Alimentaria Barcelona. Estamos também a tentar fazer um concurso nacional de vinhos, como complemento ao salão.

H: Para além do Horeca e vinhos, quais os sectores estratégicos?
J.G.:
O grande consumo, o sector das carnes, congelados, lacticínios, a qualidade dos queijos portugueses é reconhecida internacionalmente. Pode perfeitamente competir com os suíços, franceses e espanhóis. E a tecnologia. Vai ocupar um pavilhão.

H: Estas alterações estratégicas estão relacionadas com o seu regresso à FIL?
J.G.:
Eu participei na criação da Alimentaria Lisboa. Tenho muito carinho pela feira. A equipa que vai trabalhar connosco é a da Alimentaria Barcelona. As minhas ideias sobre uma feira sectorial de alimentação coincidem plenamente com Barcelona.

Sim, vamos trabalhar de outra maneira. Há um interesse muito especial na Alimentaria, por parte desta casa.

H: Na apresentação institucional da Alimentaria 2009 fala em “metas ambiciosas”. Quais são?
J.G.:
A ambição passa por manter-se, sobretudo. Em Espanha, por exemplo, as feiras sectoriais caíram, em média, 40%. Em Portugal, não baixou. O objectivo é manter todas as feiras que temos ao mesmo nível. A crise mundial repercute-se nas feiras. O segredo é servir melhor os expositores, de acordo com as suas necessidades, e pensar que as feiras não são propriedade da entidade organizadora mas sim dos compradores e expositores. Somos exclusivamente um instrumento, cuja tarefa é unir os interesses do expositor aos do comprador.

H: A Horexo pode desaparecer?
J.G.:
Não. Dentro da Alimentaria não temos o canal de equipamento para hotelaria. Para isso, há a Horexpo.

H: Esperam receber numa área com 42 mil metros quadrados, 38 mil visitantes…
J.G.:
Eu sempre fui avesso a números. Nunca se ajustam à realidade. O que importa é, no final da feira, o comprador estar satisfeito porque encontrou o que procurava e o expositor também. Uma feira tem de ter oferta suficiente para a procura. De que serve receber 60 mil visitantes se não é o público-alvo que procuro?

H: As duas mil marcas que estimam expor fazem parte da oferta.
J.G.:
Sim, isso interessa numa feira. Ter uma oferta ampla. Um grupo pode ter 27 marcas diferentes, não só de alimentação. Uma feira é tanto maior pelo número de empresas e não pela dimensão em metros quadrados.

H: A Alimentaria não se resume a apresentar inovações.
J.G.:
Apresentar as novidades do sector é um dos objectivos de uma feira, mas é muito mais. É um ponto de encontro, serve para testar o mercado para definir o posicionamento da empresa face à concorrência. E são vendas, e acções internas da companhia, de relações públicas.

H: Qual é a estimativa de crescimento para a edição de 2009?
J.G.:
O crescimento da feira só é perceptível quando, ao chegar à Alimentaria 2011, sentir muito menos dificuldade em vender a feira face à edição anterior. Crescer em visitantes e área não significa nada.

H: Como chegam à cifra de 175 milhões de euros no volume de negócios gerado pela Alimentaria?
J.G.:
São valores estimados através de conversas com os expositores. A conta é feita da seguinte forma: fiz “X” contactos que me podem garantir “Y” de volume de vendas.

A feira não é um fórum onde imediatamente se encontra retorno e cifras de negócio. Mas, continuo a dizer que a medição é feita através da satisfação e investimento do expositor nas edições posteriores.

Posso falar de números rigorosos sobre a FIL, que aporta a Lisboa 300 milhões de euros anuais. Se a FIL não existisse deixariam de entrar 300 milhões na capital. Aqui há 5 mil empregos anuais indirectos.

H: Na edição passada sentiu-se a ausência de grandes empresas, como a Nestlé e a Central de Cervejas.
J.G.:
Sim, estamos a tentar recuperá-los. Isto está relacionado com a satisfação. Essas empresas não encontraram o que procuravam, o retorno.

H: A feira tem um cariz nacional e internacional. Vai ter mais expositores internacionais?
J.G.:
Pode ocorrer ter mais expositores internacionais, mas o objectivo é ter mais compradores externos.

H: Que percentagem de visitantes estrangeiros estima alcançar?
J.G.:
Fora dos países de influência portuguesa estamos a utilizar a estrutura de Barcelona, toda a equipa de compradores internacionais. Vai haver uma evolução favorável.

H: Quais os países onde há mais potencial?
J.G.:
A partir da FIL, Angola e países lusófonos. Por parte de Barcelona, os alvos são a Europa, parte da América Central e do Sul, e algo no Oriente Médio. Países onde há comunidades portuguesas.

H: Os compradores são maioritariamente da grande distribuição?
J.G.:
Da grande distribuição e hotelaria.

H: Que vantagens e desvantagens traz a abertura da Alimentaria ao público?
J.G.:
Às empresas de grande consumo, o público final não interessa porque fazem publicidade na TV. Utilizam canais que vão directamente ao consumidor. Mas, a feira está aberta a todo o tipo de empresas. As empresas tradicionais também precisam de saber como funciona o mercado.

Não me parece mal, desde de que controlado. A entrada da Alimentaria é a mais cara da bilheteira. E, muitas vezes, o público vem como convidado das próprias empresas, ou seja, algumas têm interesse.


ALIMENTAÇÃO EM NÚMEROS

Sector agro-alimentar

– 3.500 M€ (milhões de euros em vendas)

– 5% (crescimento médio anual do sector)

– 10 M (milhões de consumidores)

– 1.100 M€ (recorde de vendas pertence aos lácteos)

Indústria Alimentar e Bebidas

– 13.000 (empresas)

– 93.000 (postos de trabalho)

– 10.300 M€ (vendas)

VISITA GUIADA

– Multiproduto – Salão sectorial com produtos alimentares de grande consumo

– Expobebidas – Águas, cervejas, sidras, bebidas sem álcool e funcionais, além de espirituosas, vão estar em destaque

– Intervin – Pela primeira vez, há um salão exclusivamente dedicado ao vinho

– Deliexpo – Mostra de produtos delicatessen, regionais e gourmet, na sua maioria com certificação de denominação de origem

– Congexpo – Apresentação de produtos congelados e refrigerados, deste o peixe ao marisco, passado pelas refeições prontas e leguminosas

– Intercarne – Inovações e especialidades na área de produtos cárnicos e transformados

– Mundidoce – Área de produtos de confeitaria, bolachas e guloseimas

– Tecnoalimentaria – O pavilhão 4 é dedicado às novas tecnologias: máquinas e equipamentos para indústria e distribuição alimentar, embalagem, logística e transporte

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