Outras Opiniões

O Básico sobre Hedge Funds

Por a 8 de Agosto de 2008 as 9:30

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A SEC (Securities Exchange Comission) suspeita que as quedas recentes das bolsas foram empoladas por determinadas práticas manipuladoras levadas a cabo por “hedge funds”. Verdade ou não parece-nos uma boa oportunidade para escrever um pouco sobre este tipo de veículos de investimento, até porque se têm destacado nas boas performances em períodos negativos do mercado accionista. Não cabendo neste artigo tudo o que haveria a dizer sobre “hedge funds”, surge a necessidade de nos centrarmos nos aspectos básicos: O que são e o que fazem?

O que são?
Não é fácil formular um conceito de “hedge fund”, pois há especificidades históricas e geográficas que os tornam pouco homogéneos. Tentemos a seguinte definição:

“Um hedge fund é um veículo de investimento, geralmente sob o formato de um fundo especializado, não regulado e acessível a um conjunto restrito de investidores.”

“…sob o formato de um fundo especializado…”

Tipicamente os “hedge funds” divulgam um NAV (Net Asset Value) periódico que decorre do cálculo, pela entidade de custódia, do valor de mercado dos activos menos os passivos. A periodicidade de divulgação poderá variar de diária (menos usual) até plurimensal. A liquidez destes veículos está obviamente relacionada com a periodicidade de cálculo do NAV. São fundos especializados que utilizam técnicas sofisticadas de análise de risco e de detecção de oportunidades de investimento, buscando maximizar uma boa performance ajustada ao risco. Este aspecto é muito importante porque geralmente estes fundos cobram fees de performance, distinguindo-se dos fundos de investimento tradicionais que apenas cobram um fee fixo independentemente da performance. Esta característica (busca obsessiva de performance) torna a indústria de “hedge funds” muito concorrencial, atractiva, sofisticada, mas também arriscada, exigindo diligências de controle de procedimentos bastante exigentes já que se trata de …

“…fundos… não regulados…”

A regulação é objecto de aceso debate na comunidade financeira. A recente crise financeira, provocada pela gula dos grandes investidores e das casas de investimento, terá consequências inevitáveis que passarão por mais regulação e exigência por parte das entidades supervisoras. Não obstante esse facto, é seguro dizer-se que os “hedge funds” serão sempre veículos de investimento menos regulados, menos transparentes, mais parcos em informação aos investidores e mais sofisticados do que os veículos de investimento tradicionais.

“…acessível a um conjunto restrito de investidores.”

O crescimento da indústria de “hedge funds” tornou-os um instrumento mais democrático, o que constitui um desafio para os seus gestores ao nível da divulgação da informação e das práticas. Contudo, continua a ser verdade que os “hedge funds” se dirigem a investidores profissionais e públicos com capacidade e dinheiro que lhes permitam praticarem as diligências necessárias ao controle de risco. Para além disso, os melhores “hedge funds” têm valores mínimos de subscrição inacessíveis ao comum dos mortais.

O que fazem?
Os “hedge funds” não são um tipo de investimento homogéneo. Originalmente, os “hedge funds” usavam os mercados derivados para cobrir o risco de posições no mercado à vista, obtendo um lucro sem risco. Este “hedge” deu o nome ao tipo de fundos, designação que foi ficando até aos dias de hoje, embora, neste caso concreto, o nome desvirtue a sua verdadeira natureza: especulativa e alavancada.

Vejamos, então, alguns tipos de “hedge funds”:

1. Global Macro. Procuram tirar partido de uma abordagem macroeconómica, actuando em quase todos os mercados (câmbios, acções, obrigações, matérias-primas, etc). O processo de gestão pode ser discricionário, ou seja, baseado nas decisões dos gestores; sistemático, isto é, assente na aplicação de modelos matemáticos (aqui se incluem alguns “Commodity Trading Advisors”); ou misto, em que há uma distribuição diversificada por estratégia de gestão (daí o nome, Multistrategy).

2. Directional. Procuram apostar numa determinada direcção do mercado, com ou sem cobertura de risco. Neste grupo incluem-se: os “equity long short” que compram acções e fazem cobertura com índices; os “sector funds” especializados em determinados nichos ou sectores; os “short bias” que procuram beneficiar da queda do mercado, através da tomada de posições curtas em índices e acções.

3. Event Driven. Exploram ineficiências causadas por determinados eventos, principalmente ao nível das empresas. Neste grupo incluem-se, entre outros, os fundos “distressed” que se especializam em empresas que transaccionam a desconto devido ao risco de falência e os “merger arbitrage” que exploram ineficiências ao nível de empresas em processo de fusão.

4. Relative Value. Exploram ineficiências entre activos relacionados. Incluem-se neste grupo, obrigações, acções e obrigações convertíveis.
Alexandre Mota, Consultor e Gestor de Carteiras da Golden Assets

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