Outras Opiniões

FED começará a subir taxas de juro este ano

Por a 27 de Junho de 2008 as 10:30

alexandre mota

O mês de Maio caracterizou-se por um decréscimo de preocupações ao nível da crise do mercado financeiro e por um aumento dos receios inflacionistas. O preço do petróleo bateu novos máximos acima de $130 por barril e não deu sinais de abrandamento. Apesar de o euro ter subido, esse facto não foi suficiente para amortecer a escalada do preço do crude em euros.

As minutas da última reunião do FED cimentaram a visão de que o FED não está inclinado para uma longa pausa com taxas de juro muito baixas, a não ser que surjam mais surpresas negativas.

Na zona euro os dados divulgados foram genericamente mais benignos do que o esperado, com destaque para a Alemanha. Contudo, preocupações inflacionistas e a alta do crude impediram grandes recuperações dos índices accionistas. No campo das empresas, os lucros continuam a ser revistos em baixa. O Consenso aponta para um crescimento médio dos lucros das empresas do Dow jones 600 de 3% este ano versus uma estimativa de crescimento de 10% no final de 2007.

A evolução do preço do crude foi o tema central dos mercados financeiros em Maio. Falou-se bastante da influência do dólar no preço do crude. A evidência pode ser resumida simplesmente numa frase: se o dólar desce, o petróleo sobe, embora não exactamente ao mesmo tempo nem na mesma proporção.

Por sua vez, hoje em dia faz cada vez mais sentido falar da mesma evidência, embora no sentido inverso: há um efeito negativo da alta do crude no dólar. Estatisticamente estamos perante aquilo que se designa de autocorrelação, em que a variável explicativa (o dólar) passa a ser fortemente influenciada pela variável explicada (o crude). Em linguagem mais comum, estamos perante um ciclo vicioso petróleo/dólar e a explicação é simples: a alta do crude tem efeitos perversos na balança comercial americana, no PIB, na confiança dos agentes económicos e, por consequência, no valor da divisa americana. Esta situação tem uma lógica económica, mas é de alguma forma exacerbada pelos mercados que tendem a agarrar-se às formas mais fáceis e rápidas de ganhar dinheiro.

Que consequências poderão advir deste ciclo vicioso desvalorização/inflação e como sair deste cenário explosivo?
As consequências são de várias ordens, mas há duas que assumem um estatuto estrutural:

a) Com o petróleo a estes níveis está a ocorrer uma transferência de poder económico a favor dos países produtores

b) Com o dólar apanhado numa ratoeira de depreciação, poderá ser o fim do dólar como moeda de reserva a nível mundial.

Como sair deste pesadelo?
Penso que só há uma solução, embora não garantida. Da mesma forma que o FED se apressou a descer as taxas de juro para salvar o sistema financeiro americano, deverá subi-las agressivamente para os níveis pré crise financeira. Dessa forma potencia uma recuperação do dólar e ajuda a conter a escalada do crude.

Riscos?
À semelhança da crise dos inícios dos anos 70, os riscos decorrem da possibilidade da cura do FED potenciar uma recessão. A questão é que, com estes preços do crude e se continuarem a subir, a recessão virá de qualquer forma.

A economia não é uma ciência exacta, mas penso que cresce cada vez mais a probabilidade de o FED subir as taxas de juro este ano. Se não o fizer, o dólar afundar-se-á, assim como o crude não terá limites à sua escalada.

Alexandre Mota, Consultor e Gestor de carteiras da Golden Assets

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