O ciclo do iogurte

Uma viagem ao Mundo do iogurte, desde a ordenha das vacas até aos lineares do supermercado.

De porte atlético e olhar desconfiado, apercebe-se da movimentação pouco habitual por aquelas paragens. É meio-dia e ainda não ainda foi ordenhada. A comitiva de jornalistas atrasou-se e assim trocou as voltas à rotina das vacas leiteiras. Como animais de hábitos, cumprem horários rigorosos e gostam de fazer sempre o mesmo, todos os dias.

Habitualmente, às nove horas da manhã já forneceram entre 25 a 30 litros de leite na primeira das duas ordenhas diárias. A última tem lugar à noite. A operação demora apenas 10 minutos. Enquanto é mungida, conforta o estômago com o petisco, reforçado mais ou menos a meio da faina, colocado estrategicamente bem à frente da mandíbula.

Os olhos esbugalhados e as orelhas bem erectas, posicionadas no sentido contrário ao focinho, denunciam descontentamento face à alteração da rotina mas também em relação à plateia, porque raramente são alvo da curiosidade de estranhos.

É uma Holstein Friesian, raça de origem holandesa especializada na produção de leite que se massificou no País na segunda metade do Séc. XX. É malhada a preto e branco e presta serviço, leia-se dá leite, cerca de 10 a 11 anos. Pode durar cerca de 20 anos, mas a partir daquela idade os problemas de dentição impedem uma alimentação adequada. Pastagem, soja, milho, aveia e massas de cerveja fazem parte da dieta destas vacas leiteiras instaladas no Instituto Politécnico de Castelo Branco.

Adeus crise!
A iniciativa da visita é da Danone Portugal que propõem uma visita guiada ao universo do iogurte, desde a recolha do leite até à linha de enchimento. A Escola Agrária de Castelo Branco é a única unidade experimental da Beira Interior e estende-se por 167 hectares. Desde 95, as duas entidades estão ligadas em projectos comuns, na temática da investigação, desenvolvimento tecnológico, mas sobretudo formação dos agricultores que trabalham para a empresa.

A divisão de iogurtes da Danone compra leite directamente a 28 produtores espalhados pelas regiões do Ribatejo Oeste, Alentejo e Beira Interior. A multinacional francesa recolhe em média 150 mil litros de leite por dia, o que perfaz 58 toneladas por ano.
Pela “rendibilidade”, a Danone valoriza a proteína do leite em detrimento da gordura, explicou ao Hipersuper, João Sousa, responsável pela recolha de leite da empresa. “A gordura não tem valor para nós, é excedente, por isso exportamos a nata”.

A escassez na produção de leite que assolou o Mundo no ano passado, conheceu este trimestre evoluções positivas e “actualmente há mais leite do que o necessário. O desequilíbrio na produção mundial deveu-se às secas registadas na Nova Zelândia e Austrália, que juntas produzem cerca de 60% do leite consumido no Mundo. A Europa é mais rentável. A França, grande núcleo de produção da Europa, investiu muito e já aumentou a produção em 10%”.

Passo-a-passo
Os cerca de 150 mil litros de leite que a fábrica recebe por dia são armazenados nos quatro silos de depósito de diferentes dimensões. Após recepção, (a zona de descarga é a menos automatizada), o leite proveniente das vacarias é sujeito a uma pré-pasteurização para se conservar durante um a dois dias. O segundo passo é levado a cabo na sala de normalização: através do sistema informático são definidas as fórmulas das mais de cem referências produzidas na única fábrica de iogurtes da Danone em Portugal. Na zona do controlo de processos, adiciona-se o fermento, processo que pode levar 16 horas. Depois do arrefecimento (6º), a preparação é transportada para o andar inferior onde se encontram as cinco linhas de enchimento.

No caso dos iogurtes líquidos, o fabrico da embalagem é da responsabilidade da Logoplaste que tem operação dentro da unidade industrial da Danone. Quanto aos iogurtes sólidos, a própria máquina fabrica as embalagens.

Em média, o iogurte pode levar três a quatro dias a chegar às prateleiras dos supermercados.

A fábrica localizada em Castelo Branco ocupa 27.700 metros quadrados e produz cerca de metade do iogurte consumido no País. Todos os dias saem da fábrica cerca de dois milhões de embalagens.

Nos próximos dois anos, a unidade industrial vai ser remodelada. Objectivos: optimizar as linhas de enchimento para aumentar em 20% a produção, e transformar a informação visual do espaço, para incrementar a segurança e facilitar o trabalho aos operadores.

Estatísticas e curiosidades

Matéria-prima

• Transforma em média 150 mil litros de leite por dia fornecidos directamente por 28 vacarias
• Produtores localizam-se entre o Ribatejo Oeste, o Alentejo e a Beira Interior
• Cada exploração detêm em média 200 efectivos e fornece 6 mil litros diários
• Mais de 50% das explorações pertencem a empresários holandeses
• Leite provém da Holstein Friesian, raça de origem holandesa especializada na produção de leite
• Produção em sistema intensivo

Fábrica

• Área: 27.700 metros quadrados
• Única unidade industrial de iogurtes da Danone em Portugal localiza-se em Castelo Branco
• Opera 24 horas por dia, 25 dias por mês
• Emprega 126 colaboradores, 1/3 são mulheres
• Cinco linhas de enchimento
• Produz cerca de metade do iogurte consumido no País e 75% do iogurte que a empresa distribui no mercado nacional
• Um total de 25% da produção serve a exportação (Espanha; França e Itália em situações pontuais)
• Saem da fábrica cerca de dois milhões de embalagens diariamente
• Produz 100 referências diferentes
• Não produz marcas próprias para a Distribuição Moderna
• Em 2007, fabricou 54 mil toneladas de iogurte
• Fábrica auditada pela American International Baking (segurança alimentar)

Danone no Mundo

• Centrou actividade desde Novembro de 2007 em 4 áreas de actividade: Águas (Envian); lácteos frescos (Danone); nutrição infantil (Bledina e Milupa) e nutrição clínica (Volvic)
• 150 fábricas
• Divisão de iogurtes opera em 77 países e representa 220 milhões de euros
• Activia é a marca mais vendida
• Grupo presente em 120 países facturou 14,5 mil milhões de euros em 2007
• 50% das vendas são feitas na Europa Ocidental
• 1250 cientistas e investigadores

Fonte: Danone e Instituto Politécnico de Castelo Branco