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«O pior está para vir»

Por a 4 de Abril de 2008 as 12:00

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Não ao aumento das quotas leiteiras foi a ideia mais sublinhada no VII Seminário do CNL (Comité Nacional do Leite), dias antes de Jaime Silva ter votado a favor das mesmas. O cenário vivido durante o encontro do sector lácteo português deixa adivinhar o descontentamento da parte dos produtores face à actuação do ministro. 

O aumento de 2% das quotas leiteiras aprovado pelos ministros da Agricultura da UE, a partir de um de Abril de 2008, é, neste momento, a maior preocupação do sector lácteo português, assim como a supressão das mesmas em 2015. «Encontrar uma PAC ajustada a toda a Europa com condições adequadas» torna-se ponto fulcral para o equilíbrio de um mercado cujos produtores consideram estar em risco.

Foram 11 os oradores convidados a apresentar temas pertinentes ao sector. Arlindo Cunha, da Universidade Católica do Porto, teve honras de abertura e apresentou o tema «o sector leiteiro na encruzilhada do debate sobre a PAC após 2013 e das negociações da Ronda de Doha da Organização Mundial do Comércio».

Com ou sem quotas?
O orador considera essencial encontrar uma PAC ajustada a toda a UE com condições apropriadas, e defende que se está a viver «um ajustamento e não uma reforma» quando deveria ser «um ponto de partida para um novo ciclo». O professor refere-se, também, à urgência de preparar o País para o desaparecimento das quotas leiteiras a partir de 2015, assim como salienta a necessidade de uma análise sobre o impacto que a alteração registará em Portugal. É necessário destacar a importância dada pelo docente à procura de soluções para a isenção de quotas.

Arlindo Cunha convidou as indústrias portuguesas do sector lácteo a expressarem a sua opinião. «São poucos os países da União Europeia a terem uma opinião oficial por convicção, daí a necessidade de Portugal ter uma posição oficial na decisão das quotas leiteiras para 2015». O professor afirma: «apesar das opiniões destas instituições serem, por vezes, respondidas nos órgãos de comunicação social, o facto é que está tudo muito incerto».

Como resposta às “provocações” do orador, os presentes garantem que a posição dos produtores portugueses é do conhecimento geral e que se traduz na defesa das quotas e na visão de um cenário negro para o fim das mesmas.

O professor José Estevam Matos, representante da Universidade dos Açores (UA), focou a sua apresentação no tema «a produção de leite perante a mudança de paradigma energético».

O professor apresentou dez elementos de instabilidade para o sector, nomeadamente, «o preço do petróleo e a sua relação com os preços do milho da soja e dos adubos e o cambio do dólar». Apesar dos constrangimentos, o mercado europeu ainda não foi vítima do impacto total do aumento dos preços do petróleo e dos cereais no mercado mundial, referiu José Estevam Matos.

Esta é uma das grandes preocupações do professor e chama a atenção para o facto de «a resposta a esta questão carregar em si um elemento de grande incerteza, instabilidade, deixando mesmo adivinhar que o pior está para vir».

Na lista de elementos de instabilidade segue-se «a relativa animação do mercado mundial de lacticínios que se tem verificado nos últimos tempos», a emergente «concorrência das energias renováveis», bem como «a grande dependência do preço do milho no mercado internacional das produções deste cereal no EUA».

Como quinto factor de instabilidade, o orador aponta «as incertezas da PAC» e sublinha a necessidade de uma «aterragem suave». «O licenciamento das explorações e os condicionamentos ambientais», são, também, factores de instabilidade. O professor refere a este respeito a necessidade de apoiar as explorações na pesquisa de melhores soluções para reduzir os impactos ambientais sem estorvar a viabilidade económica.

«A reorganização da produção na Europa e no Mundo e a concorrência dos novos actores», assim como «a evolução dos sistemas de produção de leite face ao novo paradigma energético» e ainda «a partilha das mais valias do leite – do produtor ao consumidor», foram causas que contribuíram igualmente para a crise.

Por último, o professor aponta «os problemas demográficos e a desertificação agrícola. As explorações leiteiras do futuro devem ser geridas por profissionais mais jovens e mais qualificados e os recursos disponíveis, nomeadamente solos e forragens, sejam total e sustentavelmente explorados, quer o sejam através da vaca leiteira ou dos pequenos ruminantes».

Leites gourmet
A inovação: extensão rural, investigação e experimentação agrícola, um modelo sustentável de produção e a diferenciação e diversificação, foram as soluções apresentadas pelo responsável da UA. Outra ideia deixada aos presentes foi a aposta na qualidade das ervas energéticas das pastagens «em detrimento de uma produção de leite feita com concentrados, necessariamente importados e cujos preços não controlamos».

José Matos garante que não é possível apresentar um quadro previsível aos produtores e que, por mais estratégias de atenuamento que se possa adiantar, terão que ser os próprios a escolher com precaução as suas acções.

Leonardo Costa, professor da Universidade Católica do Porto, abordou o tema “O Leite, o Território e a Competitividade e o Desenvolvimento”. Reflectiu sobre o que considera necessário para um futuro competitivo e sustentado. «Mais do que intensificar a produção física, o sector necessita de intensificar o valor. O sector necessita de diferenciar a oferta, transitando de produtos de baixo valor acrescentando unitário para produtos de alto valor acrescentado unitário». Para o docente, «Gourmet é um caminho a seguir».

Leonardo Costa refere também os conflitos vividos no sector (produção) e apela à união dos produtores portugueses, ao contrário dos conflitos ocorridos até agora. «A competitividade é condição necessária mas não é suficiente para o desenvolvimento do País».

A intervenção do Professor João Niza sobre a «a segurança alimentar na produção primária no leite de vaca» confirmou que nos últimos anos tem «existido um excelente comportamento de segurança por parte do sector do leite e lacticínios. No que toca ao risco da doença alimentar associada ao consumo de leite e lacticínios, confirmou-se a imagem de segurança que lhes está associada pelos consumidores».

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