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Queijos:sim, mas em livre serviço

Por a 7 de Março de 2008 as 9:30

queijos

O sector ainda desconhece que influência terá a crise das matérias-primas, bem como a concentração da Distribuição Moderna, no preço final dos queijos. A única certeza é que rapidez e conveniência continuam a ser as exigências dos consumidores que, cada vez mais, procuram o livre serviço.

O mercado de queijos em Portugal, apesar de tradicional, continua em crescimento positivo, com taxas moderadas de 5%. A penetração de queijos nos lares portugueses conquistou um aumento considerável, alcançando 95,5% face aos 93% do ano anterior. A diversificação e a aposta na inovação continuam a ser pontos fulcrais para amadurecer o mercado, como também para conseguir competir com a concorrência estrangeira. Baterias apontadas na procura de soluções para o dia-a-dia, essa é a estratégia dos produtores de queijo nacional.

A tendência, em 2007, esteve no abandono dos balcões de atendimento. Os portugueses preferiram pagar mais, e comprar o produto previamente embalado, do que ficar à espera de serem atendidos. No ano que fechou, a penetração da venda em livre serviço registou um aumento de 5,7%, alcançando 93,7% face aos 88% do ano anterior. Com esta preferência quem ficou a perder foi o atendimento directo, que diminuiu as vendas em 1,5%, de 68% em 2006, para 66,5% do ano que passou. Os lares nacionais gastaram 70 milhões de euros em produtos no atendimento directo, enquanto os produtos previamente embalados venderam 155 milhões de euros (dados TNS).

A variação de preços entre as duas formas de compra é considerável, um gasto adicional para o bolso dos portugueses justificado pela comodidade. Para a Lactaçores, a compra de produtos em livre serviço «é uma tendência motivada essencialmente pela necessidade de uma maior rapidez no atendimento, pelo aumento do espaço disponível em linear, e, obviamente, pela optimização de custos que permite à distribuição. Tem sido uma situação naturalmente acompanhada pelos nossos produtos, tendo existido uma constante adequação às novas tendências de espaço livre serviço».

A tão comentada crise das matérias-primas, com a subida sem «precedentes» do preço do leite, não deixou o sector dos queijos de lado. José Faísca, director comercial da Fromageries Bel Portugal, acredita que «é preciso tempo para compreender qual será o impacto verificado no consumo face ao aumento de preços». Vera Mota, gestora de marketing da indústria de lacticínios Queijo Saloio, tem uma visão mais preocupada: «a conjectura negativa vivida e o aumento de preço da matéria-prima conduziu inevitavelmente a um esmagamento de margens na indústria dos lácteos».

Inovações na ordem do dia
O mercado de queijos sofreu um longo período sem inovações. Agora os tempos são outros e a necessidade de acompanhar o aparecimento de novas marcas, novos conceitos e apresentações, bem como posicionar de forma vantajosa os produtos para sobreviver à competição de preços, levou as indústrias de queijo portuguesas a lutarem pela sua posição no mercado. A estratégia passa por acompanhar as tendências e estar a par das inovações. «Temos projectos em carteira, acreditamos que a inovação é determinante. O lançamento, recente, da gama Saloio 2Go, produtos pronto-a-comer, terá continuação com o desenvolvimento de mais produtos sob este conceito. Reforçaremos o nosso domínio do subsegmento de queijos de cabra lançando novos conceitos e apresentações sob a marca Palhais. O próximo é um requeijão para barrar de cabra».

A Bel Portugal, líder nos segmentos de flamengo e fundido, bem como a Monforqueijo, especialista em queijos curados, têm previstos, para 2008, novos lançamentos. A empresa número um em Portugal prepara novidades nas áreas de flamengo e fundido. Já a indústria de Monforte vai lançar um curado com sabor a frutos.

As soluções práticas e convenientes são as mais procuradas. Os produtos pré-embalados seguem à frente das escolhas dos portugueses. No entanto, a versatilidade continua a ser uma mais valia para os produtores. «As empresas procuram diversificar, inovar, comunicar. Oferecem produtos mais versáteis, que possam acompanhar os gostos e tendências de consumo. É o caso dos queijos frescos, fatiados, para saladas, em barra, amanteigados, ralados e fáceis de barrar. Principalmente, procura-se oferecer um produto de fácil consumo e de fácil associação a outros produtos», garante Jorge Capitão, presidente da direcção da Monforqueijo.

Quota de queijos estrangeiros aumenta
Os lares portugueses consumiram 30 mil toneladas de queijo em 2007. O que equivale a cerca de 225 milhões de euros. Portugal continua a preferir o queijo flamengo, uma tendência difícil de contrariar, 72,3% dos lares nacionais compraram este tipo de queijo ao longo do último ano. O queijo corrente português, os queijos frescos/requeijão e outros tipos de queijo seguem, respectivamente, na lista de preferidos, deixando para último os queijos estrangeiros, com uma penetração de 50% nos nossos lares (dados TNS). No entanto, é provável que essa tendência se venha a contrariar, segundo Vera Mota. «Apesar de mais pequena essa quota está em crescimento devido, fundamentalmente, ao facto de o preço do leite em Portugal ser muito mais elevado que nos restantes países da Europa e logo os produtos nacionais ficarão pouco competitivos face à oferta estrangeira».

«A Bel Portugal tem registado importantes crescimentos no segmento fundido. “Os formatos Triângulos, cuvetes e fatias de queijo fundido da marca Vaca que ri, já representam 33% do volume de queijo fundido consumido no nosso País», afirma o responsável comercial da empresa de lacticínios.

Os produtos “light” e “diet” continuam em constante crescimento numa sociedade em que os hábitos alimentares saudáveis e o culto do corpo estão cada vez mais enraizados. Além de fazer parte da dieta essencial, comer queijo é sobretudo um prazer. A elevada procura deste tipo de produtos obriga as indústrias lácteas a estarem atentas aos novos “caprichos” dos consumidores. O Flamengo “light”, apesar de contar com pouco tempo de vida, regista uma taxa de crescimento de 50%, a maior de todos os segmentos. «O mercado procura cada vez mais a junção de várias características nos produtos alimentares a fim de satisfazer os vários eixos que o consumidor valoriza: prazer, conveniência e saúde», sublinha a responsável de marketing da Queijo Saloio.

As marcas próprias ou da distribuição tem registado aumentos significativos. Vera Mota explica que «em apenas dez anos, a quota global nas vendas a retalho evoluiu de 5,1% para os 13,4%, com algumas categorias a chegarem a reunir valores na ordem dos 40% ou 50% do mercado. Na área alimentar, a mais desenvolvida, encontram-se várias categorias com quotas na ordem dos 30% em volume e 20% em valor».

A directora de marketing da Queijo Saloio acrescenta ainda que «este boom das marcas de distribuição é fruto do lançamento sucessivo de produtos com marcas das insígnias com um preço mais baixo comparativamente ao produto líder e segunda marca». O engenheiro da Morforqueijo, Jorge Capitão , acredita que «neste mercado a marca própria é um elemento de diferenciação importante para o consumidor. Há a marca líder e as restantes que, geralmente, se apresentam com um preço mais baixo. É importante que o cliente conheça o mercado e os produtos que adquire».

O protagonismo cada vez maior da Distribuição Moderna e a consequente queda das vendas no comércio tradicional tem levado as indústrias de queijos a fortalecer a sua presença nas grandes superfícies. Os supermercados e os discounts mantêm-se na frente da corrida, seguidos pelos hipermercados.

No entanto, são as categorias práticas, económicas, versáteis e de fácil escolha que se encontram no grande consumo, ao passo que os queijos regionais continuam a ter maior protagonismo no canal tradicional. «Contudo, quando a grande distribuição implementa espaços adicionais, nomeadamente, com a realização de feiras e eventos de produtos “regionais”, massifica-se o acesso e a experimentação por parte dum maior número de consumidores», salienta Sérgio Pedrosa, gestor de categoria da Lactogal.

A concentração da Distribuição Moderna, com a compra do Carrefour pela Sonae Distribuição e a aquisição das lojas Plus pela Jerónimo Martins, é vista por alguns como um problema, que afectará as indústrias de queijo como todas as outras, enquanto para outros é uma mais valia que potenciará os queijos portugueses.

Para a responsável da Queijo Saloio, «a concentração afectará o sector de queijos na medida em que limita o número de operadores presentes no mercado, aumentando o poder negocial de cada um deles. Daí deriva um, cada vez maior, esmagamento de margens uma vez que é muito difícil subsistir sem estar presente nalgum deles. Limita fortemente a inovação dadas as, cada vez maiores, barreiras à entrada e condiciona fortemente quando a concentração é no sentido de cadeias com filosofia de discount e predomínio de marcas próprias».

A Monforqueijo deixa claro que não vê problemas nestas concentrações pois elas são o resultado da globalização. «Do nosso ponto de vista, é até positivo para os produtos portugueses, porque com empresas nacionais fortes é possível que elas consigam concorrer lá fora e normalmente contam connosco para lhes fornecermos produtos para exportação».

No que refere à polémica que envolve a actuação da ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), as opiniões são unânimes. Os procedimentos rigorosos por parte desta entidade são vistos com bons olhos, no entanto, o que se pede é coerência e claridade nos procedimentos.

ASAE aos olhos da indústria láctea

“Uma fiscalização exigente só torna o sector mais forte”
Jorge Capitão, presidente da direcção da Monforqueijo

“O rigor nunca é negativo”
José Faísca, director comercial da Bel Portugal

“Os regulamentos e procedimentos deverão ser estáveis no tempo”
Sérgio Pedrosa, gestor de categoria da Lactogal

“A actuação da ASAE é positiva para as empresas que já operavam no cumprimento da regulamentação existente para o sector”
Vera Mota, gestora de marketing da Queijo Saloio

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