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Crise nos cereais afecta preço da carne

Por a 22 de Fevereiro de 2008 as 15:00

carne

O preço dos cereais aumenta, o custo da ração sobe, a produção de animais torna-se mais cara e… quem paga é o consumidor! Produtores de bovino afirmam estar a viver uma crise ímpar e sem fim à vista. Ganhar competitividade na produção poderá ser o segredo para as empresas combaterem a crise.

Comer um bom bife poderá sair cada vez mais caro. A crise que se vive no sector das principais matérias-primas para a indústria alimentar está a provocar uma subida generalizada dos preços e o mercado das carnes não é excepção. O aumento exponencial do custo dos cereais, em parte causado pelo escoamento desta matéria para o desenvolvimento de biocombustíveis, reflecte-se na subida do preço da ração para alimentar os animais e, consequentemente, quem “paga” a factura é o consumidor.

Em dois anos, o custo da ração para alimentar um novilho com cerca de 600 quilos praticamente duplicou. Esta subida está a originar o pânico entre os representantes do sector, que afirmam estar a viver uma crise sem fim à vista, maior do que a da doença das “vacas loucas”. O aumento do preço da carne ao consumidor é incontornável, de acordo com o presidente da Associação Nacional de Engordadores de Bovino, e já há produtores que estão a vender os animais com prejuízo. Durante um colóquio que reuniu o sector, o responsável classificou como «grave» e «dramática» a situação que se vive em toda a pecuária intensiva (elevado número de animais por área), uma vez que o problema é estrutural e não conjuntural, porque o preço dos cereais vai continuar a subir.

Carne: pedra basilar
Esta crise afecta todos os segmentos do mercado das carnes, desde bovinos, suínos ou avícolas. No entanto, perante este cenário, a carne de aves poderá tornar-se mais competitiva . Dinis Santos, administrador da Kilom, marca que comercializa vários tipos de aves, explica que «a carne de aves é uma das proteínas mais em conta», isto porque neste segmento «a capacidade de transformar cereais em carne é mais eficiente comparativamente», razão que faz com que o aumento do preço na carne de ave seja proporcionalmente mais baixo que nos restantes animais.

No entanto, de acordo com Nelson Ferreira, administrador da Galapa, empresa que comercializa carne de porco branco e preto, as oscilações dos preços da matéria-prima afectam o mercado, mas raramente «se reflectem directamente nos preços ao consumidor final». Na opinião do responsável, as empresas têm que ser mais eficientes. Neste sentido, modernizar as fábricas para ter maior competitividade na produção é a chave para que as companhias sejam capazes de manter as suas margens.

A carne é ainda uma pedras basilares na alimentação da população e é presença assídua nos carrinhos de compras dos portugueses. Em 2007, a taxa de penetração destes produtos nos lares nacionais era de aproximadamente 89%. Só no ano passado, o mercado das carnes rendeu aproximadamente 740 milhões de euros aos super e hipermercados nacionais. Carne suína é a mais consumida pelos portugueses, seguida pela de bovino e de aves.

Aparte da crise das matérias-primas, outros factores como a gripe das aves ou a doença das “vacas loucas” têm afectado o consumo de carne nos últimos tempos. No segmento avícola, os últimos anos têm sido marcados por uma evolução atípica. No ano de 2003 rebentou a crise dos nitrofuranos, que originou uma significativa quebra de vendas. No ano seguinte houve uma ligeira subida, interrompida pela ameaça da gripe das aves entre 2005 e 2006. Apesar de não se ter registado nenhum caso em Portugal, a intensa cobertura da comunicação social revelou-se «catastrófica» e, durante três meses de 2006, as vendas de carne de ave registaram quebras na ordem dos 20%. Em 2007, apesar dos números ainda serem provisórios, Dinis Santos acredita que o consumo per capita evoluiu talvez mais de 5%.

Em Portugal, a indústria avícola caracteriza-se por ter das práticas mais evoluídas da Europa. «Estamos equipados com as mais modernas técnicas de produção e acaso não fosse o nosso posicionamento geográfico seríamos altamente competitivos na produção de aves», revela o especialista. A bio segurança, o controlo veterinário exercido pelos serviços oficiais, para que se cumpra as regras da comunidade europeia, e até o facto de Portugal não estar nas rotas principais de migração, têm contribuído para evitar a entrada e propagação da doença no País.

Já o mercado de carne de porco (carne fresca, transformados e pré-preparados) tem mantido níveis de consumo «praticamente estáveis». No entanto, a crescente preocupação dos consumidores com a alimentação tem levado a um aumento do consumo de produtos certificados e tradicionais. Outro factor salientado pelo responsável da Galapa é a subida das vendas de carne de porco preto nos últimos anos, «reflectindo essa tendência dos consumidores procurarem maior qualidade na sua alimentação». Este aumento manifesta-se tanto no consumo do lar, como no Horeca.

Da produção até ao ponto de venda
A confiança no produto final é um aspecto cada vez mais valorizado por produtores e comerciantes de carne, até porque o consumidor está mais atento à origem dos produtos alimentares que escolhem. Logo, rastreabilidade é fundamental. Para garantir a qualidade dos seus produtos e, consequentemente, conseguir a confiança do comprador, a Galapa adoptou a integração vertical na sua produção. «Temos maternidades onde nascem os porcos, passam para as nossas unidades de engorda, são depois abatidos no nosso matadouro e a carne é transformada na nossa unidade industrial».

No caso da Kilom, os animais são produzidos em aviários situados em quintas, que estejam de acordo com as práticas de produção. A empresa fornece os meios de produção, aves do dia, ração e assistência técnica. Ao produtor cabe a função de garantir um maneio eficiente dos meios. Quando as aves atingem idade e peso ideal, são encaminhadas para o centro de abate, onde são processadas sob vigilância do veterinário oficial. Depois são arrefecidas e maturadas, e enviadas para o centro de processamento de carne, onde são cortadas, embaladas e processadas industrialmente para depois serem entregues aos pontos de venda (talhos, distribuição moderna e churrascaria).

A Distribuição tem vindo a assumir um papel fundamental na comercialização de carne de aves, «porque o comércio tradicional está a desaparecer», refere Dinis Santos. No entanto, as churrascarias têm um peso fulcral no consumo de frango (mais de 50%). Estes artigos vão, na maior parte das vezes, para as grandes superfícies já cortadas e embaladas, mas também são vendidas peças inteiras, que são depois cortadas, consoante a vontade do cliente.

A Galapa tem uma forte tradição com o retalho tradicional, mas actualmente as vendas para a grande distribuição valem cerca de 15%. «A relação comercial com a distribuição moderna difere de insígnia para insígnia, pois estamos de forma diferente em cada uma delas», refere o responsável da Galapa. No entanto, «a tendência é para que os fornecedores entreguem os seus produtos cada vez mais perto da forma como o consumidor os vão comprar (cortada e embalada)». Nesse sentido, a empresa tem vindo a apetrechar a sua unidade industrial com linhas de corte e embalagem para responder de forma eficaz aos requisitos da Distribuição.

Para 2008, o grande desafio para produtores e comerciantes de carne de bovino, suíno ou avícola, passa pelo combate à crise das matérias-primas e as consequências que daí advirão, de forma a evitar uma crise sem precedentes neste sector.

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