Emprego & Formação

Distribuição: Desafios para uma Nova Geração

Por a 3 de Janeiro de 2008 as 12:00

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Na Distribuição, à medida que as condições do sell in dos produtos melhoram, também a exigência nos sell out aumenta, tornando-se estes dois aspectos diferenciadores entre a concorrência. Face a esta situação, as empresas adoptam diferentes metodologias, mas a mais basilar de todas é a captação de massa crítica através de recursos humanos dotados das competências base necessárias ao sector.

Um dos maiores desafios colocados às organizações do sector é formar e atrair novos quadros para acompanhar os planos de expansão transversais a quase todas as insígnias, encarando uma dificuldade face ao perfil a ser recrutado: o facto de o sector apresentar uma cultura extremamente própria, operacional, hands-on job e com uma necessidade de polivalência funcional extremamente marcada.

Onde Captar?

Onde encontrar recursos que possam ser adaptados ao modelo de serviço da empresa mediante a formação disponibilizada por esta? Uma solução é a captação de profissionais com experiência. Apesar de estes contribuírem para a diversidade e integração de novas ideias na empresa são também um recurso finito e limitado por óbvias razões estruturais.

Outra solução extremamente utilizada é a captação de recém-formados em programas de trainees.

Desenvolve-se deste modo a integração de inúmeros jovens potenciais que integram este sector, tendo em vista um forte desenvolvimento profissional, associado à empresa que os acolhe. O seu perfil tende a enquadrar-se numa formação superior, aptidão analítica, comercial e comunicacional. Aspiram a dotar-se de competências práticas de gestão de negócio, liderança de equipas e negociação, perspectivando desenvolver-se para funções de Direcção de Loja, Comprador ou Proprietário do seu próprio negócio.

Será esta a solução?

No entanto, aquilo que frequentemente ocorre é uma elevada rotação destes quadros. A causa deste abandono prende-se com a própria especificidade, já discutida, das funções do sector.

Por que é que isto acontece?

Somos um país que aderiu fortemente ao modelo de consumo. No entanto, pensamos pouco no mesmo. A razão passará em parte pela falta de criação de uma cultura de apoio a este sector, ou seja, de estruturas de ensino que estejam em concordância com as necessidades de recursos humanos nesta área.

Poucas são as formações que valorizam funções operacionais, quer a nível secundário ou universitário. O resultado é uma visão fraccionada da realidade da Distribuição, em que existem somente directores e operadores e não figuras intermédias.

Deparamo-nos então com um paradoxo: Num país onde pululam licenciaturas e a taxa de desemprego em licenciados se encontra tão elevada, questionando-se amiúde a relevância de certas licenciaturas no mercado de trabalho, não existe uma via com capacidade de responder a este sector.

Solução ou Rentabilização?

O modelo da Distribuição francês já se encontra entre nós, mas para quando a sinergia entre ambas as partes formadora e recrutadora?

No exemplo francês são diversas as formações superiores especializadas no comércio, fortemente vocacionadas para dotar novos recursos humanos de expectativas em linha com este mercado.

São cursos dotados de formação ao nível de técnicas comerciais, de logística e gestão de stocks, merchandising e promoção no ponto de venda, avaliação e gestão de recursos humanos, bem como gestão financeira, análise de produtividade e gestão de margens e referências.

Ora, estas formações permitem responder a dois fenómenos essenciais: Em primeiro lugar, a capacidade de colocar no mercado de trabalho profissionais totalmente orientados para um sector específico e exigente; Em segundo lugar, permite parcerias com as empresas do sector, facilitando-lhes o recrutamento e fidelização de quadros, ao mesmo tempo que facilita a entrada destes jovens no mercado de trabalho e no contexto da sua área académica, com claro acréscimo de motivação e matching entre perfil de expectativas e funções a desempenhar.

Que Futuro?

Apesar de estarmos a assistir aos primeiros passos neste campo, muito há por fazer na criação de mais conteúdos programáticos centrados na realidade deste mercado.

Para quando a criação – mesmo que conjunta e patrocinada pelos players do sector, logo potenciais empregadores – de cursos contextualizados nas funções operacionais?

Sendo uma área de formação com um potencial de empregabilidade elevado, tornando-se facilmente atractiva como perspectiva de futuro, espera-se uma atenção das autoridades para esta questão, não deixando de ser relevante uma pressão das empresas do sector para a criação destes cursos, com todos os ganhos que teriam na optimização do recrutamento e da gestão de carreiras e expectativas.

Pedro Nunes, Consultant – Retail, Hays Sales & Marketing, [email protected]

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