FMCG Marcas

Mais bacalhau à mesa, mas só em 2008

Por a 14 de Novembro de 2007 as 9:30

bacalhau1-copy.jpg

São boas notícias para a fileira do bacalhau. As quotas de captura do fiel amigo nos mares da Noruega e Barents conheceram aumentos de seis mil toneladas para o próximo ano, face à campanha homóloga. O esforço de recuperação de stock levado a cabo nos últimos anos soma galões e, como haverá maior oferta, é menos provável que o preço do bacalhau suba, estima Oyvind Jensen, representante em Portugal do Conselho Norueguês das Pescas.

Rui Dias, presidente da AIB (Associação dos Industriais do Bacalhau) é menos optimista. A subida de preços é consequência do aumento da despesa com combustível, «que não pára de aumentar e representa uma fatia significativa dos custos associados à pesca».

A crise da oferta e o aumento do preço do bacalhau levaram os exportadores da Noruega a apostar em espécies da família do fiel amigo para abastecer os mercados mundiais.

O que distingue estes peixes do bacalhau? As características organolépticas, basicamente, já que o processo de produção é semelhante. O escamudo, por exemplo, deve o seu nome ao aspecto exterior, tem escamas mais escuras e pronunciadas que o bacalhau. No entanto, o saithe (nome pelo qual é conhecido nos mercados internacionais) apresenta coloração da carne mais escura, o que impede o crescimento das vendas no mercado nacional. É apreciado na América do Sul e Central, explica Vitor Lucas, director de compras da Lugrade, que comercializa bacalhau oriundo do Atlântico. Por outro lado, o arinca apresenta carne branca, mas tamanho reduzido face aos calibres consumidos em Portugal.

Apesar das diferenças, o presidente da AIB acredita no potencial destas espécies para a indústria nacional de transformação. «Tradicionalmente, o bacalhau mais vendido em Portugal era o corrente, por ser mais acessível, e representava 60% do consumo. Nos mercados internacionais, com maior poder de compra, têm-se registado um aumento da procura de bacalhau deste calibre destinado à comercialização em fresco ou transformação em filetes. Este aumento da procura leva a que os preços deixem de ser competitivos para o mercado nacional e, por isso, as espécies afins são uma alternativa para este segmento».

Produção em aquacultura

O Gadus morthua, o legítimo bacalhau do Atlântico, é a espécie com maior peso nas importações nacionais. «É a mais conhecida das espécies das águas frias do Círculo Polar Ártico (mares da Noruega, Islândia, Rússia e Canadá)», explica Rui Dias.

A Noruega e o Canadá desenvolveram projectos de dimensão «assinalável» na área da produção em aquacultura. «Pode ser uma excelente solução para fornecer os mercados que consomem esta espécie no estado fresco, libertando os recursos selvagens para salgar e secar, por exemplo».

De acordo com Oyvind Jensen, a produção de bacalhau em aquacultura representará mais de 10 mil toneladas no final deste ano e atingirá 15 mil toneladas em 2008.

A FAO, organização das Nações Unidas para a alimentação, anunciou recentemente que dentro de 20 anos metade do consumo mundial de peixe será fornecido através deste modo de produção.

Quanto ao mercado nacional, este movimenta anualmente 500 milhões de euros e consome 25% do bacalhau pescado nos mares do Planeta. O consumo de bacalhau salgado seco per capita ronda seis quilos por ano. Um total de 94% dos portugueses ainda prefere comprar o peixe inteiro. «Assim é mais fácil analisar a qualidade do peixe», sustenta o responsável da Lugrade, que comercializa as marcas Lugrade e Marua.

O canal de distribuição mais forte para a empresa é o Alimentar, «porque ultimamente só nos dedicamos ao salgado seco e devido às imposições legais no que concerne ao congelamento por parte da restauração, o Horeca tem vindo a perder peso». A Lugrade atingiu no ano passado um volume de negócios de dez milhões de euros e estima aumentar em 5% a facturação este ano.
Portugueses compram 8kg de bacalhau por mês

Os portugueses adquiriram mais de 171 milhões de quilos de bacalhau (seco, fumado, congelado e fresco) nos primeiros seis meses do ano, número que traduz compras de 19,3 milhões de euros. A despesa média mensal por lar é de 71,30 euros. Os consumidores vão ao supermercado três vezes por mês e levam para casa um total de 8kg de bacalhau.

Intermarché, Modelo e Continente, são, respectivamente, as insígnias líderes em vendas no mesmo período.
Importações à Noruega somam 195 milhões

As importações nacionais de peixe da Noruega crescerem 36,5% nos primeiros nove meses de 2007, face ao exercício homólogo, e atingiram cerca de 230 milhões de euros. O bacalhau seco e salgado e o verde (processado pela indústria transformadora) representaram 84% das compras nacionais, e registaram transacções superiores a 195 milhões de euros.

As compras nacionais de bacalhau seco e salgado à Noruega evoluíram 68% para mais de 100 milhões de euros. Em volume, as importações nacionais cresceram 9,16%, o que traduz 12,77 mil toneladas. As exportações de bacalhau verde para o País, por sua vez, aumentaram quase 60% em valor, e somaram 95 milhões de euros. Em volume, cresceram 35% para mais de 15 mil toneladas.
Água ao preço do bacalhau

A DECO analisou diversas amostras de bacalhau ultracongelado e concluiu que o peso líquido escorrido patente nas embalagens é inferior ao real. «O peso líquido escorrido é a quantidade de produto contido na embalagem isento de água de vidragem. A lei prevê um desvio até 4% para menos. O peso líquido escorrido determinado foi sempre inferior ao indicado, com desvios para menos que chegaram a 8%. Cinco produtos infringiam mesmo a lei», escreve a associação portuguesa para a defesa dos consumidores, na edição deste mês (285) da Proteste.
Cura tradicional certificada em 2008

Há dois anos que a AIB luta pela certificação do tradicional processo de cura do bacalhau. O objectivo é «preservar e reproduzir as características de um produto com grande tradição na cultura gastronómica deste país».

«O produto terá de ser preparado conforme os preceitos tradicionais e será denominado Bacalhau de Cura Tradicional Portuguesa, quando, comprovadamente, assim tiver sido transformado e conseguir as correspondentes características específicas».

«Este é um processo pioneiro na qualificação de um produto da fileira do pescado a nível nacional e comunitário. Depois de sujeito a consulta pública, o processo encontra-se actualmente em fase de homologação nacional. Depois, será remetido às instâncias comunitárias com o objectivo de ser atribuída a protecção Europeia ao Bacalhau de Cura Tradicional Portuguesa enquanto Especialidade Tradicional Garantida. Estimamos que o processo esteja implantado no terreno durante o próximo ano».

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *