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Em busca do bovino perfeito

Por a 27 de Julho de 2007 as 9:00

 sopexa

Pays de la Loire é, por excelência, a zona mais antiga de França na produção de carne de bovino. A tradição secular na criação de raças autóctones vale-lhe já o estatuto de maior especialista em programas de melhoria genética das raças. Produzir o bovino mais perfeito de sempre é a principal ambição dos produtores. Uma viagem em torno da pecuária bovina francesa

Michael, 35 anos, teve hipótese de fazer carreira em qualquer área, mas é esta a sua paixão. Herdou do pai e do avô o gosto pela criação de gado e gere com mãos de mestre a média exploração que detém em Pays de la Loire. A pequena filha de quatro anos também dá uma ajuda. Entretêm-se brincado com os animais, enquanto o pai anota no computador pessoal de bolso a quantidade de alimentos que forneceu aos bovinos. 13kg de milho, 2kg de beterraba…nada pode falhar. Todos os dias se esforça com unhas e dentes para produzir animais perfeitos. São as exigências dos compradores. Michael estabelece contratos com matadouros. O documento define as características, o peso e a data de entrega dos bovinos. Desta forma, consegue garantir um preço fixo e evita as variações cambiais do mercado. Caso desrespeite algum ponto, perde as regalias. Por isso, nada pode falhar. É esta a sua vida. A busca diária do bovino perfeito, ou mais que perfeito. Tal como todos os outros produtores da região que diariamente lutam pelos certificados de qualidade que puseram Loire no mapa das melhores carnes de bovino.

Principais Raças
Limousine
Como o próprio nome indica é originária da região de Limousine. De estrutura maciça, estes bovinos são a segunda raça mais disseminada em França, apresentam um rendimento de carne elevado e ocupam a primeira posição no ranking da exportação.

Charolesa
Autóctone das regiões de Saône e Loire, o peso destes animais é, grosso modo, de 650 a 800 kg entre os 24 e os 36 meses. Produzem carcaças pesadas de carne magra e, por isso, são muito procuradas pelos talhos, graças à ausência de gordura.

Blonde D'Aquitaine
Nasceu a partir do cruzamento das raças Garonesa, Quercy e Blonde de Pirinéus. Rapidez de crescimento, boa corpulência e exíguos depósitos de gordura, são as principais características destes bovinos. O ponto forte da criação está nos novilhos e vitelos de grande peso.

Maine-Anjou
Tratam-se de bovinos sexualmente precoces, podem parir entre os 24 e os 30 meses. De porte pesado, estes bovinos apresentam estrutura óssea sólida, musculatura bastante desenvolvida e carne vermelha escura e compacta.

Fonte: Sopexa (entidade responsável pela promoção da indústria agro-alimentar francesa em Portugal)

Quatro destinos estratégicos
As três empresas francesas com mais força no sector da carne em Portugal, Soviba, Socopa e Charal, estão apostadas em desenvolver o consumo de produtos elaborados com carne bovina no nosso País. A meta é implementar o conceito em três a quatro anos. Em França, o mercado de produtos pré-preparados refrigerados (incluindo hambúrguer) já representa 40% das vendas globais do sector.

A Charal, fornecedor da Sonae Distribuição, por exemplo, já deu os primeiros passos desta aposta no Luxemburgo e na Bélgica, embora, Portugal, Grécia, Itália e Alemanha sejam os quatro destinos estratégicos, aqueles que apresentam maior potencial para as empresas francesas.

A Bovi-Loire, associação interprofissional da carne bovina, está a promover um estudo, disponível em Setembro, nos quatro países, para perceber qual a viabilidade da oferta já disponível e quais tendências de consumo. A terceira fase decorre no ponto de venda, junto dos consumidores. Detectar reacções nos lineares e questionar os consumidores sobre as opções de compra são os objectivos.

O ambição do estudo é concluir qual a gama de produtos mais indicada para cada país.
Charolais e Limousin em destaque
O primeiro salão da fileira bovina de Pays de la Loire, primeira região francesa

na produção de carne de bovino de raças especializadas, teve lugar entre 28 e 29 de Junho em Angers, o coração do Grande Oeste, maior região de produção e abate de bovinos de França e da Europa, que está divido em quatro zonas principais: Pay de la Loire, Normandie, Bretagne e Poitou-Charentes. O Grande Oeste é responsável por 40% da pecuária bovina francesa e 60% do abate. A região tem 20 mil explorações de bovinos, onde trabalham cerca de 10 mil pessoas.

O certame constitui uma iniciativa sem paralelo em França e resulta da união de esforços de quatro entidades. A saber: Bovi-Loire, União dos Agrupamentos de Produtores de Pays de la Loire, Coop de France Ouest e Chambre Régionale d'Agriculture.

A feira contou com cerca de 50 expositores e 250 bovinos. As raças Charolais e Limousin, com presença destacada no salão, participaram em concursos regionais e inter-regionais. Os criadores exibiam com ponta de orgulho os dotes dos bovinos na zona dedicada à competição cujo objectivo era seleccionar os melhores bovinos franceses.

A evolução das práticas e técnicas na criação de gado, a identificação electrónica e os programas de melhoramento das espécies, entre outras matérias, foram tema de numerosas conferências que tiveram lugar no certame.
Charal “in loco”
A Charal abate 30 mil toneladas de animais por ano, o que lhe permite registar mil milhões de euros na facturação anual. Metade do volume de negócios da empresa resulta da venda de produtos elaborados. A título de exemplo, produz 3 mil toneladas de carne para hambúrguer por ano.

A matança dos animais e a desmancha é feita de manhã. De seguida, as carcaças seguem para a fábrica, paredes meia com o matadouro. O passo seguinte é a análise da carne. É examinada a percentagem de matéria gorda e feito o reequilíbrio da dosagem em caso de necessidade.

Como se tratam de produtos elaborados/refrigerados, a empresa não aposta em stocks elevados. A gestão das encomenda é reactiva e feita loja por loja.

A embalagem, em atmosfera controlada, permite aumentar o ciclo de vida do alimento. É feita a ingestão de gás para aumentar a validade do produto. Regra geral, 70% oxigénio e 30% de CO2.

«O oxigénio permite manter a cor original e o CO2 tem capacidade para proteger os nutrientes dos alimentos», explicou um técnico da Charal ao Hipersuper. «Antigamente, a validade ficava-se pelos quatro dias agora atinge sete. Na embalagem a vácuo aumenta para 12 dias», frisa.

Os contentores onde são colocados os produtos já embalados estão equipados com um sistema electrónico que acompanha todos os pontos de passagem na fábrica. Contém três informações: tipo de produto, lote e quantidade.
França ganha novo fôlego em Portugal
O abate de bovinos em Portugal caiu 8,6% em 2006 face ao exercício homólogo (439 vs 480 mil bovinos em 2005), de acordo com a Mission Économique. A tendência de quebra foi, no entanto, mais pronunciada nos dois primeiros meses de 2007, atingindo 19%.

No final do ano passado, o mercado encontrava-se, desta forma instável, com a procura a superar a oferta.

Apesar da diminuição de vendas, os preços registaram crescimentos significativos, situação que se verificou até Fevereiro último.

Em Março de 2007, fruto do aumento das exportações de carne estrangeira (Espanha, França, Alemanha e Polónia), os preços caíram no mercado nacional.

Assim, em Janeiro deste ano (dados disponíveis), as importações portuguesas cresceram 22% em volume e 18% em valor face a igual período do mês homólogo, registando 25 milhões de euros. França registou o maior aumento, 126% em valor e 167% em volume, consolidando a terceira posição nos fornecedores de bovinos para Portugal, com uma quota de mercado de 12%.

Espanha mantém a liderança com 54% de quota, cresceu 21%, o que representa 13,4 milhões.

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