Feiras

Paulo Rodrigues, Director da Alimentaria Lisboa 2007

Por a 18 de Maio de 2007 as 8:00

 alimentaria

 «Ser expositor na Alimentaria pode sair caro»
Nove sectores, mais de 42 mil m2, perto de 1.400 expositores, 60% dos quais internacionais, 40 mil visitantes, estes são os números esperados pela organização da Alimentaria Lisboa 2007. O director do evento, Paulo Rodrigues, revela em entrevista que «vamos ter mais empresas com menos área de exposição»

Constituindo a mais importante mostra do sector alimentar e de bebidas que se realiza em Portugal, estima-se que durante a 9.ª edição da Alimentaria Lisboa, que se realizará entre 27 e 30 de Maio, os negócios efectuados nos quatro dias rondem os 175 milhões de euros, tendo um impacto para a actividade económica de Lisboa de 7,5 milhões de euros.

Hipersuper (H.): Aproximamo-nos da 9.ª edição da Alimentaria Lisboa. Como caracterizaria a evolução deste evento ao longo dos anos?
Paulo Rodrigues (P. R.): A Alimentaria Lisboa tem tido um crescimento muito positivo desde 1999, altura em que mudámos de instalações, passando da Junqueira para a nova FIL no Parque das Nações.

Com esta mudança entraram novas empresas, criámos novos sectores e houve, também, uma readaptação ao mercado. De lembrar que a Alimentaria tinha um sector denominado “Equipa/Restauração”, hoje “Horexpo”. Ou seja, da Alimentaria e do seu crescimento, foi possível a criação de uma nova feira. Ora, se juntarmos à Alimentaria a Horexpo, o evento cresceu de tal forma que uma só feira não seria suficiente. Por isso, a realização de uma feira dedicada exclusivamente ao canal Horeca e outra ao canal Alimentar.

H: Uma feira como a Alimentaria não pode, no entanto, ser estática. Tem de apresentar novidades.
P. R.: Sem dúvida. Para o evento de 2007 temos como objectivo consolidar dois sectores lançados em 2005: Deliexpo e Vegefruta.

À Deliexpo agregámos um novo espaço que é o dos vinhos que têm andado muito afastados do principal evento de alimentação e bebidas em Portugal.

No sector das frutas e vegetais – “Vegefruta” – encontramos ainda maiores dificuldades. É um sector onde, de facto, necessitamos de algumas alavancagens, que vive de pequenas empresas que estão agrupadas, sendo a única forma que têm para desenvolver a sua actividade. Começam já a aparecer empresas muito interessantes neste sector, por exemplo, com a IV Gama, mas o problema com que nos deparamos é que essas empresa continuam a vender produtos sem qualquer marca. Ora, é muito difícil promover algo que não possui marca.

H: Encontra explicação para esse o afastamento do sector dos vinhos?
P. R.: São vários os eventos realizados no e para os vinhos, e o sector entende que deve ter um espaço próprio. Em minha opinião, deveríamos apreender com o que se faz na vizinha Espanha. Claro que os eventos como é a Vinexpo ou ProWein, que são exposições mundiais, vivem só por si.

H: Mas a organização tem feito algum esforço para trazer de volta o sector dos vinhos?
P. R.: Claro que sim, mas fazendo uma comparação com o evento de Barcelona, e sendo Portugal um dos principais produtores de vinho do mundo, pelo menos em qualidade, as empresas que têm capacidade e querem exportar, que querem desenvolver a bebida vinho em detrimento das cervejas e sumos, que querem dar a nobreza que o vinho merece, não aproveitam um evento como a Alimentaria.

Na Alimentaria Barcelona, por exemplo, só o sector dedicado aos vinhos não cabia na Alimentaria Lisboa. São 26.000 m2 de vinhos e nós temos 21.000 m2 de área de exposição total.

Também sou realista e reconheço que possamos ter cometido alguns erros relativamente ao sector dos vinhos ao ter um pavilhão “Expobebidas” onde estava tudo junto.
Todos sabemos que o vinho gosta de se sentir diferente e é diferente. Este ano, os vinhos têm espaço na Deliexpo, onde estarão os produtos com Denominação de Origem, portanto, uma área mais gourmet.

H: Em relação às novidades vai haver algum espaço específico?
P. R.: Vamos ter um espaço próprio – Zona dos Novos Produtos – muito apreciada pelos jornalistas e visitantes, já que é o local onde poderão ver o que irá aparecer de novo no mercado.

Outro espaço de grande importância é a Loja Inteligente, em parceria com a APED. Vai estar, ao contrário da edição passada, no centro do pavilhão 1 e será patrocinada pela Nestlé e Coca-Cola.

H: E também vão haver lançamentos nesta área?
P. R.: Vamos ter algumas novidades, não tantas como gostaríamos de ter, mas por parte das empresas também nos é dito que não existe capacidade para apresentar novidades em tão pouco tempo.

Enquanto nos iogurtes é fácil lançar um novo produto e já nem se espera pelas feiras para os fazer, na parte tecnológica é mais complicado, até pelos investimentos que são necessários efectuar.

Na Loja Inteligente vamos ter novidades ao nível de novas tecnologias de informação e interacção entre o comprador e o vendedor, como informações que poderemos receber nos telemóveis, nos PDA´s, ao nível das etiquetas electrónicas que poderão mudar o preço sem necessitarem de intervenção de qualquer operador, sistemas anti-quebras ou anti-furto, algumas inovações menos topo de gama, já que a Alimentaria não vive só da Grande Distribuição, mas também das pequenas lojas que não vão ter self-checkouts, mas querem possuir ou acompanhar as novas tecnologias.

H: Esta parceria com a APED é importante?
P. R.: É óbvio que é muito importante, de tal forma que temos um protocolo assinado em que o presidente da APED é simultaneamente presidente da Comissão Consultiva da Alimentaria no ano em que se realiza em Lisboa.

H: A Distribuição Moderna revê-se neste evento?
P. R.: Claro. E não só os associados da APED, como também alguns grupos que não são associados sentem necessidade de visitar a feira. No entanto, sabemos perfeitamente que todo e qualquer grupo da Grande Distribuição mantém contactos quase diários com estas empresas. Não tendo a veleidade de dizer que nós Alimentaria Lisboa trazemos à feira os compradores, mas haverá alguns, não dos grandes grupos, mas de empresas pequenas e médias, que poderão chegar a esses grupos. Também os grandes grupos ou compradores não conseguem correr Portugal todo à procura das novidades e aproveitam a Alimentaria, já que estarão aqui concentradas. E não falo somente das novidades nacionais, porque mesmo a nível internacional, se a Alemanha está representada através da Câmara de Comércio, Espanha pelo ICEX, França pela Sopexa, por alguma razão será.

H: E quanto às actividades paralelas, também haverá novidades?
P. R.: Vamos ter algumas bem interessantes, mas existem pontos que teremos ainda de acertar com o Ministério da Agricultura, com a ASAE, que passou a ser uma interlocutora muito importante neste sector e, portanto, queremos que seja a própria ASAE a dar toda a informação aos várias sectores. A GS1-Codipor vai ter uma acção muito importante ao nível da rastreabilidade.

H: A Alimentaria deixou de ser um evento de apresentação de produtos e novidades para ser uma feira para exposição dos produtos?
P. R.: Não, continua a haver lançamentos de novos produtos, desde que o timing seja o certo. O que acontece é que, por vezes, nem a própria organização tem conhecimento das novidades que vão aparecer, porque as empresas têm receio de dar essa informação. Querem guardar segredo até ao último momento.

Isso coloca, obviamente, algumas dificuldades à organização, dado que em todos os eventos temos um catálogo com os produtos que irão estar expostos na feira. Ora, se as empresas não nos dão essa informação, o produto não aparece no catálogo.

Até ao nível do próprio Gabinete de Imprensa, as empresas não sabem utilizá-lo. O que digo é: utilizem-no que os jornalistas estão lá para escrever sobre os vossos produtos.

H: Uma das novidades da Alimentaria Lisboa 2007 é o Prémio Nacional de Embalagem Alimentar e Bebidas. Qual a razão desta iniciativa?
P. R.: O sector da embalagem tem crescido muito dentro da Alimentaria e não há nada que consumamos que não esteja embalado. Pensámos que deveríamos dar algum destaque a este sector e premiar/criar um incentivo às empresas.

O prémio é atribuído às empresas que detêm o produto, ou seja, a empresa cujo produto utiliza a respectiva embalagem, mas existe também o prémio para a empresa que produz a embalagem. Irão existir várias categorias de produto, já que existem várias embalagens – vidro, plástico, cartão, se são mais ou menos recicláveis, as aberturas, etc.

H: Como é medido o sucesso ou insucesso da Alimentaria Lisboa 2007? É pelo número de expositores, visitantes ou área, novidades apresentadas?
P. R.: São vários os critérios. Primeiro, temos os nossos objectivos comerciais, depois temos os objectivos físicos, económicos, mas o grau de satisfação não é propriamente medido pelo número de visitantes. Isto porquê? Porque estamos preocupados em diminuir o número de visitantes e aumentar a qualidade desses mesmos visitantes.

Em 1999, na primeira Alimentaria realizada na FIL do Parque das Nações, tivemos cerca de mais de 65 mil visitantes e tivemos queixas por parte dos expositores que nos disseram que não existiam condições de trabalho.

Numa feira como a Alimentaria, seria fácil termos 100 mil visitantes, mas depois que condições dávamos aos expositores para desenvolverem o seu trabalho?

H: Mas tem consciência de que uma das criticas feitas à organização da Alimentaria, é a de que muitos dos visitantes, ou a maioria dos visitantes, não é profissional.
P. R.: É verdade e tem sido um dos grandes problemas, não só para nós, como para todas as feiras de alimentação.

Nós estamos a tentar criar algumas barreiras, mas não tem sido fácil. O que nós pedimos às empresas é que nos dêem uma listagem dos seus clientes e nós próprios fazemos chegar os convites.

O problema é que as empresas continuam a querer entregar os convites em mão. O que é que acontece: A empresa “X” quer convites e vai distribui-lo aos seus clientes. Mas além dos convites que recebe da empresa “X”, quantos convites vai receber? Dezenas, é da empresa “Y”, da empresa “Z”, da “Q”, “R”, “T”, enfim, cada cliente vai receber mais de 10 convites. E o que vai fazer com tantos convites? Dá ao vizinho, ao amigo, ao conhecido que vai aproveitar para vir à Alimentaria, mas que, no entanto, não é profissional.

H: Sabe, contudo, que no final a culpa é sempre…
P. R.: Da organização da feira, sem dúvida. Nós tentamos explicar a situação. A Alimentaria nunca teve aberta ao público. Sempre foi uma feira exclusivamente para profissionais. Nós, cada vez que distribuímos os convites, tentamos educar as próprias empresas expositoras.

H: Referem um aumento de expositores, de visitantes, mas o espaço continua o mesmo. A actual FIL tem espaço suficiente para a Alimentaria Lisboa no futuro?
P. R.: Penso que sim. A tendência que se está a verificar é que as empresas estão a diminuir o seu espaço de exposição, o que já permite a entrada de novas empresas. Portanto, vamos ter mais empresas com menos área de exposição.

H: Ser expositor na Alimentaria Lisboa é caro?
P. R.: Ser expositor na Alimentaria pode sair caro. O valor que temos para a Alimentaria é um valor que achamos justo para desenvolvermos um bom trabalho. O investimento que as empresas realizam na Alimentaria é colocado à disposição da própria feira, através da divulgação da mesma junto da imprensa, acções de promoção, etc..

Como é que a feira pode ficar cara? O problema não se coloca na empresa que tem por objectivo estar presente, só porque é líder de mercado, com 300 m2. O problema está quando empresas mais pequenas querem fazer o mesmo, sem ter a respectiva capacidade.

O que nós dizemos é que deverão estar sempre presentes na Alimentaria. Agora, façam as contas. O investimento não se poderá limitar ao estar presente na feira, há que investir em reuniões, estadias, promover os produtos, entre outros. Ora, isso também custa dinheiro. Há que fazer o trabalho de casa e fazer com que os clientes queiram ir ao stand.

A nossa responsabilidade é colocar os visitantes à entrada da feira. A partir daí, são os próprios expositores que terão de fazer algo para os chamar até aos seus stands.

Depois, a participação da empresa não acaba na feira, é preciso fazer um follow-up da feira. É claro que na próxima edição, fazendo as contas, a participação saiu cara, mas vejamos de quem foi a culpa.

Fazendo as contas, a compra de espaço na feira é apenas um dos passos e talvez o investimento menor que a empresa tem de fazer, representando cerca de 15 a 30%.

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