Outras Opiniões

Unilever Descongelada

Por a 29 de Setembro de 2006 as 15:47

luis ferreira

A Unilever anunciou a venda da maioria do negócio de congelados na Europa por 1.725 mil milhões de Euros à Permira Funds, empresa que se dedica a aquisições de empresas – private equity. O negócio inclui o segmento de congelados na Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Irlanda, Holanda, Reino Unido e Portugal. Neste último, está dependente da aceitação por parte da Jerónimo Martins, parceiro da joint-venture que detém a Iglo. Não está incluída na venda, o negócio de Gelados e as operações de congelados em Itália e América do Norte, vistas pela Unilever como estratégicos para o crescimento da empresa. Este é o culminar de um processo que já tinha sido anunciado em Setembro de 2005, altura que foi decidido colocar à venda esta área de negócio.

O valor que a empresa recebeu foi favorável, considerando o histórico do crescimento das vendas e evolução de margens, uma vez que consegue quase 10 vezes o EBITDA de 2005. Por seu lado, a Permira irá financiar a aquisição maioritariamente através de dívida, tendo ganho a corrida a outros interessados, nomeadamente CapVest Ltd (detém a marca Findus na Noruega, Suécia e França), a JPMorgan Partners LLC, Blackstone Capital Partner e Kerry Group, segundo algumas fontes de mercado. A lista de interessados só revela o potencial do negócio, principalmente para empresas de private equity, que viam na capacidade de geração de cash-flow uma boa oportunidade para criar valor, principalmente num cenário de consolidação de mercado. Desta forma, será de todo natural que a CapVest, depois de perder a corrida nesta operação, procure a venda do seu negócio de congelados, perfilando-se a Permira como potencial interessada. Inclusivamente, este é o cenário que permitirá potenciar o valor do negócio agora concluído, devido às sinergias que se criariam.

A operação enquadra-se na estratégia da Unilever de aproximar as suas taxas de crescimento com as dos seus principais rivais na Europa e EUA nos diferentes segmentos onde concorre. Para atingir os seus objectivos, a empresa está a direccionar o seu investimento para segmentos de mercado, onde as perspectivas de crescimento são mais aliciantes, ao mesmo tempo que desinveste em negócios que, apesar do seu forte cash-flow, não têm contribuído para o crescimento da empresa. A eficácia da decisão de venda do negócio de congelados está dependente da aplicação do capital gerado pela operação e que ainda não foi divulgado pela empresa. O objectivo passará por substituir o negócio de congelados pelo da alimentação saudável, como se depreende do enfoque que está área de negócios está a ganhar na Unilever, à semelhança do que aconteceu na Nestlé. Efectivamente, esta é uma tendência que está a mudar a forma como as marcas se tentam posicionar no sector, sendo aquele que perspectiva taxas de crescimento que se enquadram na estratégia da Unilever. O consumidor Europeu revela uma crescente preocupação com o seu bem-estar e com o seu meio envolvente, pelo que a aposta na satisfação dessas necessidades só irá trazer benefícios económicos. Esta é uma preocupação que a Unilever quer alastrar às restantes áreas de negócio, embora nestas a prioridade passe por apostar em mercados geográficos, especialmente emergentes, de forma a produzir o crescimento esperado pela empresa e seus accionistas.

A conclusão do negócio, nos moldes definidos, está dependente da aceitação da Jerónimo Martins, uma vez que a área de negócios em Portugal está organizada através de uma joint-venture entre as duas empresas. Em resultado da operação, estima-se que a Jerónimo Martins possa vir a receber 11,7 milhões de euros pela sua parte do negócio. Apesar de nada estar ainda confirmado, tudo indica que a Jerónimo Martins não será entrave à conclusão da operação. Esta conclusão deve-se principalmente a dois motivos, primeiro, o próprio valor da operação que é bastante aliciante e segundo, o facto de a parceria entre as duas empresas basear-se numa relação de confiança que se reflecte numa estratégia única para a joint-venture, inclusive noutras áreas de negócio. Deste modo, os benefícios da conclusão da operação ultrapassam claramente os prejuízos que poderiam advir de uma decisão contrária, tanto em termos de custo de oportunidade, como em termos de acréscimo de incerteza na parceria actual.

Luís Ferreira, analista da Personal Value