Editorial

Fase de aceleração

Por a 10 de Novembro de 2005 as 18:44

Os próximos tempos serão auspiciosos para o mercado retalhista, em virtude do desbloqueamento das licenças e também da autorização para exploração de novos negócios, como os OTC’s e a gasolina. Perspectiva-se um novo cenário, caracterizado por uma maior competitividade, é certo, mas também pela aceleração dos projectos de expansão num sector que mostra, apesar de tantos condicionalismos, uma dinâmica especialmente relevante. A somar aos 7,3% de crescimento em 2004, a APED estima que este ano o sector evolua «claramente acima do PIB», adivinhando-se variações ainda mais pronunciadas para 2006, dado o timing necessário para implementar os projectos agora autorizados.

Em relação aos OTC’s, é preciso ter noção clara de que não vão constituir uma alavanca para a operação dos diferentes retalhistas. A APED calcula que os seus associados possam vir a conquistar uma quota entre 15 a 20 por cento do total de negócio, ou seja, nunca mais de 50 milhões de euros. Ora, tendo em atenção que há vários grupos interessados nesta área, a fatia que caberá a cada um será provavelmente mais encarada na perspectiva de serviço do que propriamente como uma fonte de receitas decisiva. Medidas como esta, todavia, são importantes porque dão sinais de descartelização à própria sociedade, diminuindo o poder dos lobbies e gerando maior acesso ao consumidor final, um objectivo nobre numa sociedade que se pretende cada vez mais democrática.

Já em relação à instalação de postos de combustível junto das superfícies comerciais, situação que está a ser alvo de «licenciamento massivo», a Distribuição encara a possibilidade com grande «entusiasmo». Esta foi uma decisão certamente difícil porque também colide claramente com poderes instalados, mas é a única forma de efectivamente liberalizar este mercado. De facto, quando o preço da gasolina deixou de ser tablado, em nome de uma alegada maior concorrência que provavelmente traria os preços para baixo, o que aconteceu foi precisamente o inverso. Ao invés, legitimou-se uma autorização para aumento de preços, pois se os operadores quisessem já os podiam baixar. O que não podiam era ultrapassar o patamar definido.

Nesse sentido, a abertura desta actividade a novos players parece ser a única forma de efectivamente gerar pressão no preço e, em consequência, deflação. Os postos já existentes junto de superfícies comerciais, em grande parte detidos pelo grupo Os Mosqueteiros, demonstram que efectivamente a gasolina é vendida mais barata. É certo que o macrocenário tem sido difícil, com o crude a bater recordes sucessivos, mas também é verdade que os operadores nacionais aproveitaram para incrementar brutalmente os preços da gasolina. As justificações foram muitas, mas basta olhar para Espanha para se perceber que é possível praticar preços mais baixos. E não me parece que essa seja uma estratégia propriamente errada, ou caso contrário os nossos vizinhos ibéricos não teriam adquirido activos nacionais neste sector.

As autorizações para instalação de postos de combustível e para venda de medicamentos não sujeitos a receita médica, desta feita com um balizamento preventivo que faz sentido face à sensibilidade da questão, foram passos importantes, mas ainda insuficientes. Outras matérias continuam a condicionar este sector de uma forma perfeitamente incompreensível, nomeadamente a limitação horária ao funcionamento dos grandes formatos.

Não se compreende a manutenção de uma situação que, sem beneficiar seja quem for, pois o comércio de proximidade continua encerrado aos domingos, prejudica claramente a Distribuição e, mais importante, o cliente final, obrigando-o a espartilhar as suas compras em período mais reduzidos, gerando ineficiências de ponto de vista da gestão de loja, condicionando o serviço, tão importante nos dias de hoje, e criando maior incómodo àqueles a quem as políticas se dirigem.