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Virgem Extra impulsiona azeite

Por a 7 de Outubro de 2005 as 14:59

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A tendência de decréscimo ao nível da produção de azeite irá sofrer uma inversão na campanha 04/05, de acordo com as previsões da Casa do Azeite. Porém, este dado positivo não teve reflexo nas vendas do canal Alimentar, pois de acordo com a Nilesen estas desceram 4,3% no ano móvel Junho/Julho 2005. Em valor, contudo, verifica-se um a ligeira subida de 0,8 pontos, o que reflecte a crescente tendência para consumo de azeite de maior qualidade. Em consequência, as vendas atingiram 109 milhões de euros.

Os dados Nielsen revelam que o mercado de azeite, apesar de toda a animação de linear a que tem sido sujeito, concretamente com uma actividade de marketing muito mais intensa por parte das empresas a operar no sector, sofreu uma evolução negativa no ano móvel Junho/Julho 2005, após uma descida de 4,3% nos volumes comercializados. Face às dificuldades financeiras das famílias portuguesas, poder-se-ia pensar que este comportamento representaria, conjunturalmente, um processo de substituição por gorduras mais baratas. No entanto, esta conclusão não corresponde à realidade na medida em que também as outras gorduras alimentares decresceram as vendas em volume.

Nesse sentido, a única lógica para esta tendência global do mercado de gorduras alimentares é que, por um lado, há um esforço para níveis de utilização menores das gorduras, apesar da conotação de saudável da qual o azeite goza perante as restantes. Contudo, e apesar desse “estatuto” nota-se uma clara tendência para moderar a utilização culinária destes produtos. Por outro lado, e esta será certamente uma vertente muito importante para este comportamento de mercado, os acréscimos verificados noutras categorias, e nomeadamente nas refeições prontas e congeladas, fazem diminuir a utilização de produtos culinários, como é o caso das gorduras alimentares. Reside aqui, aliás, a grande explicação para a descida generalizada verificada neste último sector, pois os modernos hábitos de vida deixam menos tempo disponível para a confecção culinária, o que se reflecte precisamente no aumento de consumo de produtos de maior conveniência, de preferência já prontos a consumir.

Virgem extra em crescendo

A descida de mercado em volume é confirmada pela Sovena, empresa que comercializa a marca Oliveira da Serra, que se tem destacado particularmente na actividade de marketing desenvolvida na categoria, com resultados visíveis nos números, pois, de acordo com dados fornecidos pela empresa, Oliveira da Serra cresceu 2,3% em 2004, atingindo agora uma quota em volume de 22%. «O mercado global de azeite registou um decréscimo em volume de 4% face ao ano anterior. No entanto, a categoria de Virgens Extra continua a registar crescimentos, tendo crescido 3,7% neste período. Este decréscimo verifica-se na totalidade dos canais, excepto nos Hipermercados que registou um aumento de 3,5%, tendo os azeites Virgens Extra contribuído em cerca de 11%. A perspectiva que existe é que o mercado dos azeites Virgens Extra continue a crescer, uma vez que os consumidores são cada vez mais conhecedores da categoria e estão mais exigentes», refere Susana Fernandes.

Por parte da Fima/VG, que detém a líder de mercado Gallo, com uma participação de 30%, o consumo de azeite de maior qualidade tem sido o principal factor a impulsionar o mercado, nomeadamente do ponto de vista do valor: «O consumidor em Portugal tem vindo a revelar uma preferência crescente por azeites virgem extra. A isto estão associadas diversas razões, entre as quais uma maior exigência quanto ao sabor do azeite e uma maior preocupação com uma alimentação saudável. As vendas da Fima/VG têm alavancado esta tendência de mercado, com uma evolução do peso do segmento Extra Virgem que representava, em 1998, 25% do mix de Gallo e, em 2004, já 49% desse mix. Espera-se que o mercado continue a evoluir nesse sentido devido, por um lado, a uma maior exigência e sofisticação do consumidor e, por outro, a uma maior oferta por parte dos produtores e distribuidores», assinala Marta Lourenço.

De facto, os dados da casa do Azeite confirmam a tendência de mercado descrita pelos dois principais operadores a nível nacional. A categoria virgem extra representava 37% do consumo em 2002, passando para 43% em 2004. Este ganho de quota está directamente relacionado com a descida na categoria azeite – que passou no mesmo período de uma participação de 59 para 55 pontos do mercado – uma vez que o azeite virgem encontra-se sem grandes alterações, tendo subido apenas um ponto percentual de 2002 para 2004, concretamente passando para 5%.

Quanto aos azeites de origem biológica e com Denominação de Origem Protegida (DOP), esima-se que estes últimos possam valer entre tr~es a quatro por ceno do mercado, ou seja, cerca de 2.000 toneledas/ano. Este segmento tem espaço de manobra para crescimento, mas por enquanto permanece claramente como um nicho. Já sobre os biológicos, há muito pouca informação disponível, reconhece e Casa do Azeite, que mesmo assim, através d Marian Matos, vai adiantando que «os últimos dados disponíveis (IDRHa) referem a existência de cerca de 22.500 hectares em modo de produção biológico, em 2003. Fazendo uma contas rápidas e utilizando valores médios (1.000 kgs de azeitona por hectare, o que talvez até seja excessivo) e um rendimento médio de azeite de 17% (o que também deverá ser excessivo), dar-nos-á uma possível produção de cerca de 3.700 toneladas. Quanto desta produção é comercializada como biológica é um dado sobre o qual não existem valores concretos». Reformular propostas

Muito por causa das alterações legislativas introduzidas no sector, e com base igualmente na necessidade de trabalho de marketing já sentida pelas empresas do ramo há muitos anos, o mercado de azeite tem vindo a sofrer grandes alterações, nomeadamente na forma de apresentação dos produtos. As duas principais marcas explicam o cenário de forma pragmática, revelando igualmente qual o sentido em que tem caminhado a sua definição de oferta.

Para a Sovena, «com o crescimento que a categoria de Virgens Extra tem apresentado nos últimos anos, Oliveira da Serra considera que emerge hoje um segmento que, sendo um nicho, começa a ter alguma relevância na categoria de azeite – as Especialidades. São azeites mais seleccionados, com embalagens mais cuidadas que apelam aos consumidores». De qualquer modo, a empresa reconhece ser necessário um processo de adaptação por parte do consumidor: «A alteração legislativa na categoria de azeite é ainda hoje um tema delicado para as marcas. Mudar hábitos de compra é algo extremamente complicado e moroso, pelo que não é de estranhar que assistamos hoje, com alguma frequência, ao habitual gesto de voltar a garrafa e confirmar a acidez, na altura de decisão da compra. A incorporação de novos critérios de compra é algo que tem acontecido progressivamente estando hoje os consumidores mais sensíveis às categorias de azeite. Oliveira da Serra acredita que é trabalho das marcas, e da nossa em concreto, contribuir para este processo educativo, pelo que desde logo incluímos nas embalagens pictogramas indicativos do tipo de utilização, entre outras variáveis de segmentação».

Já por parte da Fima/VG, a opinião de Marta Lourenço sintetiza que «o principal acontecimento de 2004, resultado de mudança de legislação em Novembro de 2003, foi o desaparecimento do grau de acidez dos rótulos da embalagem, passando para o contra-rótulo juntamente com outros factores de avaliação da qualidade do azeite. Isto levou a alguma confusão por parte dos consumidores pelo que a principal actividade de Gallo de 2004 foi a de educar o consumidor na escolha do melhor azeite para cada utilização (Cozinhar e Temperar), tendo revisto as suas embalagens com este propósito»

Galheteiros proibidos

Outra alteração decisiva no sector, e que entrará em vigor já em Janeiro, é o facto de os galheteiros passarem a ser proibidos na restauração. Esta situação obriga, naturalmente, a uma reformulação dos processos de apresentação do azeite junto do consumidor, levando os embaladores a apresentarem alternativas que garantam os propósitos do novo enquadramento legal. Vejamos qual a opinião e resposta operacional das duas principais empresas nacionais.

Para a Gallo, «esta medida protege o valor da categoria, mas fundamentalmente protege o consumidor, garantindo a higiene, a qualidade e segurança alimentar do azeite consumido fora de casa. Esta legislação obrigou todas as marcas fabricantes de azeite a comercializar os produtos vendidos à hotelaria e restauração protegidos por cápsulas invioláveis, capazes de impedir o re-enchimento das garrafas com outros azeites de má qualidade».

Já por parte de Sovena, Susana Fernandes refere que «a forma como Oliveira da Serra encarou esta mudança de legislação foi assumir a responsabilidade de criar produtos que permitissem à restauração cumprir este legislação. Assim, de uma forma proactiva, uma vez que a legislação só entra em vigor a 1 de Janeiro de 2006, desde o início deste ano de 2005 que Oliveira da Serra disponibiliza diversas soluções para a restauração. Este novo portfólio envolveu investimentos na procura, desenvolvimento e implementação de cápsulas invioláveis para azeite e vinagre, de doses individuais em diversos formatos, sempre com uma preocupação clara de ter produtos com uma boa relação qualidade-preço».

Produção a crescer

Do ponto de vista produtivo, a Casa do Azeite estima que a campanha 04/05 possa vir a representar um total de 46 mil toneladas, bem acima da média dos últimos cinco anos, que se situa nas 33 mil. Este dado, mesmo assim, não invalida que Portugal continue a ter que recorrer a importação, como explica Mariana Matos: «Tanto quanto sabemos, não se importa azeitona, a não ser, talvez, nalgumas zonas de fronteira, mas creio que com muitíssimo pouca expressão. O que importamos, sim, é azeite, principalmente de Espanha. Relativamente à percentagem de azeite nacional que é realmente comercializada é um dado difícil de apurar, uma vez que nem todo o azeite produzido em Portugal é directamente comercializável (uma boa parte ainda é azeite lampante, que tem que ser refinado). Mas podemos dizer que a nossa capacidade de autoaprovisionamento será da ordem dos 50% face a necessidades de consumo interno à volta das 60.000 toneladas».

Refira-se que os níveis produtivos em Portugal já ultrapassaram as 100 mil toneladas, estando agora bastante abaixo desse valor. Inversamente, os outros produtores estão a aumentar os volumes, particularmente no caso espanhol, onde a média dos últimos cinco anos ultrapassa o milhão de toneladas, e com tendência claramente crescente, apesar de se perspectivar uma diminuição pontual no ano em curso.

Esta opção estratégica espanhola faz todo o sentido se verificarmos que, para além dos produtores, emergem agora novos mercados consumidores, como os EUA ou o Japão, por exemplo. O potencial reconhecido é enorme, especialmente face às fracas capitações ainda existentes. Para se ter uma ideia, basta verificar o caso americano: o país é já o quarto maior consumidor em volume, mas no que diz respeito à capitação encontra-se bem mais abaixo no ranking, à volta de um quilo por habitante/ano, quando Portugal fica nos seis quilos e há países com médias muito maiores, como a Grécia (25), Espanha (15) Itália 14) ou Chipre (9), sendo que estes são também os principais produtores, onde existe claramente uma outra cultura gastronómica em relação ao azeite.

Inovação

As duas principais empresas a operar neste mercado, no qual as marcas próprias desempenham igualmente um papel importante ao atingirem uma quota em volume de 22,7%, têm-se destacado pela forma como conseguiram inovar neste mercado, em virtude da necessidade de alterar toda uma lógica à qual o consumidor estava absolutamente condicionado, nomeadamente o grau de acidez do azeite. Nesse sentido, houve um esforço para a criação de novas categorias, com base, por exemplo, na utilização da gordura, e também para o desenvolvimento de novas propostas. A Inovação, depois de anos a fio de estagnação, tem finalmente marcado o sector. «Oliveira da Serra acaba de lançar Oliveira da Serra Sabores, a nova gama de azeites virgem extra, indicados para consumidores modernos que gostam de inovar e apreciar novos sabores. Compreendendo o significado da evolução do azeite na cozinha e a apetência dos consumidores por novas experiências e pelos prazeres do dia-a-dia, este é o mais recente desafio lançado pela marca, ao aliar o azeite a sabores distintos como a Manga, o Limão, a Canela ou as Azeitonas Pretas». Quanto a Gallo, «no mercado dos azeites ainda há um longo caminho a percorrer na valorização e disseminação pelo retalho organizado dos azeites DOP, azeites de grande qualidade e que garantem diferentes sabores e texturas de acordo com a região de onde são originários. O caminho da inovação em azeite passa pelo desenvolvimento do segmento de maior qualidade e valor, oAzeite Virgem Extra. Exemplo de Inovação Gallo nesta área é o lançamento de Gallo Primeiro Azeite. Extraído a frio, tem baixíssima acidez (0,2%) e sabor suave e delicado».