Nuno Breda: “O mercado valoriza cada vez mais a integração”
Com um crescimento de 27% em 2024, a Ifthenpay reforça a aposta na inovação, proximidade com o cliente e internacionalização. Nuno Breda, cofundador da fintech, revela ao Hipersuper como a empresa está a escalar sem perder o foco na personalização e na segurança dos pagamentos.

Ana Rita Almeida
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Com uma trajetória de crescimento assente na inovação, segurança e proximidade, a Ifthenpay fechou 2024 com um volume de negócios de 7,1 milhões de euros, um aumento de 27% face ao ano anterior. Em entrevista ao Hipersuper, Nuno Breda, cofundador da fintech portuguesa especializada em pagamentos digitais, fala sobre os pilares deste desempenho, a ambição internacional do grupo e os desafios que se colocam à literacia financeira num setor em transformação. Entre novos métodos de pagamento, soluções omnicanal e uma aposta firme na escalabilidade com serviço personalizado, a Ifthenpay quer continuar a liderar com tecnologia e com pessoas.
Os números de 2024 refletem um crescimento histórico de 27% para 7,1 milhões de euros. Quais foram os principais fatores que contribuíram para este desempenho?
Este é um resultado de um trabalho conjunto e consolidado ao longo dos anos. Não existe uma fórmula mágica para alcançar este tipo de crescimento: trata-se antes de um somatório de ações desenvolvidas e consolidadas ao longo do tempo, que agora começam a dar frutos.
Destacaria, como principal fator, aquele que talvez melhor representa a nossa identidade enquanto empresa: o foco no cliente, sobretudo ao nível do suporte. Investimos continuadamente no reforço da nossa equipa de helpdesk, acompanhando o aumento do número de clientes, e esse esforço tem reflexo direto na qualidade do serviço prestado.
Naturalmente, a inovação é também um eixo fundamental. Procuramos sempre dar as melhores respostas às necessidades dos nossos clientes, o que implica estar atentos, próximos e disponíveis. Essa proximidade permite-nos conhecer melhor os desafios de quem nos procura e ajustar, de forma mais eficaz, as soluções que oferecemos.
Por fim, há também um compromisso claro com a segurança, absolutamente essencial no setor dos pagamentos. O foco no cliente, a aposta na inovação e a atenção contínua à segurança são, de forma resumida, os pilares do nosso crescimento.
Quais são, na sua perspetiva, as tendências que vão moldar o setor dos pagamentos em 2025? Falou de proximidade, será uma dessas tendências-chave?
Há uma tendência clara para a otimização de processos e redução de custos, com a crescente introdução de soluções baseadas em inteligência artificial, que têm demonstrado desempenhos impressionantes. Nós próprios temos vindo a adotar este tipo de soluções. Ainda assim, continuamos a acreditar no valor do contacto humano, que consideramos insubstituível em muitas situações.
Grande parte do nosso sucesso assenta na base instalada de clientes. O crescimento, como é lógico, é essencial para garantir a sustentabilidade futura, mas nunca descuramos os clientes que estão connosco há mais tempo: são, para nós, tão importantes quanto os novos.
A tendência para soluções omnicanal é também muito relevante. O mercado valoriza cada vez mais a integração, e nós temos acompanhado essa evolução. A nossa Super App, por exemplo, permite centralizar num único ecossistema a gestão de pagamentos presenciais, online e outros canais. Evita-se, assim, a fragmentação de plataformas e oferece-se ao cliente uma solução verdadeiramente integrada e cómoda.
A Super App teve um crescimento notório de adesões ao longo de 2024. Recordo-me de revelarem que em apenas duas semanas tiveram 300 novos clientes aderentes. Quais têm sido as principais funcionalidades desde o seu lançamento? Já introduziram melhorias desde então?
Desde o seu lançamento, a nossa aplicação tem mantido uma excelente performance, tanto em iOS como em Android. Um dos princípios que seguimos desde o início foi o da simplicidade: procuramos não complicar, mesmo quando introduzimos novas funcionalidades.
Sempre que recebemos sugestões que fazem sentido, incorporamo-las. Recentemente, introduzimos um conjunto de ferramentas inovadoras, nomeadamente a inclusão de pagamentos presenciais e a integração com software de back-office, o que teve um impacto particularmente significativo.
Hoje, os nossos clientes conseguem centralizar toda a informação de pagamentos, independentemente da origem: loja online, referência Multibanco, link de pagamento, e gerar faturas automaticamente a partir dessa informação.
Essa integração de faturação automática nas lojas online dos clientes é então uma resposta direta às suas necessidades?
Sem dúvida. Foi uma necessidade identificada com base na proximidade que mantemos com os nossos clientes. O nosso objetivo é que sejam mais produtivos e competitivos, e é muito gratificante ver que as nossas soluções são bem recebidas e rapidamente adotadas.
É comum no mercado lançar soluções que acabam por não ter utilidade prática. No nosso caso, verificamos que os clientes utilizam de imediato as funcionalidades que introduzimos. O exemplo das plataformas de faturação é revelador disso.
Outro caso é o TPA. Apesar de já existir há algum tempo, este ano consideramos que foi uma das grandes novidades que integrámos na Super App, e o feedback tem sido extremamente positivo.
A diversidade de métodos de pagamento, como o Pix ou o Bizum, é cada vez mais crítica?
Sim, e é também uma área onde sentimos particular orgulho. Com o volume de transações que processamos e a nossa base de clientes, acreditamos que damos um contributo relevante para a economia nacional.
A introdução de novos métodos de pagamento abre novas possibilidades aos nossos clientes, nomeadamente a capacidade de atuarem noutros mercados. Muitos deles nem sequer tinham essa ambição inicialmente. Mas, ao tornarem-se nossos clientes e ao terem acesso a métodos internacionais, como o cartão de crédito ou outras soluções, passam a ter essa capacidade de exportar, de chegar a mais consumidores. Esse é um dos nossos principais focos: ajudar os nossos clientes a expandirem-se.
Essa diversidade de métodos de pagamento acaba por abrir novos mercados, de forma quase ilimitada?
Sem dúvida. Costumo dizer que o céu é o limite, e muitas vezes trata-se apenas de uma questão de mindset. Sempre que tenho oportunidade, partilho essa mensagem com os nossos clientes: “A partir do momento em que são clientes da Ifthenpay, Portugal deixa de ser o limite. O horizonte torna-se muito maior.”
Dou-lhe um exemplo prático: se fabrico cadeiras, tanto posso entregá-las no Algarve como em Espanha, desde que disponha de um método de pagamento internacional que seja rápido e fluído. A transferência bancária continua a ser amplamente utilizada, mas não oferece a agilidade, a integração e o nível de automatização que os métodos digitais de pagamento proporcionam.
Com soluções digitais, é possível integrar o pagamento em tempo real na faturação, associá-lo aos sistemas ERP, e automatizar completamente o processo. Isto faz toda a diferença entre o modelo tradicional, manual, e um sistema moderno e escalável.
Na Ifthenpay, procuramos estar presentes em todos os segmentos do mercado. Desde o pequeno negócio sem loja online ou software de faturação, até às empresas mais avançadas. Temos, por exemplo, formulários que desenvolvemos gratuitamente para clientes que pretendem vender um número reduzido de produtos. Esses formulários podem ser partilhados nas redes sociais – Facebook, WhatsApp, Instagram – permitindo-lhes entrar de imediato no canal online.
Para quem procura uma solução mais robusta, disponibilizamos TPAs com software de faturação integrado, que não requerem sequer um computador. E, para quem pretende exportar, basta aderir a métodos internacionais como o cartão de crédito ou o Pix, e a operação torna-se possível. A nossa proposta é, por isso, abrangente e adaptável, independentemente da dimensão do cliente.
Falando de internacionalização, esta é uma das vossas grandes apostas. Que desafios têm enfrentado e que oportunidades têm identificado? Há mais potencial lá fora do que no mercado nacional?
Sempre que entramos num novo mercado, os desafios são inevitáveis: questões linguísticas, legais, culturais e de articulação de processos. Contudo, o facto de agora fazermos parte de um grupo internacional facilita bastante esse caminho.
Estamos a trabalhar com as várias empresas do grupo, presentes um pouco por todo o mundo, para replicar o modelo de sucesso que desenvolvemos em Portugal. O mercado português é limitado em dimensão, pelo que este passo é natural e necessário. Embora estejamos ainda numa fase inicial, já começamos a sentir tração e a perspetivar um crescimento muito interessante para os próximos anos.
A experiência mostra-nos que, uma vez implementado com sucesso o primeiro modelo noutro país, o processo de expansão para outras geografias torna-se mais ágil. Um exemplo prático é o de um contrato redigido em croata: exige um processo completo de validações legais e linguísticas. No entanto, como o grupo já tem empresas nesses mercados, com equipas e departamentos jurídicos locais, conseguimos ultrapassar esses obstáculos com relativa fluidez.
Assim, conseguimos focar-nos naquilo que realmente importa: oportunidades de crescimento e a criação de soluções adaptadas a mercados maiores.
Numa era em que a conveniência é essencial, como garantem a segurança dos pagamentos, quer para as empresas, quer para os consumidores? É uma das vossas áreas prioritárias?
Sem dúvida. A segurança é, desde o início, uma das nossas prioridades absolutas. Quem opera neste setor sabe que não pode, em momento algum, descurar esta dimensão.
Atualmente, estamos a implementar as diretivas do Digital Operational Resilience Act (DORA), que define um conjunto de boas práticas e impõe um regime muito rigoroso de medidas para garantir a segurança nas transações. Este regulamento afeta não só a nossa atividade diretamente, mas também a dos nossos fornecedores, exigindo conformidade em toda a cadeia.
Neste momento, estamos numa fase em que existe quase uma pressão mútua entre todos os intervenientes no ecossistema para garantir essa conformidade, e isso é muito positivo. Nota-se que as fintechs em Portugal estão bastante sensibilizadas para este tema, o que tem contribuído para a inexistência de incidentes de relevo na área.
No nosso caso, trabalhamos com empresas especializadas que nos auditam e acompanham para assegurar que operamos sempre com os mais altos padrões de segurança. É um trabalho contínuo, que exige constante atualização, porque todos os dias surgem novos desafios.
A facilidade de uso é uma tendência crescente, e também aqui a segurança é crítica. Eu próprio utilizo cada vez mais o telemóvel para pagar, em detrimento do cartão físico. Aproveito para alertar para uma realidade ainda comum: o cartão tradicional pode ser facilmente clonado em situações banais, como num restaurante. Quantos de nós já ouvimos a frase “esta máquina não está a funcionar”? E, muitas vezes, é nesse momento que o cartão pode ser comprometido.
Quando tomei consciência dessa vulnerabilidade, passei a utilizar wallets digitais, como o Google Pay, por uma questão de segurança. É um meio mais controlado, mais protegido.
Temos consciência de que nem todas as soluções no mercado garantem esta segurança adicional, e algumas continuam a ser comercializadas sem funcionalidades como o contactless por uma questão de preço. No entanto, acreditamos que a adoção de tecnologias como o NFC, que já está presente nas nossas soluções, é essencial.
O futuro passará, inevitavelmente, pela biometria, pagamentos com impressão digital ou reconhecimento da íris, e pela total desmaterialização dos métodos de pagamento. Tudo o que simplifique, otimize e aumente a confiança será rapidamente adotado pelos consumidores.
Do ponto de vista de quem trabalha diariamente neste setor, considera que a literacia digital e financeira, nomeadamente ao nível da segurança, ainda precisa de ser reforçada em Portugal?
Acredito profundamente no potencial do nosso país. Sou naturalmente otimista e, comparando com outros países europeus, não considero que estejamos atrasados. Pelo contrário, temos feito um percurso muito sólido. A adoção de soluções digitais como o contactless tem sido crescente, e há uma evidente evolução na utilização de meios de pagamento digitais.
Dito isto, há sempre espaço para melhorar a literacia, sobretudo em áreas como a financeira e a segurança digital. Isso é ainda mais relevante se tivermos em conta que a nossa população tem uma média etária relativamente elevada, o que pode representar alguns constrangimentos à adoção de novas tecnologias.
Quanto mais informadas estiverem as pessoas, melhor. Veja-se o exemplo do MB Way, que tem registado um crescimento significativo. Apesar da forte preferência dos portugueses pelo multibanco, um método altamente seguro, há cada vez mais confiança nos novos meios. Contudo, quando o MB Way surgiu, verificámos vários problemas relacionados com desconhecimento: partilha de números de telefone, códigos de autenticação… situações que podiam ser evitadas com maior literacia.
É por isso essencial que todos os intervenientes neste ecossistema, desde os órgãos de comunicação social às próprias fintechs, assumam um papel ativo na sensibilização. Devemos explicar como funcionam estes métodos e alertar para os riscos. Sempre que surge uma nova solução, é natural que existam tentativas de exploração de falhas por parte de terceiros mal-intencionados. E a melhor forma de defesa é o conhecimento.
A Ifthenpay ultrapassou recentemente as 30 mil entidades aderentes, com previsão de atingir as 31 mil em 2025. Como se garante a escalabilidade do serviço, mantendo o foco na personalização e a elevada taxa de satisfação dos clientes? Estão a reforçar equipas?
Sim, sem dúvida. Estamos a contratar e a reforçar a nossa equipa de helpdesk. Com a introdução da Super App, assistimos a um crescimento significativo no número de clientes, o que exige uma resposta à altura. E, como sempre, essa capacidade de resposta está no nosso ADN.
Aliás, posso dizer que temos novas pessoas a integrar a equipa já na próxima semana. Recentemente fizemos mais uma contratação com esse objetivo: garantir que o nível de serviço se mantém elevado.
Sabemos que hoje em dia é frequente encontrar soluções em que o cliente tem dificuldade em falar com alguém. Há menus automatizados, chatbots, e só após vários minutos, se tiver sorte, é que consegue ajuda. Connosco, sempre fizemos questão de ser diferentes. Essa proximidade faz parte da nossa identidade.
Temos uma base instalada muito fiel, com uma taxa de retenção extraordinariamente elevada. E o mais interessante é que muitos dos clientes que experimentam outras soluções acabam por regressar. Isso, para nós, é especialmente gratificante, porque significa que reconhecem o valor do nosso serviço.
Há quem diga: “só se valoriza o que se tinha depois de se experimentar outra coisa” e temos clientes que nos dizem precisamente isso. “Um serviço como o vosso não encontramos em mais lado nenhum.”. Por isso, o crescimento não nos assusta. O que fazemos é ajustar continuamente os nossos recursos à procura, garantindo que nunca comprometemos a satisfação dos nossos clientes.
Podemos esperar novidades em 2025? Vão apostar em novas soluções?
Sim. A inovação faz parte do nosso compromisso diário. Estamos sempre à procura de desenvolver novas funcionalidades e métodos de pagamento. Para 2025, temos várias novidades previstas e uma delas será a integração do Bizum, uma solução que estamos atualmente a desenvolver.
Outro dos nossos focos será o reforço da rede de parceiros. Trabalhamos tanto com clientes diretos como com parceiros que desenvolvem soluções e integram os nossos serviços. Muitas vezes são estes parceiros que, por conhecerem bem as nossas capacidades, nos recomendam e ajudam os seus próprios clientes a adotar as nossas soluções. É uma relação que vamos continuar a cultivar e expandir.
Estamos também a explorar novos métodos de pagamento que nos possam abrir portas em mercados externos. A integração num grupo internacional permitiu-nos conhecer melhor os métodos locais utilizados noutros países. Tal como o multibanco é uma solução específica de Portugal, há métodos extremamente populares noutros mercados, e sempre que conseguimos reunir as condições necessárias, procuramos integrá-los na nossa gateway.
O mesmo acontece no sentido inverso: há fintechs europeias que nos procuram para integrar os nossos métodos de pagamento, de modo a permitir aos seus clientes entrarem no mercado português.
Estamos, assim, a construir um ecossistema com grande tração, altamente dinâmico, que permite aos nossos clientes ter acesso a uma vasta gama de soluções. E isso é decisivo para que possam expandir-se para outras geografias e responder aos desafios dos mercados em crescimento.