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Sazonalidade: A palavra que arrepia logísticos

Por a 13 de Julho de 2023 as 9:38
Sara Monte e Freitas, partner Monte e Freitas | Expense Reduction Analysts

Sara Monte e Freitas, partner Monte e Freitas | Expense Reduction Analysts

Sara Monte e Freitas, Monte e Freitas | Expense Reduction Analysts

Revisão feita ao carro e compras em casa, é, finalmente, tempo ‘carregar’! A não esquecer: malas com roupa para duas semanas (de praia e uma malhinha, que as noites podem ficar frescas), calçado, cobertores, atoalhados, a ventoinha (que o calor em casa não se aguenta), geleira, umas garrafas de vinho e outras de sumos e águas, carvão para o peixinho grelhado, saco de batata e cebola, secador de cabelo, todos os produtos de higiene pessoal, detergentes, mochilas, toalhas de banho, o guarda-sol e umas cadeirinhas, livros, jogos, revistas, raquetes, boias e bola, medicamentos pessoais, kit de primeiros socorros, snacks doces e salgados aos montes e, obviamente, um mapa dobrável atualizado e um guia de viagem. Uff…

E, assim, estávamos prontos para nos fazermos à estrada, logo pela fresquinha, por umas breves quatro horas, nacional abaixo e de janelas abertas, em direção ao Algarve, enquanto ouvíamos cassetes gravadas e gingávamos o corpo no espaço (in)disponível. Era assim nos anos 80 e 90. A logística e o transporte estavam assegurados. Por lá, pouco mais se comprava que umas alfaces e uns gelados.

Como as coisas mudaram! O Algarve, esse, continua a ser o destino de eleição para veraneio, só que, agora, está mais perto que nunca e o espaço no carro cresceu. Quase tudo o que, milagrosamente, se fazia caber no carro, compra-se no destino.

Já percebeu que estas linhas, já longas, para além de retratarem o vivido por muitos de nós (os mais velhos), servem para introduzir o tema do impacto de sazonalidade nos processos logísticos e de transportes em destinos costeiros mais populares.

É mesmo um teste de fogo à experiência acumulada, ao planeamento e a todos os algoritmos já criados pelo retalho e grande distribuição.

Neste período, ocorrem alterações muito significativas nos fluxos logísticos, havendo casos em que se passa de uma média de um para cinco carros de abastecimento por dia, em regiões que não possuem infraestruturas adequadas para lidar com esta sazonalidade, resultando em desafios logísticos inimagináveis.

Um dos principais é a falta de infraestruturas necessárias, especialmente armazéns limitados ou não preparados para lidar com o aumento do volume de produtos durante esta época do ano. Isso afeta não apenas a logística alimentar, mas também abrange todas as categorias de produtos, incluindo eletrónica, artigos de bazar, de jardim e de exterior ou grandes eletrodomésticos.

O abastecimento de armazéns, antes do início do verão, e a expedição ao longo da estação para as lojas, são desafios adicionais. A procura varia, não apenas no decorrer do verão, mas também de acordo com as temperaturas, caso das bebidas.

Os eventos sazonais, como competições desportivas, festivais de música ou gastronómicos, que atraem multidões e impulsionam a procura por uma ampla gama de produtos, representam desafios adicionais. Se, a isso, juntarmos o fluxo de turistas estrangeiros, que possuem hábitos de consumo diferentes, aumenta ainda mais a complexidade dos planeamentos logísticos.

Perante os desafios da sazonalidade, é essencial que as empresas de distribuição, retalho, planeamento, logística e transportes adotem estratégias adequadas para garantir o abastecimento eficiente de produtos e evitar o indesejável: a rutura de stocks. Sem receitas milagrosas, deixo algumas regras basilares a ter em conta:

Planear e antecipar. A logística sazonal de verão ocorre todos os anos (como diria Jacques II de Chabanes, conhecido por Jacques de La Palice!). É, portanto, fundamental analisar o que funcionou ou não no ano anterior e utilizar esse conhecimento acumulado para um planeamento mais eficaz.

Alargar horários de entrega e trabalhar aos fins-de-semana. Aumentar a flexibilidade dos horários de entrega, em armazém, lojas e no cliente final, pode evitar congestionamentos, permitir uma distribuição fluida e ganhar elasticidade logística.

Alocar mais recursos. Durante a época alta é fundamental adequar os recursos humanos e veículos, para gerir a procura mais intensa e garantir que os prazos de entrega sejam cumpridos, assegurando a satisfação do cliente.

Horários de entrega diferenciados. Estabelecer horários de entrega distintos para diferentes categorias de produtos, ou para áreas específicas, pode otimizar a eficiência da logística e evitar a sobrecarga de determinadas rotas ou locais.

Acautelar stock em armazéns adicionais. Considerar a utilização de armazéns alternativos, desde que asseguradas as condições ideais adequadas a cada tipo de produto, para garantir o abastecimento contínuo, mesmo durante os períodos de maior procura é uma solução de backup fundamental.

Fornecedores alternativos, em regime de outsourcing. A possibilidade de trabalhar com fornecedores externos deve ser considerada, por forma a lidar com o aumento temporário da procura e assim garantir a disponibilidade contínua de produtos em loja.

 

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