Preços de marca própria de retalhistas tradicionais aproximam-se dos discounters
A diferença de preços entre as marcas próprias das cadeias de distribuição tradicionais e das dos discounters estreitou-se nos últimos anos a nível global. Ao mesmo tempo, os preços dos […]

Filipe Pacheco
The Good Store é a primeira loja da Nestlé aberta ao público em Portugal
Água: Marcas investem em circularidade e inovação
Douro Wine City celebra o vinho e a tradição durante quatro dias no Peso da Régua
Retail Mind reforça presença no setor do lazer
Quinta da Vacaria propõe dois vinhos monocasta irreverentes para o verão
Still promove Open Day com foco em automação acessível e segurança na intralogística
Logifrio reforça aposta em energia renovável com novos projetos fotovoltaicos
QSP SUMMIT 2025 reúne líderes globais para debater os novos motores estratégicos
FIPA vai debater os desafios da indústria alimentar e das bebidas
Queijo Serra da Estrela é candidato a Património Cultural e Imaterial da Humanidade
A diferença de preços entre as marcas próprias das cadeias de distribuição tradicionais e das dos discounters estreitou-se nos últimos anos a nível global. Ao mesmo tempo, os preços dos produtos de marca própria estão ainda mais baratos relativamente às marcas de fabricante (ver gráficos). Estas são duas das conclusões de um estudo realizado pela IPLC, que estabelece uma comparação dos preços praticados em 16 insígnias de distribuição em 8 países, em 2016 e em 2021, sendo o Lidl tomado como referência entre os discounters. O estreitar do preço entre retalhistas tradicionais e os discounters pode sugerir que os primeiros sentiram necessidade de dar uma resposta ao crescimento de quota de mercado dos segundos. Mas este pode ser apenas um dos motivos. “Uma das razões foi obviamente o crescimento dos discounters”, diz Robertus Lombert, partner na IPLC para Portugal, em declarações ao Hipersuper.
Ocorreu, por outro lado, uma mudança da estrutura das marcas próprias, o que também explica a evolução. “Na estrutura de good (budget) – better – best (premium), o budget muitas vezes foi abandonado ou reduzido, uma vez que baixa as margens e não é favorável à imagem do retalhista vender produtos com uma qualidade mais baixa. Para continuarem a ser competitivos tiveram de baixar os preços dos produtos de marca própria “better”, evitando um diferencial demasiado grande face os discounters”, acrescenta.
Mas há um terceiro ponto que ajuda a compreender o peso que as marcas próprias estão a ter nas cadeias nas cadeias de distribuição. “As marcas próprias são cada vez mais cruciais para o posicionamento de cada uma das cadeias. Vemos que, nos últimos anos, existe cada vez mais uma junção entre a imagem da marca própria e a imagem da insígnia que a vende. Logo, para ter uma imagem competitiva, é importante ter preços competitivos na marca própria”, explica Robertus Lombert.
Esta tendência, segundo o responsável, poderá continuar nos próximos anos, estando a ser traçado um caminho em que a concorrência entre as cadeias de distribuição no que diz respeito às marcas próprias irá aumentar. “Nem que seja pelo crescente foco na marca própria”, diz Robertus Lombert. Pontos como a diferenciação, a inovação e a sustentabilidade vão ser tão ou mais importantes quanto o preço. “Vemos claramente uma standarização de muitos produtos de marca própria ao longo dos anos em que o preço, a qualidades e o conteúdo de muitos produtos de marca própria se foram aproximando uns aos outros”, explica.
Esta tendência de redução dos preços dos retalhistas tradicionais não afetará, no entanto, o desempenho nas vendas dos discounters, acredita. “O posicionamento dos discounters não se baseia apenas nos preços da marca própria. Em geral também têm uma boa qualidade devido às grandes quantidades de cada um dos itens, resultado de um sortido limitado. Um ponto chave é a baixa percentagem de marcas no sortido. Isto implica que os cestos de compras dos discounters têm uma percentagem substancialmente mais alta de marcas próprias. Logo a partir daí são substancialmente mais baratas do que os cestos da concorrência que contêm mais marcas”, explica o partner na IPLC.
INOVAÇÃO DA MARCA PRÓPRIA COMPLICA VIDA A FABRICANTES
Outra realidade realçada no estudo diz respeito ao preço das marcas próprias estar mais barato em relação ao das marcas de fabricante, sendo estas reconhecidas pela inovação e diferenciação. A questão é que as marcas próprias, no entendimento de Robertus Lombert, também entraram na batalha pela inovação nos últimos anos. “Cada vez mais as marcas próprias trazem inovação ao mercado, tendência que vai aumentar, tendo em conta a necessidade de diferenciação por parte das retalhistas”, explica. “Podemos atribuir às marcas características como confiança, exclusividade, inovação, publicidade e reconhecimento por parte do cliente. Se relacionarmos estas palavras tendo em mente as marcas próprias, verificamos que estas cada vez mais se tornaram marcas”, acrescenta. Todos estes fatores serão, no futuro, desafiantes para as marcas de fabricante, pois a quota das marcas próprias poderá ter tendência para vir a aumentar. “Verificamos que as marcas próprias têm aumentando quota ao longo do tempo, tendência esta que irá continuar. Ainda há bastante espaço para crescer. Há países em que a quota do mercado das marcas próprias é muito mais alta do que em Portugal”, assegura o responsável.
RETALHISTAS TRADICIONAIS E DISCOUNTERS SEGUEM O MESMO CAMINHO
Os produtos de primeiro preço, dominantes no passado, têm vindo a diminuir. E tanto retalhistas tradicionais como discounters procuram agora lançar produtos diferenciados. “Há uma clara aposta nos produtos de valor acrescentado, tais como produtos biológicos, sem glúten, gourmet e de conveniência. Já há alguns anos que os discounters têm seguindo o mesmo caminho e, em muitos casos, até abriram o caminho”, diz Robertus Lombert.
Os discounters, de resto, continuam tão bem posicionados como as cadeias de distribuição tradicionais, por terem apostado, nos últimos anos, na imagem. “A grande mudança da estratégica foi feita há uns anos, quando começou a supermarketization, em que os discounters investiram muito dinheiro nas suas lojas percebendo que a imagem da tinha uma influência direta na perceção da qualidade bem como da credibilidade da marca própria. Todo este processo foi acompanhado numa aposta de qualidade e sustentabilidade, processo que continua até hoje”, acrescenta.
O estudo indica, por outro lado, que as marcas de fabricante deixaram de servir de benchmark para o preço dos produtos de marca própria. Quem assumiu esse papel foram os discounters. “Quando surgiu a marca própria, o seu concorrente era a marca de fabricante. Com a crescente quota de mercado e com cada vez mais players a ter marcas próprias era só uma questão de tempo até as marcas próprias terem um pricing mais desligado das marcas de fabricante”, explica Robertus Lombert. “O facto de discounters continuarem a ser o benchmark tem a ver com vários fatores, nomeadamente o fato de, em muitas casos, as marcas próprias dos discounters serem aquelas que vendem mais unidades. Em geral têm uma boa qualidade, têm o preço mais barato, ou pelo menos alinhado com o mercado, e estão muito avançados na gestão da marca própria. Todos estes elementos são característicos de um benchmark”, conclui.
Artigo publicado originalmente na edição 391 do Hipersuper