Data Center Destaque Destaque Homepage Homepage Newsletter

A bitcoin já ultrapassou valor do ouro. E agora?

Por a 31 de Março de 2017 as 12:01
José Figueiredo, diretor-geral ComparaJá.pt

José Figueiredo, diretor-geral ComparaJá.pt

A 2 de março de 2017, a moeda virtual ultrapassou pela primeira vez o valor do ouro. Uma única unidade passou a valer 1268 dólares, na moeda norte-americana (1180 euros), enquanto uma onça de ouro valia à data 1233 dólares (1148 euros).

Apesar de ser volátil, uma vez que é calculado consoante a relação entre procura e oferta, o valor da bitcoin está em constante crescimento. Ao longo do último ano, a moeda virtual valorizou 125%, registando um melhor desempenho que as moedas emitidas por bancos centrais. Especialistas relacionam este facto com a instabilidade política vivida a nível global, retratada por exemplo na saída do Reino Unido da União Europeia ou na eleição de Donald Trump nos EUA, que fez aumentar a confiança dos investidores na bitcoin, uma vez que não é diretamente afetada por circunstâncias sociais e políticas adversas.

Para explorar as potencialidades desta moeda no mercado, o HIPERSUPER entrevistou José Figueiredo, diretor-geral da plataforma gratuita de comparação financeira ComparaJá.pt.

Depois de um ano de forte valorização e com o crescimento do comércio eletrónico, como prevê que evoluam as bitcoins nos próximos anos?

Em primeiro lugar, é necessário compreender como funcionam e o que são as bitcoins. As bitcoins são uma moeda virtual que não é emitida por um banco central de nenhum governo. Pelo contrário, é “criada” por um qualquer utilizador que tendo um software desenvolvido para o efeito pode produzir bitcoins com a capacidade de processamento que tenha disponível. Contudo, para produzir bitcoins é preciso uma grande quantidade de processamento, um computador pessoal típico, poderá trabalhar mais de dois anos, sem conseguir produzir nenhuma bitcoin. Assim, são tipicamente redes de computadores ou servidores muito poderosos a produzirem estas moedas.

O preço da bitcoin tem vindo a aumentar e espera-se que continue nesta trajetória essencialmente por três razões. A primeira é que, ao longo do tempo, vai sendo cada vez necessário mais processamento para produzir a mesma quantidade de bitcoins. Segundo os protocolos desta moeda, uma determinada quantidade de processamento rendia 50 bitcoins em 2012, 25 em 2015 e 12.5 em 2016. Isto faz com que cada bitcoin seja progressivamente mais valiosa.

A segunda razão é cada vez mais instituições aceitem bitcoins como pagamento e, portanto, a sua utilização e procura está a ser progressivamente maior. Por exemplo, a Virgin Atlantic já vende bilhetes pagos em bitcoins.

Finalmente, por permitir que os seus utilizadores se mantenham não identificados (apenas com identificações virtuais), há bastantes indícios de que poderá estar a ser usado em situações ilícitas. Obviamente, neste caso, e por estar fora do sistema financeiro regulado, poderá haver uma grande procura de bitcoins para fazer pagamentos fora do sistema bancário normal.

Quais considera serem os desafios para a democratização deste formato de pagamento?

Há alguns riscos no uso da bitcoin que, para já, ainda impedem que a sua utilização esteja democratizada. Em primeiro lugar, ainda é uma moeda altamente volátil, cujo preço se tem vindo alterar em diversos momentos e, portanto, manter poupanças nesta moeda é altamente arriscado.

Em segundo lugar, não é uma moeda reconhecida oficialmente, o que cria vários problemas do ponto de vista fiscal e na forma com os negócios são conduzidos no dia-a-dia. Contudo, cada vez mais empresas começam a aceitar bitcoins como meio de pagamento.

blockchain
Que novas oportunidades as moedas virtuais trazem ao comércio face às restantes opções?

Dado que as bitcoins fazem parte de um sistema monetário que não envolve a grande maioria dos bancos, permitem que as empresas não paguem nenhum tipo de taxas sobre as transações, o que teoricamente é positivo para o setor empresarial. Contudo, terão que existir ainda bastantes desenvolvimentos no modelo das bitcoins para que possam ser facilmente utilizáveis e para que as vantagens da sua utilização suplantem os riscos e dificuldades.

Quais os riscos e as vantagens para um negócio de retalho de disponibilizar esta forma de pagamento?

As bitcoins não são nem regulamentadas nem supervisionadas por nenhum organismo internacional. Assim sendo, não há qualquer legislação que proteja os seus utilizadores, pelo que são estes que suportam o risco de todas as operações.

Por exemplo, em caso de roubo digital de uma carteira de bitcoins não há forma de apelar a nenhuma instituição oficial no sentido de ser ressarcido. Ao mesmo tempo, poderão haver alterações muito rápidas ao valor das bitcoin, pelo que representa um risco de desvalorização repentina.

Qual o nível de adesão deste formato de pagamento por parte das lojas de retalho e por parte dos consumidores em Portugal?

Apesar de não haver números concretos, em Portugal a utilização ainda deverá ser ainda muito reduzida. Nem do ponto de vista dos consumidores, nem do ponto de vista dos negócios há ainda grandes incentivos para que a utilização desta opção monetária se generalize.

Uma das condições que mais afasta os utilizadores da bitcoin é a falta de controlo. No entanto, muitas entidades bancárias já chamaram a atenção para o tema da regulamentação da bitcoin. Quais os desafios atuais para a regulamentação desta moeda?

A bitcoin é uma moeda internacional e existente apenas na Internet. Assim, não há nenhuma jurisdição que a possa regulamentar. Esta é a principal dificuldade, na regulamentação da moeda e das transações que a usem.

Além disto, não está claro que os próprios fundadores da moeda a queiram regulamentar, antes parece até que preferem mantê-la absolutamente disponível sem qualquer restrição a todas as pessoas, preservando todas as transações sem nenhum custo ou regulamentação associada.

Deixe aqui o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *