O negócio dos produtos perto do fim de vida

Chama-se GoodAfter e é o primeiro supermercado online em Portugal a comercializar bens em condições de consumo mas que já não têm lugar nas prateleiras dos pontos de venda físicos e cujo destino seria muito provavelmente o lixo. Chantal de Gispert, co-fundadora do GoodAfter.com, inspirou-se em projetos semelhantes com provas dadas nos países nórdicos que conferem mais um ciclo de vida a produtos alimentares, como conservas e enlatados, e não alimentares, como produtos de limpeza e higiene pessoal, por exemplo.

O supermercado virtual não vende produtos fora do prazo de validade, mas sim bens que se encontram perto ou fora da data preferencial de consumo, a data até à qual as marcas asseguram a sua qualidade ótima. “A data de consumo mínima estabelecida pelos fabricantes nada tem a ver com segurança alimentar tanto que estes produtos podem ser comercializados de forma legal”, garante a responsável.

Os preços deste supermercado virtual são em média 50% mais baratos do que os praticados nos tradicionais supermercados, mas os descontos podem ir até aos 70%. Os consumidores têm acesso a um sortido superior a 300 produtos de mercearia, saúde e bem-estar, bebidas, produtos para o lar e para o automóvel, entre outros.

O projeto, pioneiro em Portugal, demorou um ano a sair do papel e conheceu a luz do sol precisamente no ano em que se assinala o combate ao desperdício alimentar. A empreendedora lançou a plataforma, também disponível no mercado espanhol, em junho deste ano, depois de estruturar a ideia, desenvolver a plataforma e contactar as marcas e todas as entidades envolvidas em matéria de fiscalização e validação, como a Direção Geral de Alimentação e Veterinária e a ASAE. O investimento, não divulgado, permitiu a criação de seis postos de trabalho diretos.

Três meses após o lançamento, a plataforma evitou o desperdício de 5,5 toneladas de produtos, ou seja, o mesmo é dizer que a plataforma comercializou esta quantidade de bens de consumo. Permitiu ainda eliminar a poluição relacionada com a eliminação destes produtos. “A não produção de 5,5 toneladas de resíduos, de acordo com o mix de emissões LIPOR 2015, leva à não emissão de 3,67 toneladas” de gases com efeitos de estufa, sublinha a empreendedora.

Loja física em estudo

A empresa negoceia a aquisição dos produtos diretamente com os fabricantes e as marcas. A primeira plataforma logística para armazenar e fazer o picking dos produtos, de onde seguem as encomendas em direção aos lares, abriu em Vila de Conde, mas o projeto cresceu tanto em três meses que a empresa mudou-se para um armazém no Porto, localizado no Centro Empresarial do Porto. “Este novo espaço poderá crescer à medida que o projeto for evoluindo”.

Já instalada na nova plataforma logística a empresa abriu um ponto de recolha, onde os clientes podem levantar as encomendas no próprio dia que fazem a encomenda online. A seleção e o pagamento continuam a ser feitos no site. No caso dos consumidores que preferem a entrega no lar, o transporte é gratuito para encomendas superiores a 49 euros.

“O ponto físico de recolha é o primeiro passo e o primeiro teste na materialização de um espaço físico. Nesta fase de arranque, não queríamos despender demasiada energia e recursos na criação de um supermercado convencional. Por isso, lançámos a Click&Collect Store, algo que não é tão complexo e exigente como um supermercado tradicional. Vamos analisar a recetividade a este método para perceber quando e como transitar para o modelo ‘tradicional’ de supermercado, mas com benefícios adicionais para os consumidores”.

A plataforma conta atualmente com 5000 clientes registados, a maioria são mulheres com uma idade média de 30 anos. O gasto médio é de 35 euros. “Os clientes são muito fiéis, voltam a encomendar após a primeira experiência. Procuram sobretudo oportunidades de negócio que lhes permitam poupar na fatura do supermercado ao final do mês”.