Entrevista a Carlos Teresa Heredia, Director-geral do Comércio e Indústria da Junta de Castilla y León e CEO da Excal

“O agro-alimentar é um dos principais valores exportáveis de Castela e Leão”

As lojas do El Corte Inglés (Lisboa e V.N. Gaia) serviram de montra à acção de promoção da região de Castela e Leão. Ao todo são 19 empresas que pretendem reforçar a presença dos produtos da região em Portugal.

Presente em Portugal para a mais recente acção promocional dos produtos da região de Castela e Leão, Carlos Teresa Heredia, director-geral do Comércio e Indústria da Junta de Castela e Leão e CEO da Excal, falou com o Hipersuper, admitindo que não se trata de concorrência, mas de complementariedade entre os produtos da sua região e os portugueses.

Hipersuper (H): A região de Castela e Leão apresentou recentemente uma variedade de produtos regionais de vários empresários. A que se deve este interesse, súbito ou não, no mercado português?
Carlos Teresa Heredia (C.T.H.): Portugal é, actualmente, o primeiro cliente do sector agro-alimentar de Castela e Leão. O nosso interesse neste mercado é óbvio, não só pela proximidade geográfica, mas também pelas grande semelhanças culturais, gastronómicas e tradicionais existentes entre ambos. Prova desse interesse é a delegação da minha região que represento em Lisboa e que serve de ligação entre as nossas empresas e o mercado português, cooperando com os nossos empresários na resolução de dúvidas administrativas ou legais, tramites alfandegários, organização de eventos, etc.. Desde há anos que o Governo da região de Castela e Leão, em colaboração directa com os nossos empresários, desenvolve campanhas promocionais para dar a conhecer os nossos productos ao consumidor final e, assim, à distribuição e importadores. A campanha que agora iniciamos no El Corte Inglés de Lisboa e Vila Nova de Gaia é o último exemplo. Além disso, realizamos campanhas de promoção através da organização de missões, showrooms, participação massiva em feiras como a Alimentaria Lisboa. No fundo, acções promocionais que, segundo indicam os resultados, alcançaram os objectivos.

H: Que mais-valias trazem estes produtos a um mercado que possui muitos dos mesmos produtos e de qualidade? Diferenciação, inovação, tradição, novidade?
C.T.H.: Penso que não se devem fazer comparações. Não só acredito, como conheço, por experiência própria, a grande qualidade e riqueza dos produtos agro-alimentares produzidos em Portugal. O que acontece é que, num mercado global como o actual, os produtos agro-alimentares ou de qualquer outro sector, partilham espaço e mercado. A concorrência é benéfica, faz-nos melhorar, mas acredito que os nossos produtos e os produtos portugueses podem ser complementares. Essa diferenciação de que fala, a inovação, qualidade, é fruto desse mesmo mercado global, dessa concorrência, misturada com uma tradição gastronómica de séculos que fez de Castela e Leão uma referência a nível internacional. A tradição não está em contradição com a inovação; as exigências de mercados tão diferentes fizeram com que as empresas de Castela e Leão adaptassem os seus próprios processos produtivos à procura existente. Naturalmente que existem produtores tradicionais que tiveram de renovar-se tanto no que diz respeito a produtos, como em relação aos sistemas produtivos. É disso que se trata precisamente, de inovar para concorrer, inovar para crescer, inovar para fazer algo nos mercados internacionais.

H: Porque razão escolheram o El Corte Inglés para o lançamento desta iniciativa? Simplesmente por ser um retalhista espanhol e por ser mais fácil a introdução dos produtos por esta via ou porque ainda não estabeleceram contactos com os restantes retalhistas a actuar em Portugal?
C.T.H.: É conhecido que o El Corte Inglés é uma referência como grande centro de distribuição em Espanha há muitos anos e começa a sê-lo, também, em países como Portugal. Devemos ir sempre de mão dada com os melhores e, neste caso, acredito que não poderíamos ter melhor porta de entrada em Portugal que o El Corte Inglés. Referência, também, para a entidade pública Ade Internacional EXCAL, responsável pela promoção internacional dos productos e serviços da região de Castela e Leão, que dispõe de um programa denominado Grandes Contas, cujo objectivo é a comercialização dos nossos productos em grandes centros de distribuição internacional como o El Corte Inglés, Carrefour, NK, etc., e com os quais temos trabalhado em países como Itália, Roménia, Suécia, México ou Estados Unidos da América, entre outros.

H: Referem, na vossa comunicação, que Portugal é um dos principais destinos dos produtos agro- -alimentares de Castela e Leão. Quais são as quantidades exportadas para Portugal em valor e volume?
C.T.H.: Nos últimos anos ultrapassámos os 300 milhões de euros em volume de negócios na exportação de produtos agro-alimentares para Portugal, o que corresponde a uma crescimento superior a 12% face a 2009. Quanto a produtos, a oferta vai desde carne fresca de vaca, porco ou borrego, até aos produtos curados, queijos, confeitaria industrial e um número alargado de produtos relacionado com este sector.

H: Referem também que Portugal é um dos principais destinos devido às suas semelhanças culturais e gastronómicas. Isso faz-me regressar novamente à questão da semelhança entre os vossos produtos e os portugueses. Como vão comunicar a diferença entre eles?
C.T.H.: Reforço o que disse anteriormente, não se trata de evidenciar diferenças, mas fazer deles produtos complementares sempre com base na qualidade.

H: Vivendo Portugal actualmente uma conjuntura de crise, pensam que os produtos da região de Castela e Leão terão adesão por parte dos consumidores portugueses?
C.T.H.: Acredito que sim. Por tradição, inclusivamente cultura, tanto espanhóis como portugueses dão muito valor à alimentação, à respectiva dieta. Podemos divergir noutro tipo de produtos, mas acredito que nos produtos alimentares procuramos sempre a qualidade.

H: De entre os produtos apresentados quais os que terão maior potencial de sucesso?
C.T.H.: Não gostaria de destacar nenhum produto em particular. Quero, contudo, assegurar que qualquer dos produtos das 19 marcas presentes nesta acção de promoção não vai defraudar o melhor gourmet.

H: A balança comercial apresentada entre Castela e Leão e Portugal é bastante favorável à região espanhola. A que se deve este facto: à falta de produtos exportáveis por parte de Portugal para a vossa região ou a uma maior adesão por parte dos portugueses aos vossos produtos?
C.T.H.: Há que ter em conta que o sector agro-alimentar é uma das principais indústrias de Castela e Leão. Estamos a falar de um dos principais valores exportáveis e creio que a diferença pode estar precisamente neste ponto. As exportações de Portugal para Castela e Leão podem ser mais diversificadas e essas diferenças variam de acordo com os sector de produção.

H: A balança comercial indica também um crescimento de 12% favorável a Castela e Leão. Qual o valor estimado para o ano 2011 ao nível das exportações de Castela e Leão para Portugal?
C.T.H.: Se continuarmos com a tendência, acreditamos que as nossas exportações manterão um crescimento sustentado e, inclusivamente, superior caso a saída da crise seja mais evidente e antecipada.

H: Quais as empresas de retalho que irão contactar para a comercialização dos vossos produtos?
C.T.H.: Neste caso são as empresas que contactam os produtores de Castela e Leão. Nós colaboramos ao tentar adaptar a oferta à procura e damos visibilidade através de acções de promoção que desenvolvemos, neste caso, no El Corte Inglés. Naturalmente que os nossos vinhos, enchidos, patés ou queijos são os produtos estrela que interessarão a qualquer supermercado ou loja alimentar portuguesa.

H: Esperam ter adesão por parte dos retalhistas, uma vez que nota-se uma clara preferência por parte destes nas Marcas Próprias?
C.T.H.: Não só esperamos como estamos convencidos que assim acontecerá. Qualquer português poderá adquirir produtos de Castela e Leão no seu País, agora no El Corte Inglés, mais tarde em qualquer loja que ofereça produtos de qualidade.